domingo, 14 de dezembro de 2025

cru

Acho que hoje eu já nem gosto de você tanto assim, sabia?
Te olho.
Com toda profundidade de sempre.
E te vejo.
Te enxergo.
Sua pequenez intelectual agora me assalta os poucos contatos que ainda temos.
E eu acho tristemente banal sua maneira nada "uau" de enxergar o mundo todo e todo mundo.
Sei lá
Eu não sei se é a escassez de amor ou só porque... Eu te olho.
E acho que sua cor desbotou.


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quarta-feira, 26 de novembro de 2025

PNFCUPM,S? - parte oito

 8

No fundo da minha memória você ainda ecoa como uma história que não me escapa, mas que não se fixa no presente.
Eu queria ter você ao alcance da minha memória mais recente, mas... É isso que tenho agora.
Você aí.
Eu aqui.
O que eu tenho agora, flor? Só a essa coisa de lembrar de você, te querer um tanto, mas ter você sempre em pensamento, ausente.
Eu odeio a ausência. Eu odeio a distância, flor. Eu odeio cada um dos meus dias de saudade, de vontade, de ansiedade.
É isso que seremos pra sempre?
Uma lembrança distante, flor?
Isso dói. Igual uma dor de cabeça, basta eu lembrar de você e pronto. Dói.
Vai ver é o final do ano que se aproxima, que me deixa com saudade e mais emocional.
Você ainda lembra que pandas não fodem com ursos polares? Isso nunca fez tanto sentido, flor.
Me pergunto se você ainda pensa em nós, aliás eu me pergunto o que você pensa sobre nós.
Sei lá
Às vezes eu acho que já nem te conheço mais.


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sexta-feira, 31 de outubro de 2025

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Porque eu, meu amor, acho graça até mesmo em clichês.

A poesia reverbera em cada cantinho do corpo daquela mulher, em altíssimo tom. Impossível eu não lembrar dela quando escuto qualquer samba bonito desses que falam sobre amor, o vento me sopra poesias ao pé do ouvido quando eu olho pro sorriso dessa mulher. O cheiro dela me enche de dopamina e tudo mais que falta na minha cabeça, ela intensifica a minha rotina. Ela me agita o peito e eu tenho um certo receio com ela porque eu sei que ela me bagunça um tanto demais, mesmo que não seja intencional. É incontrolável pra mim. Ela me mergulha no mundo dela e me afoga nos meus desejos.
E eu não posso mais descrever essa mulher sem que ela seja endeusada pela minha visão mais encantada - e pode-se dizer também: apaixonada - possível, eu gosto dela da cabeça aos pés, é foda. Adoro os lábios bonitos e bem definidos que me beijam com vontade, dos olhares e todos os detalhes de quando ela chega na minha casa, do batom bonito principalmente quando está borrado, das lingeries de renda colorida que eu já botei de lado, das rapidinhas antes do café da manhã, até o bom dia rápido porque já está atrasada, sou fã de tudo. Entusiasta. Ela é linda e quando chega muito perto de mim, eu percebo que ela fica mais bonita ainda.
Me encanta a pele dela que tem essa cor mais quente, quase canela, caramelo.... e o sorriso dela? Porra! Preenche o ambiente. Encanta, atrai mesmo.
Eu sei lá. Ela me tem nas mãos. Ela belisca meu coração. Faz as borboletas do meu estômago voarem como os bobinhos de amor dizem por aí. E além do mais, tem aquela ansiedade que invade meu peito a cada pré encontro, saca? O terremoto que toma conta do meu corpo em cada vez que estou prestes a encontrar aquela mulher.
Ela é um misto de energia e conforto, a sorte de ter uma mulher dessa na vida chega pra poucos. E que delícia saber que é minha, também, essa mulher, essa boca, essa sorte. Tudo isso. Ela me incendeia, clareia meu mundo de uma forma que não sei explicar, é como se até nossas sombras se iluminassem.
Ela é Sol.
Luz.
Calor.
Felicidade.
Pura alegria.
Coisa linda sua inteligência, admirável sua capacidade de existir nesse mundo com tamanha grandeza e imponência, entende? Ela é demais. E que sorte a minha coexistir no mesmo espaço que o dela, dividir um interesse em comum: a gente.


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quarta-feira, 17 de setembro de 2025

PNFCUPM,S? - parte sete

7

Ainda te escrevo, flor.
Qual seria o propósito das minhas cartas de amor, se não fossem lidas por você?
Ainda sorrio quando pronuncio seu nome no silêncio da minha saudade.
Vai ver o amor é isso, flor.
É o eterno... ou quase
"Ou quase"
Coisa chata.
Tudo que desejamos, mas não fomos.
É a saudade da sua voz e seu sotaque gostoso e cantado no telefone.
O amor pode ser isso, mesmo.
Uma imensa e chata saudade.
Uma distância respeitosa.
É. Sei lá.
Mas às vezes ainda me pergunto: que é que há?
Você é o ímpeto, flor.
Não quero que sejamos pra sempre o quase.
Você me entende, de verdade?
Não quero ser antagonista da minha própria vontade.
Flor, o amor é isso mesmo, será?
É te querer um tanto, mesmo sabendo que você não vem...
Mas deixar queimar em mim o desejo incessante.
e a esperança de que você venha, sim.


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segunda-feira, 15 de setembro de 2025

filha da puta por que cê me faz ser tão piegas?

Tudo à minha volta rodava um pouco Era sei lá, duas horas da madrugada de um sábado frio. Mais uma vez essa história de contar a memória do que acontece com duas mulheres dispostas e no cio. Nós duas, sempre, a cara de sem vergonha que ela tem, e a minha zero consciência e noção quebrando promessas que só existiram por alguns meses. A gente é farinha do mesmo a vácuo, no fundo, somos iguais. A gente se merece... a gente só não se reserva.
E é importante destacar que quando se trata dela, tudo me atinge de um jeito impulsivo mesmo, meio na pressa, na vontade, na loucura, na sorte... Sempre assim. Na oportunidade mais oportuna. Fazendo umas loucuras cada vez mais loucas e absurdas que quase beiram o arrependimento depois. Ainda bem que je ne regrette rien.
É que no fundo acho que gostamos de descobrir o que cada encontro nos reserva, cada vez que nos encontramos é como entender e aceitar que a sorte atravessou nosso caminho.
E posso falar?
Queria explicar a sensação deliciosa que é essa mulher desfilando quase nua sob o meu olhar por aquele apartamento branco do nono andar. Ela colore meus pensamentos e diverte o meu paladar.
Nada muda e possivelmente nunca vai mudar.
Nada NUNCA muda por aqui, entende? Quando se trata dela, o amor é infinito, intenso, único, real.
Eu vivo a minha vida e experimento outros lábios noites afora, mas tudo aqui dentro continua igual. Revirado e intacto. Bagunçado e ainda assim, bonito. E eu já nem posso ficar loucona, fumar maconha, tomar doses e mais doses daquele vinho barato, dropar um quadrado. Porque quando eu fico loucona eu acabo espalhando meu amor por toda sua cama, assistindo de camarote ela me comendo com ciúmes à flor da pele, estampado no olhar, mas ainda assim jurando que me ama. Fala que eu tô com o cheiro "daquela filha da puta", mas a filha da puta dessa história sou eu, assumo essa culpa. Sempre foi, eu sei.
Enfim.
Enfim.
Enfim.
Essa mulher fica cada vez mais linda, ano após ano. É foda. E perigoso pro meu ego.
Mas... lá estávamos nós, conversas animadas sobre tudo um pouco, playlists escolhidas pra nos deixar com vontade de fazer tudo que foi gostoso de novo. Um baseado, um vinho barato e o vento forte invadindo a sala, levando embora a fumaça da maconha, os problemas, as mágoas. Ela diz que agora tudo são águas passadas, então pra hoje eu nem quero mais nada, aliás eu nem preciso de mais nada. Eu entendi que aquele sentimento ruim que eu deixo ir não me visita mais.
Então assim eu tenho paz, ela no alcance do meu tato, a cabeça cheia de vinho com maconha, um corpo cheio de digitais e saliva dela, fazendo eu me esquecer das nossas despedidas cheias de amor, de tudo o que passou porque nós sempre teremos a sorte de um reencontro cheio de saudades.


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quarta-feira, 3 de setembro de 2025

hello, stranger

Ela me disse que eu tenho um.jeitinho de mulher que não vale nada, cara de quem vai partir seu coração a qualquer momento. Acho graça e mal sabe ela que eu sequer penso direito sobre isso. Eu só vivo.
Cada segundo. 
Mal sabe ela que desde que eu senti essa mulher na ponta dos meus dedos eu me sinto emocionalmente investida e interessada.
Penso nela e instantaneamente me vem uma vontade absurda que intensamente me toma.
É instintivo pra mim a provocação e muitíssimo incrível a sensação que me causa ter aquela mulher na minha casa depois do bar, depois de roubar meu juízo por uma noite quase toda, depois de me fazer imaginar e desejar, também, todas as sacanagens possíveis que minha mente é capaz de criar quando ela encosta em mim, quando me beija, enfim... quando ela faz tudo que quiser comigo, me suprimindo ar e me tirando tudo o que me veste, na pressa de quem não tem mais nada relevante fora do quarto. Cerveja, buceta e maconha. Não importa a ordem.
Ela é o combo perfeito pra minha noite ser feliz.
Uma entrega mútua.
Eu amo aquele cheiro de filha da puta.
Seu beijo molhado com gosto de maconha e cerveja.
Seu cheiro de creme de cereja.
Aquela expressão deliciosa de safada, me permitindo uma aproximação, vivendo toda essa vontade que nos atravessa, sem pressa.
O momento mais valioso é aquele que divido com ela, a coisa mais gostosa da vida pra mim é a risada dela preenchendo meu quarto.
Isso que é foda.



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quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Íntimo.

Respirei fundo enquanto tragava meu baseado na janela do quarto dela, um misto de álcool, cheiro de buceta, de foda bem dada, aquelas que a gente dá quando tá com saudade, de maconha com uma pitada de felicidade.
Do nono andar é possível ver quase tudo e meus olhos capturam de um tudo: o movimento da farmácia da esquina, os bêbados, os turistas, os atletas madrugadeiros e ela. Meu olhar é incapaz de perder um movimento sequer dela. É automático. Atraente mesmo. Arrasta meu olhar... É ela, né? Quando eu olho pra essa mulher ela ainda me surpreende um tanto. Como é que pode envelhecer tão linda, assim?
Sempre ela.
Sempre.
Sempre ela parecendo um sonho e saltando na minha vida, de madrugada em madrugada, de mês em mês. Há anos essa porra. E agora, honestamente, foda-se. Eu já me convenci que seremos isso porque é isso que estamos destinadas a ser. Somos nós. E ela me atrai e me impressiona ainda. Sempre. Me impulsiona a ser sempre mais filha da puta comigo, quebrar promessas e não olhar só pro meu próprio umbigo. Ela me convence.
Hoje, ainda e sempre. 
O ar úmido e a cara de colonial dessa cidade já nem me causam uma certa estranheza mais, nem mesmo os prédios tortos me impressionam mais. Mas ela... Ela me impressiona ainda. Em meio a tantos encontros, desencontros e tudo mais, eu sei que ela me chama pelo romance. E eu, suja, fico aqui pelas nuances de seu corpo nu, somos pura arte quando nos despimos do orgulho e tudo mais. É que eu sei lá, eu sou assim mesmo. Eu sou egoísta demais, na maior parte do tempo eu nem mesmo entendo sentimentos. Só às vezes quando eu olho pra ela eu entendo minha paixão que atravessa ano após ano, minha raiva, minhas projeções pessoais e minhas mágoas também.
Só que agora, eu já nem quero entender nada, na verdade. Eu só sei que eu penso nela demais. Eu acho que tudo que passa muito na minha cabeça é sempre demais e me causa um cansaço tamanho que nem que eu escrevesse um zilhão de palavras eu conseguiria explicar.
Mas como falar o que eu sinto? Repito: não sei colocar em palavras o quanto ele me desperta os instintos. Eu não sei explicar como ela me faz sentir tanto amor assim. Tanto de tudo.
Sei lá.
Quando ela fala comigo parece que ela me lança feitiços de encantamento puro, os beijos dela são como explosão de felicidade que eu sinto em todo o meu corpo, me conectando com o momento, ali. Sinto como se a felicidade do mundo inteiro fosse só minha... Toda vez que eu tô aqui, com ela, fumando meu baseado na janela e ela dorme... na mira do meu olhar e das minhas intenções.
Enfim.


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segunda-feira, 28 de julho de 2025

sábado, 12 de julho de 2025

voltas e voltas e voltas

Já tinha um tempo que eu não vinha.
Não aparecia.
A saudade continuou presente mesmo na minha ausência, então o que eu poderia fazer senão ceder aos encantos dessa relação desgraçada? Eu não sei.
Eu nunca fui das melhores pessoas pra entender sentimentos, controlar pensamentos ou vontades, muito menos sei calcular ou medir os riscos. E eu sempre faço o que eu quero ali... no momento.
Então é isso.
Aqui estou eu - talvez essa seja a frase que eu mais digo e escrevo aqui.
Na mesma cidade úmida de sempre. No mesmíssimo nono andar, na mesma sala ampla, de branquidão hospitalar. Fumando um baseado com a mesma mulher de sempre, pós sexo casual regado a vinho barato, saudade guardada e amor desesperado grudado no corpo. Parece que eu sempre estou prontíssima pra viver tudo que meu desejo à flor da pele me proporciona. Tudo que a impulsividade de uma mera vontade me faz sentir. Considerando válido viver cada segundo daquilo que atravessa meu peito, minha cabeça e minha existência. Acho. Não é difícil adivinhar que aqui nada muda.
Às vezes sinto que isso é apenas comodidade sexual, conforto. Os anos foram passando e a gente meio que foi se acostumando com a situação. Vai ver ela é meu carma. Vai ver eu sou o dela. Vai saber. Às vezes eu gosto de acreditar que eu não estou mais nenhum pouco emocionalmente investida nessa mulher, pelo menos não como eu era, mas ainda pago pra ver se não sou mesmo a mesma menina apaixonada que fervia a juventude correndo atrás dela e fugindo dela, também. Confuso. A gente nunca foi feita pra ser, mas a gente cismou de querer o que não podíamos ter. E assim a gente foi arrumando uma forma de ficar.
Não fomos mesmo feitas pra ser, mas acontecemos.
A gente acontece desmedidamente, descaradamente.
A gente, simplesmente, acontece.
É intenso. Porque ela me gera amor e me gera raiva, me tira da zona de conforto e caralho, eu nem queria passar minha vida toda escrevendo sobre ela.
Juro.
Mas ela vai estar pra sempre nas minhas palavras. Assim como tem sido nos últimos anos, ela vai viver nos meus versos de amor e morrer nas palavras duras da minha raiva descabida.
Enfim.
Mesmo que eu esconda o tudo que eu penso sentir, mesmo que eu não fale abertamente sobre isso, o sentimento me visita. As palavras que eu não disse ainda me ecoam, a saudade me alcança com uma facilidade que me faz perceber a intensidade do meu interesse romântico. Eu gosto de complicar as coisas, é hobby varrer sentimentos pra baixo do tapete.
Mas ainda assim, estamos aqui, agora. Uma de frente ela outra em uma das conversas mais soltas que já tivemos na vida.
Temos algo que não sei o que é.
Mas sei que é.
E é quase possível tocar.
E é bonito, quando quer.
E é nosso.
E é eterno.



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domingo, 29 de junho de 2025

domingo, 8 de junho de 2025

spice girl

ela gosta de olhar meu rosto
depois de trepar comigo
e jogar na minha cara
que eu não sou nada pra ela
não me importa
ela sempre volta
e me pede pra descarregar minha raiva 
em seu corpo despido
e eu continuo ali
devorando
saboreando
sem saber se é sorte ou desastre
eu sempre acendo um baseado
e assisto ela se vestir
e ela traga
esquecendo que ela por muitas vezes me esqueceu
mas não se esquece do meu cheiro
que não desgruda da sua pele, carne, ossos...
ela diz também que eu não presto
porque eu gozo rindo
no fundo, de mim mesma
e fumo meu baseado devagar
porque assim como um sexo bom
o drama também vicia.


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quinta-feira, 5 de junho de 2025

que horas são?

não me olhe assim
você sabe
eu não vou te dar esse gostinho
de transformar teus olhos afogados em poema,
Julia.

não dá.
o jeito que você olha… não cabe em verso nenhum,
nem se eu quisesse muito.
você me escorre, transborda, me arrasta
e eu não vou ficar em teus braços até o amanhecer, saca?
aliás, que horas são?

Eu vou
e veja bem Julia, eu nunca escrevi pra ser boa nisso.
e eu não sou.
essas palavras aqui são só restos de você em mim.
repetidas, gastas, bobas talvez —
mas quem é você pra desprezar meu clichê?

e agora, com licença,
vou ali mergulhar num copo de bebida barata,
num bar esquecido,
e deixar que a saudade me derrame em outros braços, me afogue em outras coxas
Enquanto você me rejeita
como se isso fosse castigo.

Vou te esquecer
e você sabe.
não porque você me feriu —
nem chegou perto disso, mas é que pra mim
só sentir por si só já é desesperador, Julia
e eu não sei lidar com o que me atravessa
sem me despir inteira.

E escuta, sério,
essa é a última vez que te digo:

Você me desmonta, Julia.
de um jeito tão ridículo
que eu quase agradeço
por me fazer sentir (algo).

quase.


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segunda-feira, 5 de maio de 2025

devolve meu sono

Eu penso demais. Racionalizo o máximo que posso, quebro tudo em pedacinhos na minha cabeça. Mas, ainda assim, eu sinto. Juro, eu sinto.
Eu acredito que sentimento é só uma reação química, psíquica, uma resposta automática da mente.
Como se a cabeça fosse uma salinha apertada, cheia de papelada e carimbos, onde tudo precisa passar por um protocolo antes de existir.
E olha... nada me faz acreditar no contrário.
Mas agora... agora, meu corpo ainda quente do que aconteceu, eu percebo: tem coisa que escapa. Tem coisa que fura protocolo, ignora senha, invade a sala sem bater.
Tipo ela.
Ontem o apartamento dela ali, no mesmo nono andar de sempre, estava com cheiro de vinho barato, baseado e cigarro Marlboro Blue Ice esquecido, queimando solitário no cinzeiro. E, ainda assim, era um lugar onde eu queria ficar.
A música baixa tocava Nana Caymmi como se nosso querer prestasse, fosse digno. O sofá desarrumado, e ela me olhando como se já tivesse me despido horas antes. Talvez tivesse.
Mas enfim, voltando pra mim... Quando ela encostou na minha cintura, foi como se alguém desligasse a luz da salinha burocrática dentro de mim. Silêncio. Nenhuma planilha. Nenhuma dúvida. Nenhuma demanda especial. Só toque. O toque dela. Calmo, mas firme, suave e claramente cheio de intenção. E eu, que sempre controlo tudo, deixei.
Mas agora é domingo à noite. E a culpa chegou. Atrasada, mas chegou.
Veio com a mesma força daquele beijo, mas sem o mesmo gosto. Veio como um sussurro de um lamento triste ao pé do ouvido.
Porque não devia ser ela, com ela.
Porque eu não devia querer de novo.
Porque, mesmo racionalizando tudo... eu sinto.
Sinto culpa.
Sinto desejo.
Sinto ela, ainda.
E o pior?
Quero sentir de novo.


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terça-feira, 29 de abril de 2025

cê gosta de me ver sair com o coração partido, ontem eu tava bem, hoje eu tô f#dida

ontem à noite
bebi do teu veneno
direto do cálice,
escorrendo quente
entre tuas pernas.

e eu sorria,
com o a boca,
com o corpo inteiro,
entregue. 

minhas mãos te leram devagar,
como quem aprende o afeto
na sede,
na fome,
sendo afetada.

gozamos como quem morre 
ou
um pouco,
muito,
várias vezes.

mas hoje,
acordei vazia.
o coração ainda teu,
mas, a mente inundada de culpa.

um gosto amargo na boca,
uma saudade queimando no peito,
como se o amor tivesse virado fumaça
e se enfiado nos meus olhos
só pra arder.

é ressaca de gozo,
rebordosa de querer demais,
de me perder inteira em você
e só lembrar de mim
depois.


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sexta-feira, 25 de abril de 2025

antes mesmo

tem um momento
bem antes de você me tocar
um nanosegundo, um instante quente, elétrico, intenso
em que eu já sei o que vai acontecer
mas ainda não aconteceu

é ali, entre o antes e o agora
que minha pele acende
como se teus dedos já estivessem lá
entre minhas coxas
mas não estão

é o quase
o desejo que arde involuntariamente em mim
um silêncio carregado demais, mas muito gostoso
porque é um único momento que eu sei exatamente o que virá 

e é tão breve, tão injusto
que quando passa
deixa um vazio latejando, pulsante
pronto pra ser ocupado
por tudo que só você sabe fazer do meu silêncio




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quinta-feira, 24 de abril de 2025

manual de sobrevivência para quem sente errado, capítulo 2

Analisar.
Perscrutar.
Investigar.
Dissecar sentimentos como quem tenta costurar o vento. Como quem enxerga o invisível.
E sinceramente? Eu tô cansada.
Cansa existir.
Cansa socializar.
Cansa entender, também.
Cansa mais ainda esse vazio que me habita com cara de pressa e gosto de ausência.
Como que eu vou falar do que sinto se até o que eu sinto parece.. errado, desalinhado? Se eu não me encaixo nesse sistema onde o sentir tem manual e fórmula? Se eu sequer consigo entender o que as outras pessoas falam sobre sentimentos? Eu acho que sequer sei interagir com outros seres existentes, não mais. Perdi o toque.
Penso demais, sinto de menos. Ou será o contrário? Sei lá. Tem horas que acho que desaprendi a ser gente. Será que eu nunca soube sentir ou foi exatamente isso que perdi? Sinto medo de que eu tenha desaprendido a sentir. Mas Alice me disse que o medo também é um "sentir". E só isso já me dá uma ponta de esperança.
E eu sigo aqui, buscando...
Uma infinita busca de mim mesma, buscando onde é que foi parar o meu toque, minha pele viva, meu “eu” de verdade. Onde será? Acho que fui deixando partes de mim pelo caminho, tipo aquelas roupas que a gente tira no meio da pressa e nem lembra onde deixou, sabe?
Mas não quero aceitar isso assim, de boa, como quem diz “é, fazer o quê...".
Quero me caçar. Eu gosto de um desafio, de encontrar e recuperar coisas perdidas... Sei lá.
Quero ir atrás da parte de mim que ainda sabe sonhar com gosto, com cor, com lágrimas, saliva, suor. Quero berrar até quebrar o eco que se esconde onde meu peito ainda sonha sem pedir desculpas.
No fundo acho que eu só queria encaixar.
Ser normal — seja lá o que isso for.
Sentir.
Expressar.
Acho que às vezes eu só quero me lembrar que tem um coração aqui, batendo baixinho, vermelho dormindo, teimoso, quieto...
Mas tá vivo.
Ainda tá vivo.
Ainda pulsa.


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quarta-feira, 23 de abril de 2025

manual de sobrevivência para quem sente errado

 Introdução 
(ou o mais próximo disso que eu consegui escrever)


Se você chegou aqui, talvez seja porque também tem um coração que tropeça nas próprias batidas.
Talvez também tenha sentido demais num mundo que parece pedir menos. Ou sentiu de menos, quando todo mundo jurava que devia doer mais.
Isso não importa, você está aqui agora e eu preciso lhe dizer que esse não é um manual com soluções.
É mais um inventário de falhas, sustos, ausências, tentativas. Um diário com cadeado. Uma ideia. Um mapa torto desenhado com mãos trêmulas — mas ainda assim, um mapa. Ainda assim um manual de vivência própria. Ou sobrevivência própria.
Pra lembrar que existir assim, meio errada, também é um jeito de seguir viva. De pulsar. E que tem beleza em se perder quando o que se busca é verdade e o mínimo de conhecimento sobre si.
Não prometo salvação. 
Mas te prometo companhia.
Se não for o suficiente... Bom, você já está aqui agora.
E eu não posso fazer nada por você.


Página um:

Tô tentando aprender a respirar mesmo quando o peito não deixa.
Talvez eu tenha me esquecido de como o ar realmente entra, sem pressa, sem dor.
O truque é parar de esperar que ele venha como um alívio e deixá-lo ser, simplesmente.
Comecei a entender que respirar não precisa ter sentido, nem propósito. Só respiro e vivo a essência caótica da experiência e existência humana.
Inspiro o caos e expiro o vazio. Sem nunca me esquecer: até o silêncio pode ser preenchido com ar.
Estou no meio de uma crise de pânico agora.  Eu queria dormir ou não existir. Eu tenho certeza absoluta que meu coração vai parar de bater em pouco tempo.
Mas...
...Eu ainda estou aqui, respirando.
E sigo.
Tempo, tempo, tempo.
Eu só respiro, é só isso que eu faço ou tento. 
Mesmo quando o peito dói, mesmo quando o ar parece escasso. Eu ainda estou aqui, tentando encontrar beleza nos fragmentos, nos pedaços que sobram de mim.

E se você chegou até aqui, talvez tenha encontrado um pouco de si mesmo nessas palavras. E eu sinto muito -  pra caralho - por você, irmão! Que merda.

Eu não acho que a cada vez que eu decidir falar ou escrever sobre isso vai ficar mais fácil,  mas acho que existe saída, fuga, distração... há uma beleza estranha, uma beleza que lateja, que respira, que existe, que me salva. Mesmo que seja apenas por um momento, mesmo que seja apenas em um suspiro.
É só pra me lembrar...
Eu estou aqui, respirando.
E você também está.
E eu não posso fazer nada por você.


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segunda-feira, 14 de abril de 2025

lótus

Eu não pude evitar.
Eu não pude fazer nada.
Eu soube que eu me apaixonaria assim que a vi, assim que minhas mãos tocaram seu quadril e meus lábios a beijaram despretensiosamente. No mesmo momento eu senti um calor intenso no corpo, uma sensação de ter encontrado algo valoroso. Eu a beijei com saudades. Não sei explicar, mas foi como se eu esperasse por isso minha vida toda. Era saudade daquilo que eu sequer tinha vivido antes.
Ela é isso, né? Ela é um furacão em formato de mulher, que tira tudo do eixo, chega bagunçando a mesa, tirando tudo do lugar. Ela é um carro numa rodovia à 180km/h. E eu sou um passageiro que fecha os olhos e torce pelo melhor, pelo final feliz ou qualquer equivalente. Ela segura minha mão e eu nem sinto o impacto.
Ela me tira do chão, de um jeito adolescentemente bom. Ela sacode minhas palavras, me arranca sentimentos. Me enche de felicidade. E eu sinto que ela é como uma necessidade inerente ao meu sorriso, ela representa - e me apresenta - amor e paz. Eu me apaixonei pela sua visão de amor, de vida, de tudo. Pela sua capacidade de resposta rápida, seu senso de humor, seu senso crítico, seu senso de bondade e justiça. Sua cara de danada que me faz questionar a realidade e a reforça a minha incapacidade de resistir a ela. Se sentimentos são paisagens internas ela tem tudo de mais belo e colorido aqui dentro de mim. Vivemos emolduradas por belas tardes alaranjadas de amor juvenil e noites de luas adultas e cheias.
Ela me conhece, me mapeia, me enlaça na teia e quando eu me percebo ela já tem meu seio esquerdo na sua mão, meu corpo não é um terreno desconhecido pra ela, mas ainda assim ela me explora como se me descobrisse agora, e é delicioso porque a minha putaria não vive isolada na linguagem, minha putaria mora aqui, e a língua dela quando se encontra com a minha... Faz com que meu amor e minha putaria morem harmoniosamente na mesma casa. Nós nos pertencemos de um jeito interessante e curioso, de um jeito nosso. E é tão bom que tudo seja com ela, porque é ela... E ela me faz sentir, pulsar, vibrar...
Como falar do que eu sinto? Não sei colocar em palavras o quanto ela me desperta os instintos. Eu não sei explicar como ela me faz sentir tanto amor assim.
Sei lá.
Quando ela fala comigo parece que ela me lança feitiços de encantamento puro, os beijos dela são como explosão de felicidade que eu sinto em todo o meu corpo, me conectando com o momento, ali. Sinto como se a felicidade do mundo inteiro fosse só minha, guardada dentro do meu peito. Toda a delícia do universo na palma da minha mão.
Eu não pude evitar .
E acho que se eu pudesse, também não faria.


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segunda-feira, 7 de abril de 2025

ela adormece as paixões, eu desperto

Essa cidade fica muito esquisita quando não tem sol, calor, bicicletas que vêm e que vão, pessoas por todos os lados, comércios lotados... E sem ela, de biquíni, apertando um fino sob a imensidão de um céu azul e uma infinidade de sentimentos sendo vividos a cada encontro, a cada troca de olhares, a cada toque ou sem ela desfilando sua beleza pelo apartamento branco vestindo somente sua belíssima e intimidadora nudez. Sei lá. Hoje eu tô achando tudo meio estranho. E deve ser porque eu fiz a viagem toda carregando a mala pesada das mágoas mal resolvidas, das minhas projeções falidas, trouxe de toda a bagunça um pouco. Mas eu estou aqui e digo: eu até gosto. Gosto mesmo. De verdade os navios em direção ao porto, dos prédios tortos, da estética antiga de alguns imóveis, do cheiro de umidade que os cantos do centro tem. Dela, principalmente dela. Que tem cheiro desse lugar, dessas calçadas, dessa areia, dessa praia, desse céu... Sei lá, ela é tudo isso aqui. Pra mim ela tem gosto de água salgada.
Eu só queria que hoje estivesse calor porque eu acho que o verão torna as coisas menos dolorosas, sabe? A minha teoria se baseia somente em ter lido uma ou duas matérias que afirmavam que as pessoas são mais tristes em lugares muito frios, enfim, foda-se.
É só um sábado frio, atípico, que eu tô aqui. Tentando abstrair a sensação que antecede qualquer encontro com ela. O medo de não saber o que virá e a minha extrema e idiota passividade de aceitar o que vier. É foda.
E pouco tempo depois lá estava ela também, nós duas aqui mais uma vez. Sentadas observando enquanto os coqueiros do calçadão dançavam conforme o vento, que batia lento em meu corpo me trazendo um pouco de frio e areia. Acho que hoje não tem bom tempo pra nós, eu segui escutando todas as palavras que ela tinha pra me dizer, olhando pro mar eu não conseguia parar de desejar que aquilo acabasse logo, o silêncio absurdo em mim e o barulho do mar, onda após onda quebrando... É cíclico, como nós. E eu sei que é mais uma despedida e ela sabe que eu sei. Eu não acho que precisava disso, mas ela acha que precisa então aqui estou. Mais uma vez. Eu sou boa pra caralho em satisfazer as vontades dela, em ser peça principal desse jogo, em ser coadjuvante enquanto ela protagoniza esse teatro todo.
Ela disse que sabe que eu vou me casar em breve. Mas que porra. É esse o motivo do estresse. Foda que ela beijou minha boca assim que chegou e eu não acho que isso seja condizente com as falas dela. Cada palavra dita por ela me causa confusão, cria uma teia, por que ela beijou minha boca há cinco minutos e agora disse que me odeia?
E continua frio. Cada vez mais.
Eu acho que eu vou ser maluca por essa mulher pra sempre porque eu nunca vou poder ter ela pra mim, eu nunca quis isso efetivamente, acho. Enfim.
Foda-se.
Ela quer fechar o tempo. Eu permito que ela o faça. Me bloqueia, me ameaça. Faz o que quiser. Eu sabia que seria exatamente assim, eu só não sabia que à beira do fim faz mais frio.



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quarta-feira, 2 de abril de 2025

domingo, 30 de março de 2025

o céu é nóix!

Eu sinto falta de te sentir, de estar aí, mesmo você reclamando que eu te amo apressada, como se o tempo não fosse nada. E eu sinto falta de ter você por aqui, entre idas e vindas. Subindo as escadas, degrau por degrau e me encarando da porta como se a gente pertencesse ao mesmo mundo, pelo menos naquele segundo nós estivéssemos conectadas, ao mesmo tempo tudo acontecendo ali, diante dos nossos olhos e é tão maravilhoso a primeira fração de segundo onde eu te olho nos olhos e me permito reviver nosso amor. Eu juro. Eu sinto falta de você e de todas ou quase todas as sensações que você causa.
Eu nunca mais estive no nono andar e eu não sei até que ponto me faz falta estar. Saudades de você me colocando nos lábios e me degustando como se eu fosse seu vinho português favorito, aquele com nome esquisito. Penso em você, em nós e não lembro mais sequer onde nos perdemos. Mas lembro de muitos encontros onde nós nos ganhamos e fomos criando esse elo entre nós, nós atados. Essa ligação maluca que nós temos uma com a outra e nossa comunicação confusa, mas que a gente entende tão bem.
Eu sinto falta, linda. Falta de tudo que você é, de tudo que você representa pra mim. Às vezes acho que queria voltar no início, mas penso que jamais seria a mulher que eu sou hoje sem nossa história bagunçada então logo desisto. Talvez se a gente tivesse dado certo desde sempre não teríamos esticado tanto esse amor e hoje não estaria assistindo a mulher incrível que você se tornou. Te escrevi uns trezentos textos e acho que nunca te disse isso. Mas deixo registrado aqui e agora: você é foda.
Eu não somente gosto de você. Às vezes eu acredito que eu me submeto a estar na sua vida ano após ano porque te amo, não teria outra razão senão a minha explícita vontade de tocar sua pele, seus lábios, sua boca, de me enrolar nos teus cabelos claros, morar na sua cabeça, na sua b*****Sabe? Entende? Eu quero morar em você, eu quero invadir sem querer seu sistema nervoso periférico e estar em casa um dos seus sentidos, quero ser responsável por seus pensamentos mais profundos, mais impulsivos.
E isso explica muito o meu coração acelerado, te amando apressado porque eu tenho medo de acabar a sorte do tempo que eu tenho ali. Com medo dos bons ventos que nos aproximam, fechar o tempo e mudar o clima.
Sei lá.
Sempre seremos o paraíso e o inferno uma da outra.



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quarta-feira, 26 de março de 2025

boo! #01- O Quadro

Daniel estava radiante. Tinha conseguido o primeiro e tão desejado emprego no mesmo dia em que estava completando dezoito anos. A comemoração seria dupla, pelo emprego e pelo aniversário.
- Que sorte! - repetia o rapaz, cheio de alegria.
Durante a noite, enquanto aguardavam o jantar de aniversário ficar pronto, Daniel contava sobre todos seus sonhos, tirar carteira de habilitação, talvez um carro se der pra juntar um dinheiro, ajudar com as contas de casa e tantas outras coisas... A mãe se dividia entre escutar os planos do filho e a lasanha no forno, enquanto o pai lhe dava um sermão sobre as novas responsabilidades que a maioridade traria. Foi uma noite memorável pra Daniel, que devorou seu prato favorito, assoprou as velinhas, abraçou os pais e foi dormir. O rapaz mal podia se conter de tamanha ansiedade. Começaria somente na próxima noite.
Na manhã seguinte acordou radiante e nervoso, o que fez parecer uma eternidade até que chegasse a hora de seu primeiro turno. A mãe orgulhosa, olhava da porta do quarto o jovem arrumado para seu primeiro dia. O emprego era legal, uma empresa pequena, na cidade vizinha, não muito longe de casa. Daniel trabalhava finalizando as caixas com fitas adesivas para que fossem transportadas pela manhã. Trabalhava juntamente com um senhor da idade de seu pai ou até mais velho, não se sabe, a única coisa que Daniel sabia sobre ele era seu primeiro nome, que ele era descendente de algum lugar da Ásia e que ele era muito calado e falava somente o necessário. Não que isso incomodasse Daniel.
Como trabalhava no período da noite, não tinham tantos funcionários assim então tudo era sempre um total silêncio. Parcialmente escuro, corredores, salas, tudo escuro, mais metade do galpão onde Daniel ficava era apagado, além de naquele espaço ficarem somente ele e o colega de trabalho. E isso também não incomodava Daniel.
A única coisa que o jovem achava realmente estranho era um quadro, no corredor ao lado do refeitório. Um corredor longo e apagado, mas o quadro era iluminado por uma pequena luz diretamente voltado para ele, como se a pessoa proprietária do quadro fizesse questão de exibir aquilo, dando destaque a ele e fazendo qualquer um o enxergar com bastante nitidez. Um quadro cheio de olhos e uma única boca, os dentes pareciam em alto relevo como se fossem dentes de verdade. Daniel olhava e aquilo parecia se mexer como se olhasse pra ele de volta, ele poderia jurar que viu aqueles olhos estranhos piscarem alguma vez. Ele sempre sentia seu coração acelerar quando olhava para o quadro. Sempre. Uma sensação estranha no estômago como se aquilo fosse vivo. Como se o observasse. Senti medo ou repulsa. Não sabia distinguir bem.
- Não olhe muito para o quadro e nunca olhe o quadro de perto. Não pertence à você. - disse o velho com quem trabalhava, assustando Daniel, que achava que estava sozinho no refeitório. Daniel não quis perguntar porquê, na hora pensou que pudesse ser uma piada, uma pegadinha. Mas o tom de voz do velho foi seco e sério.
Daniel não conseguiu parar de pensar nisso. Passou o dia todo com o quadro na cabeça como se aquele quadro horrível o atraísse.
Na noite seguinte, o velho não foi trabalhar. Daniel tentava se distrair sozinho naquele galpão escuro e vazio. Já não tinha trabalho pra fazer, então o silêncio ficou incômodo dessa vez. Daniel tentava lembrar de coisas boas e de tudo que pudesse tirar o pensamento das falas do velho na noite anterior, mas nada ajudou.
Na hora do seu jantar, se dirigiu ao refeitório devagar, como se soubesse que em poucos minutos estaria na presença daquele quadro estranho.
E realmente, lá estava o quadro. Exatamente igual. Daniel não queria olhar muito, evitava. Mas a luz atraía seu olhar.
- É só a porcaria de um quadro estranho e de mau gosto. - pensava o jovem.
Mas o misto de curiosidade e medo tomaram sua cabeça, ele se dirigiu até o corredor. Parou no início e ficou lá... Encarando o quadro e... Nada aconteceu. Pensou por alguns segundos que tinha vencido o medo. Daniel riu e deu alguns passos em direção ao quadro. O corredor completamente escuro. A única luz há alguns metros dele, iluminando somente o quadro, que parecia se mover como se fosse vivo, como se aquela boca com dentes fosse capaz de devorar qualquer coisa que se aproximasse e os olhos observassem cada passo dado. De repente Daniel foi tomado por um frio na espinha tão gélido que não saberia explicar nem se quisesse, seu coração apertou, sentiu um peso estranho sobre seu corpo, sabia que não estava mais sozinho. Tentou correr e suas pernas não o obedeceram, sua voz parecia presa, se sentiu como naqueles sonhos em que não se consegue simplesmente acordar e acabar com tudo. Daniel sentiu toda a felicidade, jovialidade, vigor, sangue, tudo sendo drenado de seu corpo, uma dor horrivel no rosto e sem perceber o rapaz simplesmente desmaiou.
Acordou não se sabe quanto tempo depois, tentou abrir os olhos mas nada via, seus olhos haviam sido arrancados e no lugar dos olhos haviam apenas dois buracos negros e profundos, não conseguia se mover, gritou mas ninguém poderia ouvi-lo até pelo menos a manhã seguinte. Daniel sabia que não sairia dali nunca mais, sabia que não era um sonho, sentia a dor horrível em seu rosto, sentia o sangue escorrer pela sua face, sabia que nunca mais voltaria pra casa. Não havia mais o que fazer. A última coisa que Daniel ouviu, foi uma voz conhecida, que aparentando estar distante, disse:
- Quem olha muito para o quadro tem seus olhos e alma roubados.


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quinta-feira, 6 de março de 2025

"o que não é vc não me interessa" ✓✓

Eu gosto do cheiro que ela têm porque gruda nas minhas roupas, pele, dedos, narinas e isso me mantém pensando nela mesmo quando eu tô longe. Eu gosto da intensidade que ela me reserva, amo quando ela se entrega pra mim por inteira, inteirinha, geme gostoso jurando que é minha... E quem diz que não?
Ela me suprime o ar, me faz acreditar que seu orgasmo é a mais genuína dentre as declarações de amor... E como eu adoro aquela boca gostosa gemendo e falando meu nome baixinho, falando que tá quase chegando lá e me pedindo pra ir mais forte ou mais rapidinho, lambendo minha boca um pouquinho, nossa foda é sincera. Aliás, há algo mais sincero do que nós, eu e ela, encostadas, molhadas, receptivas e desejantes, encontrando juntas o ápice da vontade... Enquanto os dedos dela se certificam que a intimidade embaixo da minha calcinha aplaude ela, pulsa, convida, deseja. Enquanto ela deságua a vontade dela nos meus dedos e quase me mata de sede e vontade. Ela é um absurdo vivo que caminha sobre a terra, que rouba meu juízo, minha sanidade, me rouba até a última hora da minha líbido, resumindo: nada é mais honesto que uma buceta molhada.
Essa é a minha opinião.
Ela é acostumada com poças de amor, mas eu sou riacho de vontade. Eu sempre quero ela de novo. Tanta buceta no mundo e eu viciada na dela.
Ela deita e rola mas minhas intenções. É foda. Ela é tipo abstinência fodida de droga, eu posso garantir que têm quase três anos que eu não uso cocaína, mas com certeza não tem nem três semanas que eu comi essa mina. Sem ela eu não fico, é sempre tudo sobre isso. Ela abusa da minha boa vontade desde que eu tinha pouca idade. O que eu faço? Eu cedo, eu corro, eu minto, eu trepo, eu juro amor e saudades.
Aliás, eu sempre sinto saudades dela sei lá.
Até ela me ligar de novo.



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sábado, 15 de fevereiro de 2025

c ainda tem cara de uma noite paulistana

Você mexe comigo de um jeito que me surpreende
Desde sempre
Faz um bololaço de sentimentos aqui dentro
Estou escrevendo isso às 8h21 da manhã, nunca escrevi tão cedo
Pra dizer que você ainda mexe comigo
De um jeito seu
Dormi e acordei pensando em você
É como se eu estivesse ainda entre as frestas dos seus dedos
Brincando com outras mulheres
Corpos
E
Copos
Mas sempre na tua
Sem nunca te esquecer
Essa noite eu até sonhei com você
Eu não consigo ficar tão perto
Porque seu abraço me enlaça e me aperta
E tem gosto de beijo
Saudade de beijo
E beijo teu eu não tenho mais
Como é que pode a vida brincar com a gente tanto assim?
É só teu beijo que eu não tenho
Mas é só nele que eu penso
Beijos rápidos na escada
Na rua
No carro abandonado
Na minha sala
Saudades de você no meu quarto
Na minha vida
Saudades de um "oi"
Eu gosto de você
Você entende? Eu gosto mesmo de você
Não como você gosta de mim
Não sinto só carinho por tudo
Por que é só isso que você sente hoje, não é? Só carinho.
Não consigo ficar tão perto quando você se aproxima, te olhar
Eu sinto é saudade
Todos os dias, até em uma sexta a noite ou no sábado a tarde.
Hoje é sábado e te esqueço à noite, eu acho
Mas a ressaca de amanhã não me deixa esquecer
Que você mexe comigo
De um jeito só seu
É isso que é foda.


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terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

pixei ali na jurubatuba que eu tô com saudade

Sonhei que escrevia um texto pra você
Cheio de palavras rimadas
Daqueles com sabor de amor clichê
Que costumavam te arrancar suspiros
E me fazer ganhar beijos
Seus beijos
Aqueles beijos roubados
Dados
Ganhados
Deliciosos
Molhados
E que me molhavam instantaneamente
Lembra dos beijos?
Que você costumava me dar
Sonhei que te escrevia o mais clichê dentre os textos de amor
Mas acordei seca de saudade


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domingo, 26 de janeiro de 2025

como um gatilho sem disparar, você invade mais um lugar onde eu não vou

Como que pode isso acontecer entre nós? Em determinado momento, eu senti o olhar dela em mim. O calor incomum que ela me gera, calafrio foi automático, eu senti a presença daquela mulher e que coisa estranha que foi. Recebi a sensação com estranheza. Minha mãe dizia que eu e essa mulher tínhamos uma ligação espiritual, mas às vezes eu penso que essa ligação só chama, chama e chama... E nenhuma de nós atende. Parece loucura , eu sei, mas cinco minutos depois o oi no meu ouvido - enquanto minha companhia tinha ido ao banheiro ou sei la fazer o quê - confirmou minhas suspeitas.
Ela estava lá.
Que felicidade.
Que ciúmes.
Que saco.
Mas que merda.
Que grande delícia da vida é a possibilidade de poder derramar meus olhares sobre aquela mulher.
Meu Deus, como é que pode? - pensei. Ela deve ter um rastreador instalado na minha buceta. Deve sentir meu cheiro quando eu tô prestes a foder com outra, deve me caçar, me farejar, eu faço e faria igual, foda-se.
Eu não tive muito tempo de reação, eu não esperava esse encontro, não poderia prever que ela escolheria o mesmo rolê, pelo menos não na mesma noite. Mas ela estava mesmo lá, não era minha imaginação me pregando uma peça, era mesmo ela.
Ela e seus cabelos, seu cheiro, sua pele queimada, os olhos castanhos... Tudo. Um shake de confusão e delícia. Gata pra caralho.
Não eu tivesse marcado nada com ela aqui. Não que eu penso que ela pudesse de alguma forma, saber que eu estaria aqui e porra, não que fosse ela a mulher por quem eu rasguei o asfalto na fúria de chegar aqui. Mas é sempre tudo sobre ela, né? Até quando não é.
O rato sempre cai em armadilhas, né? Seria essa mais uma, então?
Não sei, mas novamente eu caí.
Antes das duas horas de uma madrugada superaquecida pertinente aos nossos janeiros, eu estava com ela lá, vocês sabem onde. Foda-se tudo. É sempre ela. Lá estava eu beijando seus lábios com a mesma intensidade da juventude, por entre as mesmas perigosas ruas dessa cidade velha com cara de colonial e que se foda, ela impera meu coração. Eu sempre venho, eu sempre volto, né? Nada de novo, além do de sempre. Noites calientes, brigas matinais tão quentes quanto o café e voltas subsequentes logo após os términos, às idas, tanto faz.
Foi só mais um encontro com um pouco mais de teor alcoólico e saudade. E se é de interesse de alguém a parte divertida da história, eu acabei a noite trepando com ela no nono andar, na cama de lençóis caros, no mesmo apartamento branco.
Não vou agir como se eu não viesse pra esta cidade sabendo que eu posso encontrá-la em qualquer esquina, em qualquer bar, não que eu espere por isso, mas sei que com sorte um encontro igual de hoje e com revés eu ter a péssima experiência de encontrá-la com outra mulher. Mas vê-la é sempre uma coisa extraordinária, deliciosa, mas confusa, sem um preparo anterior me deixa estranha, me puxa pra fora da linha da realidade mesmo, é como se me colocasse em um mundo paralelo, como a sensação de estar sonhando mesmo.
Eu amo essa mulher.
Eu odeio essa mulher
Eu não sei mais o que eu sinto por aquela mulher.
Eu sinto tudo e às vezes acho que não sinto nada.
Eu vou falar mesmo dela em toda oportunidade que eu tiver, talvez pra me livrar dela de vez, talvez pra sentir ela um pouco mais perto.
Enfim.
Eu gostei de tê-la visto.
A tempestade não chegou pela manhã.
Minha saudade é um eterno vai e volta, igual meus dedos dentro dela, é uma eterna espera de um novo contato. Nasci, cresci e vou morrer rato.
Mas, honestamente? Eu nunca mais volto naquele bar. Provavelmente, nem ela.


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quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

PNFCUPM,S? - parte seis

6
Se passou o natal e o final de mais um ano, flor.
Mais um...
Mais um ano que eu não te esqueço.
Mais um ano que eu não te tenho aqui.
Tudo nessa época me lembra você, mas não é como se eu não lembrasse de você até quando não quero lembrar. É automático pra mim. A saudade é atrelada a minha existência, flor. Penso em você e então tenho alguns minutos de paz no meio dessa cidade cinza e caótica. Te associei a essa época, como se eu esperasse por você como um presente de natal. Eu te quero flor, eu te peço sim. Eu queria ser capaz de te esquecer, mas não consigo.
Tenho sentido sua falta num tanto nos últimos meses, tenho encontrado resquícios de você em todo lugar onde coloco meus pés, em casa música, em cada cena onde minha vida está. Tudo tem um pouco de você.
Abri a live da tua irmã na noite natalina no Instagram e te vi. Sei que você sabe. Meu coração se encheu de felicidade. Acelerou. Fiquei ali, estática em frente a tela na esperança de que você passasse de novo, de ouvir tua voz, teu sotaque.
Que saudade, flor.
Você entende?
Será que eu te encontro de fato ou te coloco na minha rotina?
Eu não sei, só sei que você está lá, sorrindo aquele teu sorriso gostoso e solto, sempre... sempre você e só você, flor... sorrindo na minha memória.
É impossível te esquecer.


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