sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

coisa nossa

Entro no metrô, olho o celular, sem sinal. Que saco.
Três ligações perdidas com intervalo menor que duas horas. Juro que não me fiz de sonsa dessa vez, realmente não vi. Maluca do caralho, como eu gosto... O frio na barriga é inevitável quando vejo o número. Há quanto tempo ela não aparece? Sei lá... Talvez um ano depois da última vez. Eu já sei o que ela quer e com absoluta certeza não é me ofertar goela abaixo um pedido de desculpas. Ela é ótima nisso e eu sou ótima em fingir também.
Ela chega falante, me contando tudo de uma vez, embolada, parece que nunca aconteceu nada, se enrola, chega mais perto e se embola comigo, me abraça, me inspira, me expira, sorri, me beija transpirando saudade... Aninhada nos meus braços ela nem pergunta ou fala mais nada, eu que não vou ousar quebrar o momento, né? Nem preciso de resposta nenhuma. Ela me abraça como se nunca tivesse saído daqui. É coisa nossa, tipo um processo pra se reconectar, e a gente fica ali abraçadas alguns minutos, balançando lentamente ao som de uma música que só existe na nossa cabeça... Como se o mundo todo parasse pra que eu a admire,a reconheça. Ela continua linda, amável, uma voz tão calma que me acalma... Ela é a good vibes mais filha da puta que eu já conheci.

Demorou pra sentir saudade, né?
Tudo mudou.

Parece que ela cresceu mais uns centímetros, algumas tatuagens a mais e mudou a tonalidade do cabelo, sutil pra caralho. E ela ainda achou que eu não fosse perceber. A cortina antes vinho do motel agora é cinza quase chumbo e preciso dizer que até que enfim eles notaram a mancha de vinho d'uns anos atrás, me incomodava mais que sempre foder no mesmo quarto. E eu, observadora que sou, poderia listar muitas diferenças... Mas olympéa aqua com maconha continua sendo o cheiro dela e ela continua com aquela carinha linda de quem fode minha cabeça. Isso não mudou. Às vezes nem parece que nos perdemos no meio da história.

Na maior parte das vezes ela volta como se fosse a primeira vez, fode como se fosse a última, me olha e me beija como se fosse a mulher da minha vida, ela faz virar fumaça minhas gramas e eu ainda sou apaixonada pela companhia dela e por aquele sorriso matador.

Ela me pergunta se eu senti a falta dela, eu nem respondo. Ela já sorri porque no fundo ela já me pergunta sabendo da resposta, um oi dela e pronto: é o estrago feito na minha cabeça, é o desejo incessante de encontrar ela o mais rápido que eu puder, que ela puder... Em qualquer lugar. É o gosto do beijo e do corpo dela que automaticamente já vem na minha boca, minha mente problemática imaginando eu lambendo ela do pescoço até as coxas, a ansiedade só por imaginá-la nua. Às vezes soa repetitivo, mas não mais repetitivo que essa vontade louca de chegar logo... Eu não vejo a hora de vê-la de novo, já vai me dando aquele frio na barriga. Tem aquele sorriso que me faz sorrir, um cheiro viciante. Um beijo que faz meus pés saírem do chão. A gente encaixa tão bem que até minha vó pergunta porque é que a gente nunca casou. E eu só digo que: a gente não casa porque ela é Corinthians, eu sou Palmeiras. Eu sou barulho, ela é silêncio. Ela quer tudo, eu quero menos. Sou do mato, ela é menina da cidade. Ela é manhã ensolarada pique Rio 40º, eu sou da noite e da gandaia, Augusta. Sou flor, skunk, ela é cevada. Ela pensa na saúde, eu só penso em foder e dar uns dois. Ela quer tudo pra agora, e eu quero tudo pra depois. Ela é a paz que eu não tenho mais, eu sou o caos, revolta e desordem que a vida dela não permite ter. Ela é olhar que brilha, simpatia pura e eu a cara fechada, como ela mesmo diz "mulher do avesso". Ela é coração, eu sou mais razão. Ela é pressa, eu sou atraso, eu chego tarde e ela antecipada. Eu sou mais Bonnie e Clyde, ela Romeu e Julieta. Ela é calma com muitos diálogos requintados, eu sou pé na porta e soco na cara. Eu quero ela, ela quer a gente. Ela é tudo, eu não sei o que sou. Eu quero o mundo (com ela), ela quer amor.





quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

concretado

Sorrio para o porteiro, dou bom dia. Abro o portão, passo. Atravesso o pátio, faço meu ritual de não pisar nunca na porra da tampa de metal da frente do meu prédio. +100 pontos. Entro já recolhendo as cartas lendo apenas os remetentes, nenhum sinal de você por ali. Cobrança. Cobrança. Cobrança. Normal. Tudo segue igual. Mais um dia onde não teve você visualizando meus stories escondida considerando que eu não perceberia, nem me mandando nenhum tipo de mensagem em nenhuma rede social. A sensação de alívio com um misto de agonia é recorrente. Me sinto fugitiva, prisioneira de algo que eu não posso permitir sequer que continue a existir. Continuo passando cada dia trabalhando minha meta de não ser tão filha da puta com você ao ponto de me arrepender depois, te fazer triste nunca foi minha intenção. Sigo ausente de quem me quer bem e isso segue sendo problema meu, sigo lendo horóscopo de jornais velhos e aprendendo fazer receitas em programas de TV ruins onde tem papagaios de plásticos que falam. Nunca fiz uma receita sequer.
Enfim... Alguém me disse que se leva 21 dias pra criar um novo hábito, extendi pra quatro ou cinco meses, sei lá... Nesse tempo aprendi que a saudade e lidar com sentimentos é uma lição diária de autocontrole... Às vezes eu me perco e não sei manter a calma e em outros dias eu juro que não penso em você. Você faz falta, assumo. Quase mesma falta e abstinência que eu senti quando parei de cheirar cocaína, mas nesse caso eu vomito saudade.
Roupas secas no varal no meio da sala, o café esfriou e a cerveja de ontem continua na pia e já parece um chá em temperatura ambiente, eu nem gosto de cerveja. A dona da marca da batom na boca da garrada também não me pergunte. Vagabunda curte vagabunda. O gato sumiu. Meu. Deus. Já nem sei mais com o que me preocupar. Eu sou feita dessas idas e vindas, lágrimas e gritos compostos por um ódio desnecessário.
Meu coração é atordoado demais, navegante que não aporta, não ancora. Nunca. Perturbação. Chama como você quiser... Desculpe, desculpe. Eu sinto como se a todo momento houvesse um leve descontrole emocional escorrendo propositalmente pelos meus dedos. Você me transbordou tanto que acabou afundando a embarcação. O mar é grande demais e o mundo em que nós vivemos também. Acredita em mim, eu tô bem. Juro. Eu fico bem quando estou sozinha. Espero que você continue brilhando como sempre brilhou.
Sempre dou um jeito, você sabe... É como se a minha vida fosse um imenso tabuleiro de xadrez onde eu tenho a incessante vontade de ganhar... Lembra quando eu te falei que quando eu não posso ganhar, eu analiso uma forma de conseguir roubar em qualquer jogo? E pode apostar, amor: quando mais distante eu estiver de você e de nós, eu tenho certeza que estarei ganhando ainda. Mesmo que usando qualquer método sujo para ganhar. À você: me perdoe por ter transformado o hábito de me manter distante de você mais viciante que não pisar na tampa de metal do meu prédio. Ao dia de hoje: +200 pontos.
À você, ainda: obrigada pela ausência.