quinta-feira, 23 de maio de 2019

tengo un solo corazón

Sinto saudade, mas não sei do que, de quem, de onde....
Minha saudade já não tem um rosto, um nome, não tem a cor dos teus olhos e muito menos cheira como teu perfume barato. Mas não deixa de ser uma saudade recorrente, não me larga... Já não sei nem sequer porque sinto, mas sinto. Sem parar. Dolorosa e impiedosa, quase que fatal, me torturando, rasgando meu peito de dentro pra fora. Vem em dias banais como este. Invade meu peito que passa a arder e clamar por um socorro que eu sei que não virá.
O vento frio que toca minha pele me faz lembrar o quanto eu tenho me sentido longe. Mas longe do que? É saudade. Mas saudade do que? Deus... Saudade de quem? Saudade de você? Saudade sua não é, reluto, não pode ser... Ou pelo menos não deveria ser. Eu lhe deixei pra trás. Parti pra longe, comprei uma passagem para o trem das 19h e decidi partir sem rumo. Passageiro calado e leviano que escreve poesias, usa drogas e bebe muito. Eu não carrego fotos, lembranças, malas, sorrisos e nem sequer um sobrenome. Como ter um sobrenome se sem você eu sequer tenho um nome? Sou metade de mim, o resto. A pior metade. A outra metade eu deixei contigo quando você costumava ser o meu abrigo, meu ponto de chegada. Hoje eu não carrego nada, só que mais leve também não consigo me sentir, a saudade é o que mais pesa. Eu estou tão longe daqueles ventos que os ventos daqui me fazem sentir estrangeira na minha própria casa: em mim. Meu corpo não parece me pertencer. Um grande boneco branco feito de carne, ossos, saudade e eletric ink. É como se eu tivesse adotando uma nova alma e personalidade pra suprir o vazio desse corpo. Meu vazio mental. Meu vazio intelectual. Meu vazio existencial. É como se meu corpo estivesse rasgando e se dividindo entre o ser e o não ser.
Mas se quer saber, eu nunca desci daquele trem, eu nunca simpatizei com a voz fria que anuncia as estações, eu nunca coloquei meus pés nos terminais lotados de gente que tem por quem esperar, eu não tenho alguém a minha espera. Eu continuo aqui, vagando entre os vagões na espera de um sorriso, de um bom dia que me inspire uma nova perspectiva de vida. Todos tem pelo que viver. Até a moça da voz robótica que dá nome às estações deve ter um sorriso a sua espera quando volta pra casa. Eu ainda sinto saudades de voltar pra casa, deve ser isso. Perdi o toque, perdi o rumo e já nem sei se ainda tenho um lugar onde estejam plantadas minhas raízes. Não há ninguém a minha espera, e eu entendo até porque nem eu mesma espero nada de mim. Mas esteja feliz onde você estiver querida, te orgulha de mim! Eu ganhei o mundo, e hoje não tenho nada além de saudades, carimbos e souvenirs.
Contei esta história a tantos outros passageiros deste trem, mas eles não entendem. A frieza domina as pessoas. Todas as pessoas que eu encontrei de passagem por mim me disseram "é a vida". Como assim... a vida?
Me responda quem puder: o que é a vida?

O que é a sua vida? 

Minha vida é um desconhecido dançando meio sem jeito no meio do salão, preso eternamente na questão de imaginar se você ainda vai dançar comigo se eu lhe estender a mão.


O que é a sua vida?


Share:

Talvez você também goste desses:

0 comentários: