quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

ladra de brisa

Eu sou extremamente fã de vários detalhes que eu capto daquela mulher. Detalhes pessoais e pessoalmente eu constato: que mulher... Pouca fala e muito tato. Detalhes tão dela, tão nossos, em sua intimidade quando ela acha conveniente me incluir, e também alguns detalhes de quando ela invade e rouba a minha. Ela sequestra meu tempo, e eu cedo mais horas de bônus. "Do nada?", do nada porque se for pra ser com ela só é válido se o sangue dela estiver quente, "né ô sua vagabundinha do caralho? Filha da puta."
"Do tipo que você gosta..." - ela retruca.
Suja. Filha da putinha.
E com ela...do nada, é sempre do nada.
Mas também não é como se eu não me fizesse chegar até a porta do apartamento dela com meus próprios pés, não é como se eu não conhecesse muitos dos pontos fracos dela e não jogasse sujo até ela querer muito me pegar e não é como se eu não tivesse em plena (ou quase) consciência no exato segundinho em que meus dedos entram nela. Sempre foi vontade própria, sempre foi consentimento. E essa vontade, vez ou outra, é mútua. Insuportavelmente mútua. É quase que como um pedido do meu corpo.
Mas eu, ainda assim, nunca sei porque eu venho, além de eu ter esse defeito de ser tão sexual.
Ela nua é impactante num nível de quase conseguir me deixar nervosa, perdida mesmo.
Algumas taças depois, hoje eu vou de on the rocks, ela vai primeiro de sentada, já largo meu copo de lado, em seguida eu aciono uma bonafont e duas balas e ganho uma cavalgada braba, um, dois ou talvez três ratata e acho que até o quarto do lado tá escutando os pápápá. Ela lambe minha boca parecendo uma gata e solto no bigode que ela de cara na parede tomando de costas é o detalhe que eu mais gosto de lembrar.
Capto e guardo momentos assim.
Guardo sim, mas ainda bem que eu sou um peixe com memória reduzida e resumida a oito segundos, e uma vontade maluca de fabricar memórias novas. "Eu vou pra minha casa depois que você gozar...". Ela goza uma, eu gozo duas... Amanhã é outro dia e eu queria de verdade perder essa mania zuada de preferir lidar com tudo que eu sinto e com o que eu deixei de sentir só depois, sem falar que isso infelizmente me trouxe a sensação de que eu deveria ter sentido mais, mas que se foda "que se foda". Não é possível que eu seja a única pessoa que procrastina até esse rolê de lidar com emoção, situação, tanto faz. Eu tô aqui... E aparentemente eu optei por me auto sabotar fingindo que eu só vim porque tenho a mania de querer fazer ela sorrir. E eu sei disso, mas eu mesma me induzo ao erro, como pode? Às vezes eu sou muito comédia.
Eu sou muito, muito boa em me manter distante, só que quando eu burlo minhas regras, quando eu me presto ao papel de atravessar qualquer espaço geográfico por ela, e quando ela me olha com aquele olhar só dela... Aff. Quando eu tô com ela é como se os erros que nós temos em comum nunca tivessem existido, e de fato: depois de (supostamente) perdoado nenhum erro deveria continuar existindo. Vai saber o que me dá... Ainda bem que eu consigo separar um tesão vívido de um sentimento que não a pertence mais e sendo bem sincera eu acho que se eu tirar a possibilidade de uma foda casual fácil e boa de cena, na cabeça dela nada resta. Portanto sendo assim... peço licença ao sentimento morto e cedo espaço pra confessar que eu viajo nela mais do ela viaja em qualquer droguinha dessas que ela se entope e se amarra. "Se amarra em mim?" "Eu sou amarradona em você, desde sempre..." "Não é verdade...". Ela para, me encara e sorri "Eu sempre fui.". Há quanto tempo a gente já não tem essa discussão? Vamos abstrair, é ela afirmando sentir e eu entrando em estado de negação. Tô nem aí, mas mesmo meu mecanismo de defesa trabalhando muito bem, eu não fico menos encantada com tudo que ela faz e mesmo que eu não tenha alimentado minhas expectativas, ela nunca me decepciona na expressão que faz quando eu falo olhando nos olhos que ela não passa de uma "putinha com a buceta muito, muito gostosa". Eu adoraria ser capaz de acreditar nas falas dela sobre amor, mas eu não vejo nada além de uma vontade que nunca passa de uma batida forte sem parar na xota (mas não é?). Ela sabe que achou quem gosta o dobro que ela, eu não gosto de falar não portanto não falo. Ela fala meu nome de um jeito delicioso enquanto me fode e eu noto que ela adora me olhar e sorrir, ela adora sentar no meu colo, arrumar a gola da minha polo, tomar do meu copo, me cercar e dar o bote... É esse o pique. Tá estampado na cara dela, escrito mesmo e com todas as letras em neon piscante que ela só volta pro meu colo porque quer muito um entra e sai, entra e sai, entra e sai, tiro a mão de dentro e dou o primeiro tapa na cara, é esse o caminho e eu repito tudo... É tapa na bunda, tapa na cara, vou fazer ela gozar sem ar porque é o que ela pede e gosta mesmo. Não é incrível o quão perfeito é o encaixe da minha mão no pescoço dela?
E foda-se.
Ela não quer ser suja? Permita-me ser imunda.
Por isso que a gente combina... Pelo menos nesse ponto de vista dá pra aceitar que a gente combina.
Eu gosto pra caralho de cada uma das sentadas lentas, enquanto tiro a roupa dela me sinto desembrulhado um presente, bem devagar, tudo bem devagar... porque eu adoro observar enquanto eu entro, pra eu sentir ela molhando, e eu juro que se hoje ela ficar encharcada do jeito que eu gosto vou recompensá-la deixando como? Gozada e bamba. "Eu só quero buceta". Direto e reto.
Eu chamo no probleminha e ela não nega. 
"Combinado?"
Não foi pra isso que eu vim?
Não foi pra isso que ela me chamou?
Bandida do caralho.
Ela levanta e dá mais um tiro, "Desde quando você cheira?", ela me ignora e me serve outra dose. Eu gosto de tudo: da luz, do whisky, da brisa e dela ali. Do cheiro que ela tem depois que goza, do gosto, das expressões tão lindas que minha língua e o tesão dela desenham tão perfeitamente naquele rosto. Beira o inesquecível. Eu sei que eu vou esquecer... Daqui uns oito segundos... Por isso escrevi essas linhas pra me lembrar.
Eu fecho os olhos.
Respiro fundo.
Depois mais fundo.
Nada faz acalmar o coração agitado dentro do peito. "Eu vou embora". Ela me olha com olhar de maré braba. "A tempestade que chega continua sendo da cor dos teus olhos..."
Não fecha o tempo. desgraçada do caralho... Não fecha o tempo. - Torcida mental.
Não sei se é ansiedade, ou a cocaína e todos os algo mais. Ou o combo do desespero. Quando nota que não me afoga, ela joga baixo e me pede beijo, me pede pra ficar... Ir embora com ela nua e me pedindo pra ficar é o mesmo que tomar uma medida drástica.
Eu ainda não sei porque eu vim, e não é nem reclamação... Eu... Só... Não... Sei... Porque... Eu... Vim. Mas sei que sempre que me dou conta eu aceito o convite dela e me faço presente aqui, dentro do campo visual dela, permissiva, oferecida, debaixo das digitais dela, presa entre os lábios dela, sentindo a respiração quente misturado com gemidinhos no pé do meu ouvido. Minhas mãos pelo corpo dela já tem se tornado algo praticamente instintivo.
Parece que tudo sempre vai ser sobre ela. Os textos, as vontades, as coisas todas. Acho que mesmo que eu gire o mundo ao contrário tudo ainda sempre vai ser sobre ela, desligo o celular, ela é a única mulher que me deixa off pro mundo.
"Eu nem sei porque eu vim..."
Ela sorri um sorriso que vez ou outra me faz esquecer o quanto essa maldita sempre foi a maior ladra de brisa que já existiu.
Como ela não há outra e hoje ela é a única que eu quero ouvir pedindo pra eu meter mais rapidinho, mais forte, um dedo a mais e um "pode ir mais forte...".
É... sinceramente&diretamente hoje foi só pela foda dela que eu vim.



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