sábado, 11 de novembro de 2023

"Cartas 💔" 11 - Não sei fazer sentido.

O relógio não coopera muito com meu estado de espírito, emocional e mental... então às vezes eu mexo nele com os dedos e giro um pouco os ponteiros dos minutos, na esperança de conseguir acelerar um pouquinho o tempo que eu vivo sem a presença dela.
Controlar alguma coisa me lembra de quando eu era uma criança perturbada e jogava pedras nos carros, do alto da passarela do km18 da Anchieta. Subia pra lá quase todo final de tarde, sempre escondida pelo lusco-fusco, ficava atravessando de um lado pro outro, atirando pedras escondida nos carros que eu escolhia aleatoriamente nas pistas, sem que ninguém nunca soubesse ou visse. Sempre pedras ou bexigas com xixi. Quebrei vidros, retrovisores... Sempre fui astuta e filha da puta. Desde criança.
Sempre fui a criança que escalou até as prateleiras mais altas. 
Sempre gostei de um malfeito. Talvez eu me foder hoje em dia seja karma e se for... acho que bem feito.
Mas nunca tive tempo de me arrepender de nada disso. Nunca. Hoje não há nada que me distraia. Nem passarelas. Nem tempos onde eu sequer sabia da existência dela. Nem pedras. Nem riscos.
Hoje eu tiro folhas dos calendários físicos.
Mastigo os dias com ódio.
Uso drogas pra maquiar a dor.
Evito Johnny Walker.
Red, green, blue, black, gold, pedras, anéis, canecas... Foda-se. Foda-se tudo isso.
Evito passarelas.
Não trago mais pedras nas mãos.
Rasgo poemas.
Faço barulho.
Ainda não me comunico com clareza.
Não faço contato visual.
Não vivo mais.
Escrevo textos iguais para dizer coisas diferentes.
Tenho uma sobrevida apagada por um afeto que eu não dei, não recebi, deixei pra lá, fingi que não estava nem aí.
Repito palavras que eu disse.
Esqueço - ou deixo pra lá - as que eu não disse
Sinto-me apática e presa nisso.
De que adianta eu dizer palavras para ouvidos que não me escutam?
Tudo está diferente, mas igual.
Parece que vivo num looping de dias, há dias.
Entende?
Eu não.
Nada mais faz sentido.






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