São Paulo, 02 de Julho de 2014.
Você estava certo, Jair... Ela não ficou.
E desculpe-me por ter duvidado das suas palavras, meu caro.
Escrevo-te pra
dizer que ela está agora em qualquer outro lugar onde há toda felicidade do
mundo jogada aos seus pés, acredito que era exatamente essa a necessidade dela: se alimentar de amores vazios que ela encontra facilmente por aí, ela precisa queimar olhares pra sentir-se bem e o máximo que eu poderia queimar com ela é um baseado, convenhamos.
É, eu continuo aqui, presa na cidade cinza. Aqui não tem cor de nada, não tem o sorriso dela achando
graça das minhas manias idiotas e nem o perfume dela grudado nos meus poros.
Dos poros ao pó.
Acabou Jair.
Acabou e daqui não posso amar, aqui não tem mar,
aqui não tem amor. Não existe amor nem quando eu olho pra dentro de mim, Jair,
consegues tu imaginar o quanto isso tem sido desesperador? Uma grande tela branca sem sentido e sem rumo. Eu ando me
assustando com a superficialidade das coisas, eu queria ser daqui dessa cidade cinza, ser cinza também e entender porque
as pessoas não se olham. Elas se vêem, entende Jair? Mas elas não se enxergam.
O amor aqui parece invisível aos olhos de quem me vê, ou talvez de fato já não haja amor incumbido ao meu ser. Eu achei que o amor
fosse algo real, me digas tu meu velho: Tu já conseguiste tocar o amor? É algo palpável?
O amor tem um gosto? O amor tem uma vista bonita como olhar dentro dos olhos tempestuosos daquela mulher? Que som o amor faz? O amor tem um cheiro doce? Platão tinha razão
quando concluiu que o amor era uma grave doença mental? Não te esqueças de me
responder.
Eu continuo presa às correntes que ela me impôs, a chave ela deve ter mastigado e
engolido junto com um pedaço do meu coração. Eu acho cafona sofrer de amor e eu
já nem tenho mais idade pra isso, convenhamos. Mas ela chegou ao fim e eu ainda estava na metade, na metade que ainda me pertencia. Pelo menos algo
em mim ainda me pertence, mesmo que tudo que me pertença sejam todas as coisas
que eu mais quero me desfazer. Por que diabos eu não lhe dei ouvidos e acabei
por colocar aquela garota num pedestal? Ela é fria, Jair, tal como Agosto. Ela
não levou sequer vinte segundos pra sair desta casa, dessa casa que era nossa casa, que tantas e tantas vezes a ouvi chamar de refúgio. Bateu a porta, me olhou com dó e disse que eu encontraria um novo amor. Sigo desacreditada de tais atitudes. Ninguém foge do refúgio, porra.
Vou encontrar qualquer outro alguém, eu sei Jair. Mais dia menos dia meu coração ainda vai esbarrar em algum outro novo sorriso por aí, mas por enquanto o máximo que
tenho feito é sessões de reapaixonamento enquanto releio todas as cartas que
ela já me escreveu na vida, e revejo os vídeos, as fotos, tudo. Malditas sejam estas cartas que ela escreveu e as memórias que ela criou com tamanha perfeição que agora não saem mais da minha cabeça, mil planos planejados por nós. Ela saiu pela porta e esqueceu de levar com ela tudo que me lembra ela, todo esse acumulo gigantesco de memórias e mais memórias. Malditas sejam as memórias daquela mulher que me persegue, me acua.
Diga-me: já
conseguiste pensar na resposta para minhas perguntas sobre o amor? Na minha
concepção o amor nada mais é que essas palavras que eu vomito por aí, mas que
se baseiam todas nela.
Eu nunca tive nada na minha vida, nem foco, nem rumo...
Nada. Vinha na estrada da vida há 200km/h quando bati no muro que é aquela mulher
e parei por ali. Grande coisa, tu vais vai dizer aposto. O amor, ou aquilo que eu chamo de amor, se deu mesmo quando ela
sorriu pra mim e eu me esqueci de perguntar qual era teu nome ou telefone, e depois me tocado disso, temendo que eu nunca mais voltasse a vê-la em uma nova oportunidade. Eu quase não acredito
que a encontrei. O abraço dela era um lugar só meu. Porto seguro, amor infinito, ou quase infinito. O amor era isso. O amor foi isso. O amor era
cada post-it colorido colado na parede do quarto porque ela sabia que minha memória era ruim, cada bom dia, cada novo olá, cada novo eu te amo. Hoje o amor se
ausenta em cada carta que eu nunca recebo, em cada sorriso que eu não vejo. Não me venhas com essa de que o amor é lindo, que o amor é algo bom, que o amor é como música. Por que tu nunca me disseste que o
amor tem prazo de validade, meu caro?
O amor acaba?
O amor realmente pode ser uma bossa, Jair. Ou uma bosta.
1 comentários:
Jair estava certo a ponto de voce parar de escrever?
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