Ao mesmo tempo com que a frequência consegue ser a maior delícia que nosso tempo livre nos proporciona, também consegue ser o maior erro, tudo na medida pra tornar cada fase da nossa história tão intenso pra nós. Ao ponto de não me deixar esquecer, romper, afastar, que não me deixa achar banal tudo que nós já vivemos em total sintonia, em total paixão, mó cota desse tempo todo que eu torci para que ela sentisse pelo menos parecido com o que eu sinto porque eu acho absolutamente tudo que envolve aquela mulher muito "uau". O encantamento bate um nível absurdo e atrai meu olhar repentinamente com tamanha espontaneidade que chega a ser engraçado. Ela sempre me teve 100%. Sem meio termo, nunca morno, nunca pela metade. Por inteira. Em cada encontro onde estive dividindo o espaço de tempo com ela, me doei para que ela pudesse ser feliz ali, comigo. Cada centímetro do meu corpo amou aquela mulher de uma forma inédita pra mim, única. Ela me faz entender o amor. As expressões, como guardar a preciosidade de um sentimento?
Toda vez que eu adentro a porta daquele apartamento do nono andar a gente cria um novo momento, reinventa um sentimento, recria uma felicidade artificial. Ignoramos tudo de ruim que já houve entre nós, nos perdoamos sem pensar duas vezes e colocamos, em conjunto, à quatro mãos a mais bonita máscara nas cicatrizes emocionais que ainda machucam e seguimos adianta, sempre assim. Sempre foi. Aparentemente é em total desrespeito ao meu sentimento que me permito voltar.
As máscaras caem pela manhã e tudo volta à mais complicada realidade, que ela é otária comigo, eu sou o dobro com ela e eu nunca achei que ela me amou de verdade, o que me traz de volta e que me mata na ausência ainda é a saudade, a vontade que eu tenho de tentar deixar tudo diferente, mais leve, menos tóxico. De vir pra voltar amanhã pensando menos nela. Eu fico vidrada em tudo que não me convém. Eu sinto saudades com ela ali, ao meu lado, comigo. Como explicar? Como entender que o ciclo se fechou e não voltar em busca de sexo? Mexendo num sentimento que já passou do tempo?
Ela tem expectativas muitíssimo irrealistas sobre mim, sobre como eu amo, como disperso, como me comporto e eu odeio, e por muitas vezes a opinião dela me atingiu como se eu fosse um pássaro e ela me abatesse em pleno vôo... E eu sei o quanto isso me deixa arredia. Distante. Mas quando eu não volto a saudade pesa igual como se um planeta tivesse indo em desacordo com a força da gravidade e caindo em cima de mim, mas eu preferia um planeta caindo em cima de mim pra ser honesta. Eu ainda desgosto de como sigo torcendo para sermos tão diferentes, mas somos iguais. Insuportavelmente iguais. Com infantilidades e idiotices iguais.
Odeio que ela idealiza um amor que ela nunca me deu, um romance que nenhuma de nós nunca propôs e agora eu não acho que isso funcionaria e agregaria nada, mas sinto como se a paixão me consumisse cuidadosamente, ainda.
Ela me disse que eu sou incapaz de esquecê-la. Tem coisas que eu faço só pra provar pra mim mesma que eu consigo. Filha da puta. Coisas assim me soam como desafios pueris.
A gente não vive dentro das tramas do Almodóvar - que ela tanto me ensinou à gostar - nem das páginas marcadas dos meus livros favoritos de soneto, de poemas, não vivemos dentro dos meus textos de paixão. Queria paralisar os momentos felizes que estão expostos nas fotos do aparador da sala. Vivemos e existimos porque eu mergulho na saudade e no tesão. Porque ela cede. Porque eu com sede, cedo.
Eu nunca consegui escrever um soneto sequer para ela... mas no fundo, ela ter razão que é foda.
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