quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Ninguém bate.

É quase natal, mais um.
Acho que de hoje até lá só restam mais vinte e um dias. Vinte e dois, disse Francisco. Nem sei se o nome dele é mesmo Francisco, mas sei que é quase natal.
Mais um.
Ainda não entrei no clima natalino e nem as pessoas, eu acho. Hoje estava indo para o trabalho e vi uma batida de trânsito. Foi rápido. Nada demais. O carro rodou na avenida, só foi meio estranho de ver. Um cara fechou uma senhora. Ele mandou ela tomar no cu, não achei de bom tom, fervi tão facilmente que por um milésimo de segundo tive vontade de chutar o retrovisor dele, tirar ele de dentro do carro pela janela. Fui consumida pela raiva, sempre sou, mas dessa vez foi tão rápido que eu imagino que todo pavio é muito, muito curto. Ele estava errado, mas com certeza quem tomou no cu foi ela. Não é a primeira batida que vejo ou participo, estar em um acidente é assustador, você se sente extremamente vulnerável, mesmo que não seja nada grave. Seu cérebro funciona mais lentamente, você não entende de primeira, precisa de alguns segundos, minutos pra assimilar. E fora meus sonhos recorrentes com aviões caindo, onde eu sinto o exato momento onde o avião toca o solo, sinto o chão tremer embaixo dos meus pés. Toda vez aviões caindo... Às vezes eu consigo sentir o calor da explosão também, geralmente minha temperatura corporal aumenta consideravelmente. Um looping de sonho há anos. Um saco. Nunca consegui entrar num avião com medo de que isso fosse algum tipo de aviso, presságio mesmo. Mas pode não ser porra nenhuma também. E que se foda.
Esse final de ano me proporcionou andar muito pelas ruas, evento pra evento, de shopping pra shopping. Todos os últimos quarenta dias de cidade em cidade, estado em estado e notei que não vi aquelas decorações natalinas extravagantes, tinha muito disso quando eu era mais nova. Não sei exatamente quando foi que sumiram as casas cheias de pisca pisca e imagens do Papai Noel em seu trenó com suas renas com nariz tão vermelho que parecem meus amigos que cheiram pó, acho que quase ninguém mais faz isso, ano que vem eu tenho certeza que vou morar fora daqui, desse caos, dessa bagunça e muito, muito longe da rota dos aviões. Talvez um novo ambiente seja diferente. Me traga algo diferente. Já seria ótimo que eu tivesse sonhos diferentes.

Minha mãe colocou uma meia na porta, uma espécie de enfeite natalino. Nunca entendi o porquê da meia, mas é sempre a mesma meia pendurada na porta. Meu vizinho de cima encheu a janela de pisca pisca. Eu acho esse japonês um filho da puta. Bela gambiarra para um belo filho da puta. Às vezes eu tenho vontade de quebrar a janela dele com um estilingue, mas sempre escolho as que ficam ao lado. Ou embaixo. Ele saberia que fui eu.
Sobre as luzes: Ele diz que são luzes de fada. Japonês filho da puta. É horrível, forma uma claridade no meu quarto e fica difícil de dormir. Mais que o normal. Transpassa a cortina blackout esse apaga e acende. Acende e apaga. E recomeça tudo de novo, e de novo e de novo. Um monte de luzes coloridas. Pisca. Pisca. Pisca. Qual é mesmo a finalidade, simbologia nisso? Há? Luzes de fada? As fadas não entram no meu quarto, as fadas são incapazes de salvar os aviões caindo dentro dos meus sonhos.
E as luzes... essas também não me livrarão de sentir nada disso. 
É.
Realmente o natal está cada vez mais próximo e as luzes de fada vão iluminar o meu quarto escuro.
Nesse natal não farei pedido algum.
É isso que eu mais peço: não querer pedir.
Não querer pedir por ela.



Share:

1 comentários:

Anônimo disse...

Eu peço por voce. No natal, ano novo... dia das crianças. Eu peço por voce. Todos os dias.