Três ligações perdidas com intervalo menor que duas horas. Juro que não me fiz de sonsa dessa vez, realmente não vi. Maluca do caralho, como eu gosto... O frio na barriga é inevitável quando vejo o número. Há quanto tempo ela não aparece? Sei lá... Talvez um ano depois da última vez. Eu já sei o que ela quer e com absoluta certeza não é me ofertar goela abaixo um pedido de desculpas. Ela é ótima nisso e eu sou ótima em fingir também.
Ela chega falante, me contando tudo de uma vez, embolada, parece que nunca aconteceu nada, se enrola, chega mais perto e se embola comigo, me abraça, me inspira, me expira, sorri, me beija transpirando saudade... Aninhada nos meus braços ela nem pergunta ou fala mais nada, eu que não vou ousar quebrar o momento, né? Nem preciso de resposta nenhuma. Ela me abraça como se nunca tivesse saído daqui. É coisa nossa, tipo um processo pra se reconectar, e a gente fica ali abraçadas alguns minutos, balançando lentamente ao som de uma música que só existe na nossa cabeça... Como se o mundo todo parasse pra que eu a admire,a reconheça. Ela continua linda, amável, uma voz tão calma que me acalma... Ela é a good vibes mais filha da puta que eu já conheci.
Demorou pra sentir saudade, né?
Tudo mudou.
Parece que ela cresceu mais uns centímetros, algumas tatuagens a mais e mudou a tonalidade do cabelo, sutil pra caralho. E ela ainda achou que eu não fosse perceber. A cortina antes vinho do motel agora é cinza quase chumbo e preciso dizer que até que enfim eles notaram a mancha de vinho d'uns anos atrás, me incomodava mais que sempre foder no mesmo quarto. E eu, observadora que sou, poderia listar muitas diferenças... Mas olympéa aqua com maconha continua sendo o cheiro dela e ela continua com aquela carinha linda de quem fode minha cabeça. Isso não mudou. Às vezes nem parece que nos perdemos no meio da história.
Na maior parte das vezes ela volta como se fosse a primeira vez, fode como se fosse a última, me olha e me beija como se fosse a mulher da minha vida, ela faz virar fumaça minhas gramas e eu ainda sou apaixonada pela companhia dela e por aquele sorriso matador.
Ela me pergunta se eu senti a falta dela, eu nem respondo. Ela já sorri porque no fundo ela já me pergunta sabendo da resposta, um oi dela e pronto: é o estrago feito na minha cabeça, é o desejo incessante de encontrar ela o mais rápido que eu puder, que ela puder... Em qualquer lugar. É o gosto do beijo e do corpo dela que automaticamente já vem na minha boca, minha mente problemática imaginando eu lambendo ela do pescoço até as coxas, a ansiedade só por imaginá-la nua. Às vezes soa repetitivo, mas não mais repetitivo que essa vontade louca de chegar logo... Eu não vejo a hora de vê-la de novo, já vai me dando aquele frio na barriga. Tem aquele sorriso que me faz sorrir, um cheiro viciante. Um beijo que faz meus pés saírem do chão. A gente encaixa tão bem que até minha vó pergunta porque é que a gente nunca casou. E eu só digo que: a gente não casa porque ela é Corinthians, eu sou Palmeiras. Eu sou barulho, ela é silêncio. Ela quer tudo, eu quero menos. Sou do mato, ela é menina da cidade. Ela é manhã ensolarada pique Rio 40º, eu sou da noite e da gandaia, Augusta. Sou flor, skunk, ela é cevada. Ela pensa na saúde, eu só penso em foder e dar uns dois. Ela quer tudo pra agora, e eu quero tudo pra depois. Ela é a paz que eu não tenho mais, eu sou o caos, revolta e desordem que a vida dela não permite ter. Ela é olhar que brilha, simpatia pura e eu a cara fechada, como ela mesmo diz "mulher do avesso". Ela é coração, eu sou mais razão. Ela é pressa, eu sou atraso, eu chego tarde e ela antecipada. Eu sou mais Bonnie e Clyde, ela Romeu e Julieta. Ela é calma com muitos diálogos requintados, eu sou pé na porta e soco na cara. Eu quero ela, ela quer a gente. Ela é tudo, eu não sei o que sou. Eu quero o mundo (com ela), ela quer amor.

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