2h32.
A ansiedade me encontrou antes mesmo que o Sol pudesse botar as caras no Brasil e transformar essa noite em uma manhã fria e desanimada de uma segunda pós um final de semana mágico, regado a tudo que não presta, ao lado dela, vivenciando inteiramente momentos de intensidade ímpar... Eu não sei não... Um final de semana perfeito demais, por isso o meu pé atrás diz que daqui a pouco a claridade chega com uma vibe de segunda feira pra estragar e roubar o brilho dos últimos dias. Eu me protejo do que ainda não veio, do que às vezes nem sequer virá e é isso que é foda. Eu me antecipo porque eu a conheço bem até demais. Eu sei do potencial dela em qualquer quesito. Ela exerce a plenitude do seu livre arbítrio e eu eu sei disso. Sei que ela pode me fazer morrer de amores, sei que ela pode me matar de raiva.
Enfim.
Eu não conseguia dormir.
Eu também não conseguia ficar parada ou quieta, nada. Quis fugir daqui tão rápido quanto o Taz Mania dos desenhos animados que eu via, derrubar paredes, portas, atravessar montanhas... tudo. Quis sair daqui tão rápido que meu cérebro sequer teria tempo de registrar a ação. Quis estar em casa, nas minhas tardes sozinha, ignorando o resto do mundo, ouvindo lo-fi na máxima nos meus fones brancos, mas eu estava lá... Ao lado dela, numa cama macia, num clima muitíssimo quente entre a gente.
Ela... Ela... Ela... Ela. A mesma mulher de sempre. Ela. Eu estava mesmo ao lado daquela que ainda é meu maior amor veranil, que superou cada uma das estações que vieram.
Sei que pequei pelo excesso e agora estou aqui, semi bêbada, naquela rebordosa de final de rolê contestando minha existência e até a sanidade.
Caminhei um pouco pelo extenso apartamento branco e me senti um pássaro raro preso, atado e dentro uma gaiola inteira feita de ouro, confortável, não muito aconchegante, mas farta.. Mas eu não quero me permitir me sentir pertencente.
Busquei por ar puro e salvação, em vão. Eu ainda estava ali, cem porcento ali. Posturada, com a mente a milhão, mas ainda ali. Desaprendi a fugir e acho que de fato: agora sou um pássaro e não mais peixe, não mais rato. Eu perdi um pouco da minha perspicácia, eu acho.
Quando voltei pro quarto, ela nem sequer tinha se mexido, observei-a dormir por um momento. Pensei que gosto de vê-la dormir. Acho que sinto inveja porque ela dorme.
As curvas do corpo dela embaixo do lençol branco me soaram perfeitas, deliciosas, me fazem entender porque eu fico. Quis acordar aquela mulher pra falar que eu a amo, pra trepar, pra fumar um baseado, pra tomar só mais uma tacinha de vinho, pra dizer que eu vou embora, sei lá...
Eu só escrevo para que ela não se esqueça de mim, acho. Para que ela nunca se esqueça que eu ainda a amo, apesar da velocidade e do assombro do passar desses anos todos.
Ah, sei lá. Eu não sei qual é o contexto desse texto e tudo bem, tudo bem eu acho... E de qualquer forma, eu já vomitei sobre ela todas as palavras arrogantes de amor do meu repertório todo. Eu já nem tenho mais o que falar pra ela.
Acho que tenho medo depois de tudo, depois de tanto... Acho que escrevo para que nós nunca nos tornemos duas estranhas.

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