quarta-feira, 8 de março de 2023

assumo: nunca é minha intenção ser clara

Eu nunca vou conseguir explicar isso que a gente sente uma pela outra, a intensidade dos polos positivos e negativos desse relacionamento, ex relacionamento, quase relacionamento, do quanto isso dá choque, do quanto me relacionar com ela nessa frequência ainda impacta às vezes na minha vida. Mas ela é a única mulher que já esteve na ponta dos meus dedos que foi capaz de arrepiar meus pelos somente em um toque ligeiro no braço, simples, sem esforço, totalmente despretensioso, ela rapidamente me rouba atenção e o ar, me envolve, se mistura em mim, aparece do nada e o nervosismo persistente ano após ano, é sempre como se fosse inédito pra mim, ela sequestra meus pensamentos, dilata a pupila, me faz esquecer o mundo à minha volta, aflora sentimentos bons e me faz derreter entre os braços e abraços dela, me faz expressar sentimentos claramente como ninguém antes, me beija subitamente e faz com que eu seja totalmente capaz de reconhecer as expressões de amor no rosto dela. Veja. Ela é doce comigo e deixa minha vida leve, quando quer. Eu sou o mel na boca, no corpo, doce mas tão doce que eu não ligaria mesmo de comer pro resto da vida. Ela é a sorte que eu não tenho, mas é o pecado que eu me dou ao luxo de cometer sempre que possível. Sem erro.
Eu não sei explicar nós duas. Não dá.
Eu não sei explicar de verdade e também não sei se quero. Se perderia o encanto, o mistério. Eu não consigo definir o sentimento em palavras porque estas podem ser interpretadas de diversas formas diferentes e eu prefiro que ela só seja livre pra sentir assim como eu, sem interpretações. Só amor. Sem fazer dela meu troféu depois de tudo que passamos e sou bastante orgulhosa disso. Sem mais retaliações pueris. A idade me deixou mais paciente em relação a tanta coisa que nem eu mesma me reconheço. Então eu volto e a gente se conhece tudo de novo, aos poucos, sem pressa. Já chegamos aqui, não é mesmo?
É isso.
Entrei no elevador com ela pela enésima vez, divertindo a equipe de segurança pelas câmeras e é a segunda só esse mês... que dupla hein? Eu sempre senti que nós nos reencontraríamos em algum lugar da nossa maturidade. Hoje eu sei muito bem pelo que eu busco. Mais uma noite, outra manhã, mais uma trepada maluca com ela de novo, e mais outra, e na terceira eu já voltei a ser a maior fã que ela já teve, na quarta vez algumas horas depois, eu explano que acho deliciosa e maneira essa reboladinha, quando ela goza e sorri pra mim em seguida eu já tô tão apaixonada que eu sinto que me casaria com ela, me sinto feliz o dobro, pra comemorar: algumas taças de vinho e dois tragos na sacada e a gente fode gostoso tudo de novo, pra manter o frescor das memórias celulares e afetivas. Manutenção, sei lá. Esses momentos explicam meu vício, todo vício é foda de largar e eu sou muito tendenciosa com o que me faz mal, ignorando que eu vivo com ela uma parada de amor sinistra e gosto de esquecer o quanto isso me prejudica. Pela manhã tem café com paixão, doce pra caralho, sem crises e aí vem mais outra noite, tudo de novo, ela pede pra eu ficar mais um pouco e pra me fazer durar mais vinte e quatro horas ao lado dela ela me suja e lava minhas roupas, um dia inteiro nua desfilando pelo apartamento dela, ela ciumenta, me pede pra sair de perto das janelas, a mesma coisa, mais um ciclo, hoje eu me permito morrer de saudade, matar vontades. Do jeito que for, não me interessa. Se eu quero, ela quer... qual o problema nisso? Os beijos matinais dela ainda tem gosto de solidão, mas ainda assim eu escolhi não deixar mais espaço pros momentos de palavras não ditas, eu não quero perder mais tempo imersa no silêncio que é a minha vida longe dela. Eu, ainda, acho que o caminho está errado... Mas à essa altura só devo agradecimentos à má sinalização da estrada por me fazer chegar até aqui - de novo.



Share:

0 comentários: