quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Íntimo.

Respirei fundo enquanto tragava meu baseado na janela do quarto dela, um misto de álcool, cheiro de buceta, de foda bem dada, aquelas que a gente dá quando tá com saudade, de maconha com uma pitada de felicidade.
Do nono andar é possível ver quase tudo e meus olhos capturam de um tudo: o movimento da farmácia da esquina, os bêbados, os turistas, os atletas madrugadeiros e ela. Meu olhar é incapaz de perder um movimento sequer dela. É automático. Atraente mesmo. Arrasta meu olhar... É ela, né? Quando eu olho pra essa mulher ela ainda me surpreende um tanto. Como é que pode envelhecer tão linda, assim?
Sempre ela.
Sempre.
Sempre ela parecendo um sonho e saltando na minha vida, de madrugada em madrugada, de mês em mês. Há anos essa porra. E agora, honestamente, foda-se. Eu já me convenci que seremos isso porque é isso que estamos destinadas a ser. Somos nós. E ela me atrai e me impressiona ainda. Sempre. Me impulsiona a ser sempre mais filha da puta comigo, quebrar promessas e não olhar só pro meu próprio umbigo. Ela me convence.
Hoje, ainda e sempre. 
O ar úmido e a cara de colonial dessa cidade já nem me causam uma certa estranheza mais, nem mesmo os prédios tortos me impressionam mais. Mas ela... Ela me impressiona ainda. Em meio a tantos encontros, desencontros e tudo mais, eu sei que ela me chama pelo romance. E eu, suja, fico aqui pelas nuances de seu corpo nu, somos pura arte quando nos despimos do orgulho e tudo mais. É que eu sei lá, eu sou assim mesmo. Eu sou egoísta demais, na maior parte do tempo eu nem mesmo entendo sentimentos. Só às vezes quando eu olho pra ela eu entendo minha paixão que atravessa ano após ano, minha raiva, minhas projeções pessoais e minhas mágoas também.
Só que agora, eu já nem quero entender nada, na verdade. Eu só sei que eu penso nela demais. Eu acho que tudo que passa muito na minha cabeça é sempre demais e me causa um cansaço tamanho que nem que eu escrevesse um zilhão de palavras eu conseguiria explicar.
Mas como falar o que eu sinto? Repito: não sei colocar em palavras o quanto ele me desperta os instintos. Eu não sei explicar como ela me faz sentir tanto amor assim. Tanto de tudo.
Sei lá.
Quando ela fala comigo parece que ela me lança feitiços de encantamento puro, os beijos dela são como explosão de felicidade que eu sinto em todo o meu corpo, me conectando com o momento, ali. Sinto como se a felicidade do mundo inteiro fosse só minha... Toda vez que eu tô aqui, com ela, fumando meu baseado na janela e ela dorme... na mira do meu olhar e das minhas intenções.
Enfim.


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