sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Escrevo por falta de ti.

Mesmo depois de nove anos ainda é sobre eu nunca ter reaprendido a existir.
Hoje. Dia Dezoito de Dezembro de Dois Mil e Quatorze. Três mil, duzentos e oitenta e cinco dias depois. Ainda é como se eu continuasse mesmo sendo só sendo figurante na minha própria vida, sabe? Entende? Só parte da paisagem. A moldura que nunca salvou o quadro ruim.

Você vive...?

Hoje não foi um dia diferente, tirando que minha cabeça acordou fervendo, borbulhando situações que eu acho que nem existem e mil problemas com a mesma consistência de um punhado de açúcar....
Eu acordei, olhei pro lado e foi como se o dia fosse se repetir. Ela estava ali, linda como você naquela manhã de domingo. Era domingo. Um bom dia seguido de um sorriso. Quis sair daquele quarto, quis desejar não ter acordado... Nem cinco minutos e meus pensamentos já me engoliram e me cuspiram tantas vezes.
Bom dia, ela me deu. Bom? Não, e também não era meu dia. Hoje não me atrasei pro trabalho. Hoje não choveu. Teve um tiroteio no shopping hoje. Eu sobrevivi por mais um ano. Nove anos. Quem diria que eu chegaria ao nono ano praticamente ilesa? Você só não vê nenhuma cicatriz porque eu visto sempre o meu melhor sorriso e saio por aí.

Você vive?

Essa saudade que eu sinto que não acalma, me sufoca, entope minhas veias.
Sinto sua falta de verdade. Mesmo. Juro, juradinho. Sinto saudade da sua voz de passarinho ecoando no quarto, na casa... Saudade do seu cheiro, sorriso, olhos. Saudade do gosto do vinho ruim quando eu te beijava aos sábados, especialmente aos sábados porque estranhamente era sua rotina de só tomar vinho aos sábados. Você e suas maluquices. Parecia que você vivia num mundo só seu, sempre desconfiei. Saudade da sua calma, da sua brisa, desse teu sorriso, do seu toque. De você. De papear sobre o tempo, sobre novela, sobre aquele filme ruim que eu dormi no meio, sobre a obra que vai inaugurar no centro da cidade, saudade do som que você fazia meu corpo ecoar. Você sempre deixou meu mundo num tom diferente. Saudade de você reclamando do cheiro do meu beck no seu cabelo, de ouvir você reclamando que eu comprei pepsi ao invés de coca, saudade de te ver feliz com o trampo novo que você tava querendo tanto. Saudade de te ver feliz. Saudade de te ver. Saudade.

Você vive!

Adquiri uma nova personalidade nos últimos nove anos. Parei de beber, parei de cheirar, a vida breve e louca agora já não me atrai. Voltei a morar na mesma casa de antes. Te orgulha de mim! Me desfiz de memórias, logo eu né? Percebi que ao tirar aquele casaco de trás daquela porta e me desfazer de você, eu me desfiz de mim também. Com você eu consegui ser eu de um jeito que nunca mais vou conseguir ser nem sequer comigo mesma. Hoje sinto-me como se eu fosse inquilina em meu próprio corpo, como um parasita mesmo.
Todos os dias eu encontro um sorriso largado dentro de um armário ou de uma gaveta qualquer, visto porque me cabe, viro a maçaneta e saio de mim pra ser feliz, faço piadas o tempo todo, acho que se eu fizesse diferente disso eu nunca conseguiria terminar uma frase sem minha cabeça me interromper, foda. Eu encontro em cada tropeço um pouco de você, mas não foi hoje...
Dei bom dia para minha companhia e não pude deixar de desejar logo te encontrar quem sabe e com sorte em uma próxima vida. Te buscarei por cada uma das minhas existências, esteja certa disso.
Vivre vite mourir jeune, meu amor.

De um jeito ou de outro você ainda vive... mas eu nunca mais reaprendi a existir.



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quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Ninguém bate.

É quase natal, mais um.
Acho que de hoje até lá só restam mais vinte e um dias. Vinte e dois, disse Francisco. Nem sei se o nome dele é mesmo Francisco, mas sei que é quase natal.
Mais um.
Ainda não entrei no clima natalino e nem as pessoas, eu acho. Hoje estava indo para o trabalho e vi uma batida de trânsito. Foi rápido. Nada demais. O carro rodou na avenida, só foi meio estranho de ver. Um cara fechou uma senhora. Ele mandou ela tomar no cu, não achei de bom tom, fervi tão facilmente que por um milésimo de segundo tive vontade de chutar o retrovisor dele, tirar ele de dentro do carro pela janela. Fui consumida pela raiva, sempre sou, mas dessa vez foi tão rápido que eu imagino que todo pavio é muito, muito curto. Ele estava errado, mas com certeza quem tomou no cu foi ela. Não é a primeira batida que vejo ou participo, estar em um acidente é assustador, você se sente extremamente vulnerável, mesmo que não seja nada grave. Seu cérebro funciona mais lentamente, você não entende de primeira, precisa de alguns segundos, minutos pra assimilar. E fora meus sonhos recorrentes com aviões caindo, onde eu sinto o exato momento onde o avião toca o solo, sinto o chão tremer embaixo dos meus pés. Toda vez aviões caindo... Às vezes eu consigo sentir o calor da explosão também, geralmente minha temperatura corporal aumenta consideravelmente. Um looping de sonho há anos. Um saco. Nunca consegui entrar num avião com medo de que isso fosse algum tipo de aviso, presságio mesmo. Mas pode não ser porra nenhuma também. E que se foda.
Esse final de ano me proporcionou andar muito pelas ruas, evento pra evento, de shopping pra shopping. Todos os últimos quarenta dias de cidade em cidade, estado em estado e notei que não vi aquelas decorações natalinas extravagantes, tinha muito disso quando eu era mais nova. Não sei exatamente quando foi que sumiram as casas cheias de pisca pisca e imagens do Papai Noel em seu trenó com suas renas com nariz tão vermelho que parecem meus amigos que cheiram pó, acho que quase ninguém mais faz isso, ano que vem eu tenho certeza que vou morar fora daqui, desse caos, dessa bagunça e muito, muito longe da rota dos aviões. Talvez um novo ambiente seja diferente. Me traga algo diferente. Já seria ótimo que eu tivesse sonhos diferentes.

Minha mãe colocou uma meia na porta, uma espécie de enfeite natalino. Nunca entendi o porquê da meia, mas é sempre a mesma meia pendurada na porta. Meu vizinho de cima encheu a janela de pisca pisca. Eu acho esse japonês um filho da puta. Bela gambiarra para um belo filho da puta. Às vezes eu tenho vontade de quebrar a janela dele com um estilingue, mas sempre escolho as que ficam ao lado. Ou embaixo. Ele saberia que fui eu.
Sobre as luzes: Ele diz que são luzes de fada. Japonês filho da puta. É horrível, forma uma claridade no meu quarto e fica difícil de dormir. Mais que o normal. Transpassa a cortina blackout esse apaga e acende. Acende e apaga. E recomeça tudo de novo, e de novo e de novo. Um monte de luzes coloridas. Pisca. Pisca. Pisca. Qual é mesmo a finalidade, simbologia nisso? Há? Luzes de fada? As fadas não entram no meu quarto, as fadas são incapazes de salvar os aviões caindo dentro dos meus sonhos.
E as luzes... essas também não me livrarão de sentir nada disso. 
É.
Realmente o natal está cada vez mais próximo e as luzes de fada vão iluminar o meu quarto escuro.
Nesse natal não farei pedido algum.
É isso que eu mais peço: não querer pedir.
Não querer pedir por ela.



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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Com amor, Amora.

Escrevo aqui esta carta sem destinatário.
Eu já não tenho um nome, um endereço, um coração pra quem eu deva enviar essa carta, ainda assim escrevo. Saudade de quem eu fui. Saudades dos sorrisos que tu me destes, saudades dos dias de Sol ao seu lado, do sorriso doce que abria ao me ver subindo escadas da estação Trianon-Masp. Na carta eu não digo isso, sobre a falta. Escrevo poemas, poemas breves como aqueles que você gostava de ler. Eu só queria que você soubesse, meu bem, te guardo com saudade, com carinho, com amor.
Que ainda que eu parta, minha despedida seja por ti perdoada e que seja breve, que seus dias continuem leves e que você sempre sorria ao se lembrar que de todos os lugares do mundo em que eu já estive, teu abraço continua sendo meu lugar favorito.



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quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Quarta-Feira: sentimento de quinta.

O rádio ligado cantarolava um meio tom de uma música que eu adoro...
"Tu vens, tu vens... Eu já escuto os teus sinais..." 
A canção te anunciou. Te anunciou, mas você não veio, não cumpriu o nosso combinado, mas meu bem, a culpa não é minha se você é um pássaro sem coragem de voar com asas próprias.
Nunca foi e nunca vai ser. Nem por mim, nem por nenhum outro desses teus amores baratos e fáceis, pra você, eu sei, tudo sempre foi muito fácil.
Mas a culpa é sua se você me sorrir, por pura maldade, o mais bonito sorriso deste Universo, a culpa é toda tua.
A culpa desse frio é tua.
A culpa da garoa fina que gela meu corpo é tua.
A culpa desta solidão que me assola é tua.
A culpa de hoje eu ser aquela pessoa que chuta corações e vai de bar em bar, cama em cama também é tua.
Eu tive todos os motivos pra enlouquecer, eu tive mil motivos pra me obrigar a te esquecer. Eu tive todas as razões possíveis pra arrancar todas as raízes deste sentimento de dentro de mim e eu sei o quanto doeria, porque isso tudo tem doído há tanto tempo que eu já aprendi a lidar com a dor, ao menos ela é presente quando você decide ser ausente. Eu tinha motivos pra te colocar no quarto escuro, jogada no meu passado, como tantas outras pessoas que eu conheci e desconheci, hoje sequer lembro nome, gosto, cheiro, toque, sorriso...  Nada.
O único problema é que toda vez que eu tento fugir disso, eu percebo que está tudo dentro de mim.
E isso também é culpa sua.


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quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Pendulum

O silêncio essa hora é perturbador. A porta entreaberta, paredes brancas e sujas, todas as janelas abertas e eu ali, no meio desse meu caos emocional, espiritual, mental. Respirando pausadamente, prestando atenção no trajeto que o ar faz até meu pulmão. O silêncio é tanto que ao fundo eu consigo escutar os carros com pressa na avenida de trás e se eu prestar mais atenção eu consigo escutar os cachorros da mulher do outro quarteirão. Ela tem uns cinco cachorros e eu os escuto nas minhas noites de silêncio, um som perdido, distante. Minha boca não diz nada, não ousaria falar nada. Vou falar o quê? Lembrei-me da primeira vez que te vi. Você mais alta, eu mais ansiosa. Nós duas ali. De frente pro mar. Um abraço e um quase beijo. Não foi preciso mais que isso pra eu confirmar minha necessidade de você. Eu jamais esqueceria disso, mas eu gostaria de não lembrar o tempo todo.
Disseram na TV dia desses que não é possível viver com o coração fora do corpo, me pergunto então: como é que eu tenho vivido se meu coração está contigo? Poeticamente falando ou não, isso é algo que ainda dói. Vez ou outra eu esbarro em algum resquício de você por aí, em alguma anotação, foto ou algo que me lembre. Às vezes tudo parece com você, tudo lembra teu humor idiota. Não sei mais o que fazer com isso, com sua ausência que se faz tão presente a cada dia, com os novos toques que tu recebe. Fico me sentindo idiota por imaginar que tu vai sorrir embalada de novas músicas, novos ares, seu coração vai disparar ao som de um novo "eu te amo". E você não tem ideia do quanto isso dói. Eu morro um pouco a cada dia sem que ninguém se dê conta. Estou me matando por trás desse sorriso que eu insisto em manter. Afundo-me em outros amores na esperança de encontrar um pouco de você, nem que seja uma mínima semelhança, e acabo passando dias trancada dentro desse apartamento branco, sozinha. Vomitando textos ruins e cultivando atitudes deploráveis. Acumulando tudo que eu poderia sentir. Eu sinceramente já não sei o que fazer.
 Mês que vem faz um ano. São trezentos e sessenta e cinco dias. Oito mil, setecentos e sessenta horas. Foram noites e noites rezando pra que eu consiga deixar no passado você e toda essa história. Decidir te esquecer é bem fácil, difícil é não desejar que você se lembre de mim antes de dormir. Eu decidi por tantas vezes te esquecer e percebi que o obstáculo é justamente esse: esquecer. Difícil mesmo é seguir, levantar daqui, difícil mesmo é não desejar que você se lembre de mim antes de dormir. Nunca foi do tipo que sai por aí se apegando, e sinceramente me pergunto todos os dias qual a razão de eu estar presa nisso, existem tantos sorrisos pr'eu conhecer por aí. Vou sair, fumar meu beck, sorrir com as amigas e enfim, pelo menos por algumas horas, te esquecer.
Espero do fundo do meu coração não encontrar com nenhuma memória sua por aí.



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domingo, 7 de setembro de 2014

Dança bailarina, dança.

Caixinha de música insuportável, bailarina que dança, dança rodando, não para. Isso não me parece dança.
Ela nunca para.
Odeio essa bailarina e o som calmo e perturbador que ela ecoa por aqui. Você passa as mãos no rosto, dedos entre os cabelos, checa o celular. Diz que já vai, está tarde. Levanta-se. Meu coração dói, do jeito emocional da coisa. Tudo dói. Meus olhos pesam. Peço-te pra ficar. Você repete que já vai. E foi. Sem aceno, sem adeus, sem nada. Só o barulho da porta encostando e um “vem trancar” dito baixinho pra não incomodar o vizinho do lado. Você e essa sua calma, sua maior qualidade que agora é o maior defeito. Te vilanizei. Você me matou, atirou mais rápido do que aqueles atiradores dos filmes de faroeste que eu gosto.
Bum!!!!  
Não que tivesse feito algum som além do som das tuas palavras, eu nem disse nada, sem chances de revide. Já deu pra reparar que nessa história só eu me fodo né?
Você, menina bonita dos olhos cor de mel, jeito de abelha venenosa e sorriso colorido, me diz pr’onde que é que você foi depois que saiu daqui, de mim, diz p'ronde é que tu foi depois que me deixou aos pedaços. Diz-me pr’onde é que tu levaste meu sorriso, me diz onde é que tu colocaste minha paz. Diz-me onde é que está esse teu abraço que eu estou sentindo tanta falta. É tanta falta que já não cabe mais fingir que não. Se alguma vez lhe disse não, agora lhe grito sim e repito: é só você voltar pra tudo voltar a ser. Pra você e eu voltarmos a ser o que éramos, mesmo com todos esses nós, com todos esses desatinos. Desencontros. Reencontra-me e diz que vai ficar, coloca no cabide aquele teu velho vestido azul da cor do céu, rasgadinho do lado porque você prefere assim. Falta tanto da sua bagunça na minha organização. A cama não se desarruma, tudo permanece no lugar. Falta tanto da sua risada gostosa, da sua gargalhada preenchendo o espaço vazio, falta o brilho dos teus olhos na escuridão do quarto, falta tanto das tuas manias e teus errados. Já nem digo quanta falta faz teu beijo e teu sexo, meu corpo ainda guarda teu toque delicado. O sabor do teu beijo misturado com o teu batom doce. Me sufoca e me ignora.
Falta tanta coisa no meio da falta que tu me faz. Tanta, mas tanta coisa!
Você não diz nada, mais uma vez a sua calma. Minh’alma grita por você... Enquanto isso a caixinha de música, a bailarina, o chimarrão e meus devaneios madrugadeiros.
Dança bailarina, dança...



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domingo, 31 de agosto de 2014

Nietzsche morreu cedo.

Nunca fui do tipo altruísta. E se tu estás à procura de palavrinhas bonitas sugiro que saia daqui e vá ler Fernando Pessoa, meu caro. Pois bem, continuando... Nunca fui do tipo altruísta. Filantropia não é meu hobbie. Aprendi a viver dançando no limite entre a solidão e a loucura, e solidão e loucura tem muito em comum. Poético e babaca, assim eu definiria se tu me pedisses uma boa definição. Eu nasci ao contrário, e eu poderia começar lhe dizendo que eu nasci enxergando beleza na podridão da vida, enxergando beleza nas pequenas doses de desprezo que ela tem me dado dia após dia, e eu devolvo de forma generalizada. Nasci com um pé no caos. Passei anos ouvindo que eu sou egoísta, filha da puta... Tornei-me então. Eu sou uma existência meio bagunçada, inexplicável, talvez alguém me explique mas eu não busco esse tipo de solução. Eu poderia viver minha vida de modo simples, alheio a bagunça das outras pessoas e não incluindo mais ninguém dentro desse meu caos diário... Ledo pensamento. Eu sempre fui a garota com problemas comportamentais que joga pedra em vidros de carros pelo bel prazer de foder a vida de alguém e mostra o dedo do meio pra velhinhas na praça. Sou um coração invertido cheio de emoções contraditórias. Você não entenderia nem mesmo se eu escrevesse cinco páginas sobre isso. Eu nunca paro. Nunca fico quieta. Eu estou sempre me mexendo, sempre... Eu preciso do movimento, eu preciso... Ainda bem que eu consegui conter minha mania de movimentar as pernas 24h por dia, era cansastivo. Sou uma pessoa absolutamente atormentada. Chega a ser irônico como hora ou outra eu sempre estou envolvida em algum tipo de descaso emocional. Estou sempre envolvida em todo tipo de problema possível. Engraçado. Estou sempre no olho do furacão. Eu sou o furacão. Uma maré de sentimentos. Não sei fazer nada pela metade, não sei amar pela metade, não sei odiar pela metade. Sou o cachorrinho chutado pela vida, que acabou por se transformar no cachorro que morde antes de latir, às vezes nem late mais.
Vivre vite, mourir jeune. Tenho isso tatuado no peito, significa: Viva rápido e morra jovem. Essa é minha filosofia banana. Parabéns pra mim, meu bem, mas não te aflijas... 


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sábado, 30 de agosto de 2014

1424.

Ouço sua respiração. Assustada. Acordo e olho pros lados, não há nada. O quarto continua intacto. E é sempre assim, toda noite se repete. Levanto-me da cama, abro a janela e acendo um baseado na tentativa de acalmar minha solidão. E então me bate aquela sensação de que eu ainda posso ser quem eu sempre fui, a sensação que me faz sentir como se eu ainda fizesse parte da sua vida, uma sensação dolorosa que me faz sentir como se eu tivesse a obrigação de te salvar de alguma coisa. Nem que pra isso eu dê minha própria vida. E aí é a parte que dói. Suas memórias estão por toda parte, guria. É inevitável que a gente se encontre vez ou outra dentro deste apartamento, dentro de alguma gaveta, em alguma fotografia. Nós estamos lá. Estivemos. Encontro o cheiro do seu shampoo no meu travesseiro, seu perfume impregnado no meu lençol, no meu corpo, na minha existência. O seu sorriso contaminando a minha mente... Seu rosto está em todos meus sonhos e até a porra da marca bem vagabunda de cigarros me faz lembrar você com suas piadas;
Eu queria esquecer.
Olho pra rua, as pessoas passam apressadas. Os carros correm o tempo todo lá fora. Pra que tanta pressa? Dou um trago no baseado. Eu nunca vou entender a pressa do ser-humano em viver.

São 3h09. 

Sei que não vou conseguir mais dormir e tem sido assim há alguns dias, meses pra falar a verdade. Quanto tempo mais vai demorar pra eu superar essa porra desse sentimentozinho do caralho?
Volto pra cama, o espaço vazio me joga de um lado pro outro. A janela continua lá, aberta... Como se por ali fossem fugir todos meus medos, todos esses sentimentos.
Engraçado. A minha vida se repete, dia após dia. Você sai, você fica com outras pessoas, você se apaixona por outras pessoas, você trepa com outras pessoas e foda-se, eu continuo esperando pela sua volta. E isso não está me levando a lugar nenhum, sabe? Esperar pelo impossível. Toda noite você está na minha mente, toda noite eu já tenho certeza que vai haver alguma coisa que me leve até você, pensamentos, sonhos, saudade... Eu penso em você nas coisas mais simples da minha vida, nas coisas mais simples do meu dia e no momento eu me sinto totalmente incapaz de ser alguém melhor e ter uma postura melhor em relação a isso. Em relação a “nós”.
Eu NUNCA vou conseguir aceitar que você se foi. Você foi por todo esse tempo (e ainda é) a melhor coisa que eu já tive. E eu fiz com que você fosse embora.

São 3h52 agora. 

A janela continua aberta. Os carros continuam apressados. E, como toda noite, eu continuo tentando fechar os olhos. A janela continua aberta. 4h01. O frio rotineiro e matinal de São Paulo já invade o quarto. Tudo continua em silêncio. Tudo está em silêncio há tempos. Pelo menos o interfone ainda fala comigo, às vezes. Levanto-me, acendo mais um baseado e alimento um pouco mais da minha dor e saudade. Olho pra baixo. São doze andares até a avenida. Sempre me perguntei quanto demoraria uma queda até o chão. Isso estragaria as vitrines bonitas e pomposas da rua. Quanto tempo demoraria? A minha queda, aliás, a queda da minha vida demorou quatro minutos e seis segundos. Foi exatamente o tempo que você usou pra dizer que não me amava mais. Quatro minutos e seis segundo.  Mas quanto tempo levaria até o chão? Aposto que levaria apenas segundos e seria bem menos doloroso. Não tem volta. Respiro fundo. Trago o baseado. Continuo olhando fixo lá pra baixo. O vento frio bate no meu rosto, sequer deixa que as lágrimas escorram. Já não sinto o chão. Não posso mais me proteger de mim mesma, nem desses pensamentos. O baseado acaba, acendo outro logo em seguida, minhas mãos estão suadas, geladas... num piscar de olhos me encontro sentada no parapeito da janela. Ironicamente, sorrindo, imagino a sujeira que eu causaria quando encontrasse o chão. Sorrindo, prestes a cair do décimo segundo andar. Não há sacada. A queda é mais rápida que quatro minutos e seis segundos. Já não sinto mais dor. A sensação de liberdade toma conta do meu corpo. Estou livre, estou livre... E então meu grito acorda a vizinhança.
Assustada. O grito foi inevitável. Acordo e olho pros lados, não há nada. O quarto continua intacto. Eu continuo deitada na cama. Não há queda. E é sempre assim, toda noite se repete. Levanto-me da cama, abro a janela e acendo um baseado. E então me bate aquela sensação de que eu ainda posso ser que eu sempre fui, a sensação que me faz sentir como se eu ainda fizesse parte da sua vida, uma sensação dolorosa que me faz sentir como se eu tivesse a obrigação de te salvar de alguma coisa. Nem que pra isso, eu dê minha própria vida.

Eu vou acordar o vizinho, eu vou riscar os corpos, eu vou te telefonar...
... E dizer que eu só preciso dormir...




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terça-feira, 26 de agosto de 2014

Você procura por algo mais.

A chave está na sua portaria” – Avisa a mensagem que chegou no celular. Acho que é o fim. Talvez o fim em si, dito em alto e bom tom... enfim anunciado. Acabou e eu me pergunto: como acabou? Você falou tantas coisas, apontou tantos erros mesquinhos. A sensação que tenho é que eu dormi e quando abri os olhos você já estava retirando das prateleiras nossos retratos, guardando suas roupas. E foi assim... Assim que eu me lembro, pelo menos.
Certo, você se foi.  Parei de contar e dramatizar tanto quando percebi que já são quase três meses. Quase noventa dias. São dias pra caralho pra eu acordar com o vazio na cama, acordar sem teu bom dia. Não posso dizer que não andei dramatizando, bebi tanta tequila uma noite que acabei sentada no chão do apartamento tentando te ligar, não sei nem qual seria sua reação se o teu telefone tivesse chamado aquela madrugada. Eu ainda dramatizo, em cada novo beijo que eu dou em cada novo boca que eu encontro e em cada novo coração que eu tropeço e caio em cima, eu dramatizo quando respiro. Sinto-me como se eu estivesse presa no “e se...?” e isso tem me deixado louca. Nunca vai existir esse tal de “e se...?”. Você já deve estar construindo seu novo conto de fadas, enquanto eu durmo toda noite com a porta destrancada caso você ache que já seja hora de voltar.
Não é por nada, só queria lhe contar: noite passada eu conheci alguém com o mesmo nome que o teu. Sorriso diferente, olhar diferente, beijo e sexo... Tudo diferente. Não pude evitar comparações. Não pude deixar de desejar lhe esquecer com a mesma frequência com a qual me lembro. 
Não seria incrível, meu bem, se eu conseguisse te odiar com a mesma intensidade que eu te amo?



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quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Me venha e eu te vou.

Pessoas comuns são feitas de pele, de ossos, nervos, músculos, sangue pulsando, coração batendo, bombeando sangue por entre as veias, preocupações. Eu sou feita de sentimentos incabíveis e sensações que pulsam mais do que qualquer coração e bombeiam pensamentos mais rápido que o sangue que corre por entre as veias. Eu sou feita de você. Meu coração pulsa, bombeia saudade de você, contamina tudo que eu sou, estou doente. Eu já não sei bem o que eu sou ou que eu vou ser quando isso acabar. Sou meio que um órgão transplantado, outrora sem uso, que ninguém quer, um coração que aprendeu a bater sem motivo, fora do corpo. Eu queria estar em você, eu queria ser o vermelho dentro das tuas veias e ser tudo que cobre a retina do seu olhar, meu bem, queria ser a sua vida. A vida da sua vida. O sorriso nessa boca, o ar que adentra seu pulmão. Deixa-me entrar no seu corpo, ser contigo a história de amor carnal, humana e banal. Mastigaria por ti toda nossa distância, comeria estradas, engoliria as nossas diferenças (seja qual diferença for). Tenho um sorriso, corpo, alma, pensamentos, letras, poesias, versos apenas pra você. Doo-me como quem doa o que tem de mais valioso. Você nunca retribui. Sorrindo, ainda me diz “Ah meu bem... Eu não gosto de amores vomitados”. Se quiser saber, meu coração ainda não aprendeu a bater fora do corpo.
A saudade ainda é a secreção mais pútrida do ser humano, o que convenhamos, é uma pena, morena.



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segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Saiu por aí dizendo que me tinha quando quisesse, contou tanto com a sorte, vivia dizendo aos quatro cantos da cidade que eu era seu cão fiel e que eu fazia tudo que você mandava.
Nossas brigas sempre foram ao limite do extremo.
Hoje vejo que você estava realmente certa, você me pediu pra te esquecer...
Fiz o que você mandou.



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quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Tu vens, tu vens... Eu já escuto os teus sinais.

Vem pra cá. Posso te dar mais de cem motivos, mas só sei dizer que é porque a saudade cresceu demais e eu já não tenho mais espaço aqui no peito pra guardar. Vem pra cá, fuma um beck comigo na minha cama enquanto eu rio do mundo, do seu pijama e dessa sua cara linda de chapada que eu amo demais, enquanto tu me explicas um monte de teoria barata com esse teu ar inteligente. Vem. Vamos fazer cookies ruins e fazer apostas bobas sem que nenhuma das duas tenha a intenção de ganhar, mas tu sempre ganha e me ganha também. Guria vem pra cá! Vamos aos parques da cidade encantar pessoas de todas as idades sendo só mais um casal apaixonado e comum. Ou vamos ficar em casa dividindo nossos segredos até o sono chegar, se bem quando tu vens ele nem passa perto daqui. Vem pra cá, quero te ouvir contar como é que foi tua semana, te ouvir dizer o quanto me ama e te ouvir planejar a semana que vem. Vamos comer sua comida favorita, fazer tudo que você quiser. Vem pra cá, e eu te faço esquecer teu chefe chato, o trabalho da faculdade que tá vencendo o prazo de entregar. Vem pra cá. Coloca ali no rádio tuas músicas românticas ruins, vem e me deixa ter o prazer de ouvir esse teu discurso de garota apaixonada, me deixa sentir aquela sensação boa de te ouvir subindo as escadas. Vem pra cá, vamos ver episódios repetidos dessa sua série chata e prometo rir mesmo que eu não tenha entendido a piada. Espero-te, quero te mostrar o que andei escrevendo pra ti, te fazer sorrir e guardar o papel como se fosse uma grande preciosidade, vamos dividir meu colchão de solteiro, dividir um beck inteiro, vamos chorar com qualquer filme de cachorro, fazer dupla sertaneja no chuveiro e dar risada quando alguém errar a letra. A distância que se faz presente todo dia tira um pouco da gente, então vem que a gente pode agir como se tivéssemos seis anos, acampar dentro de casa, piquenique no parque e o que mais você quiser meu amor. Vem pra cá, que a saudade tá grande demais, que não dá certo você aí e eu aqui sem sequer meu beijo de boa noite e teu cheiro que me acalma a alma...


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terça-feira, 15 de julho de 2014

O nome dela é...

Existe algo que me prende no seu sorriso... Você sabe.  E eu queria começar deixando isso claro. Existe nesse teu sorriso algum tipo de ímã natural que me faz querer estar perto de ti. Eu amo teu sorriso. Eu amo teu cheiro. Eu acho que amo até seu jeito de me deixar irritada quando você quer (E você parece sempre querer). Tu sabes que vence qualquer coisa com o teu sorriso? Eu sei que você sabe. Eu não sei exatamente o que sinto quando te vejo sorrir e muito menos o que eu sinto quando você está perto, e mesmo que eu pudesse explicar eu mal saberia usar as palavras pra expressar tamanha importância de você na minha vida hoje. Sem rótulos, meu amor, nós não precisamos de rótulos, eu acho. Mas me responda minha moça: Querer estar perto de alguém, querer proteger essa pessoa é uma forma de amor? Seria esse amor válido? Sabe quando você sente um sentimento tão bom pela pessoa que você simplesmente desapega de qualquer rótulo, de qualquer outra coisa? Ah. E agora? É uma forma de amar alguém? E quando você passa a achar tua baladinha preferida um saco só porque a pessoa não está por perto? Ou quando você se vê ao ponto de largar qualquer festa, qualquer encontro com os amigos só pra ver um filme ruim com a pessoa? É normal você desejar ouvir uma música que você odeia, mas quer ouvir só porque a pessoa gosta e vocês ouviram juntas? Você já sentiu uma sensação de vazio depois que a pessoa te dá boa noite e vai dormir? É normal você vê algo tão legal que você precisa mostrar pra pessoa e você sabe que ela vai rir e o mais engraçado: você quase consegue ouvir a risada dela e isso te faz bem, isso te acalma? Tá. E agora? Se isso não for algum tipo de apaixonamento, juro que nem sei o que é... Tu sabes que leva somente 0,2 segundo pra se apaixonar por alguém? Mas sem rótulos, meu amor, eu juro.
Isso pode não ser amor e tudo bem se não for! Eu não preciso ser o grande amor da sua vida, só ser o motivo do seu sorriso HOJE (e com sorte amanhã também) já está de bom tamanho pra mim. Agora... Sorria-me antes de eu ir dormir.


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quarta-feira, 2 de julho de 2014

Você estava certo, Jair.

São Paulo, 02 de Julho de 2014.

Você estava certo, Jair... Ela não ficou. 
E desculpe-me por ter duvidado das suas palavras, meu caro.
Escrevo-te pra dizer que ela está agora em qualquer outro lugar onde há toda felicidade do mundo jogada aos seus pés, acredito que era exatamente essa a necessidade dela: se alimentar de amores vazios que ela encontra facilmente por aí, ela precisa queimar olhares pra sentir-se bem e o máximo que eu poderia queimar com ela é um baseado, convenhamos.
É, eu continuo aqui, presa na cidade cinza. Aqui não tem cor de nada, não tem o sorriso dela achando graça das minhas manias idiotas e nem o perfume dela grudado nos meus poros. Dos poros ao pó.
Acabou Jair.
Acabou e daqui não posso amar, aqui não tem mar, aqui não tem amor. Não existe amor nem quando eu olho pra dentro de mim, Jair, consegues tu imaginar o quanto isso tem sido desesperador? Uma grande tela branca sem sentido e sem rumo. Eu ando me assustando com a superficialidade das coisas, eu queria ser daqui dessa cidade cinza, ser cinza também e entender porque as pessoas não se olham. Elas se vêem, entende Jair? Mas elas não se enxergam. O amor aqui parece invisível aos olhos de quem me vê, ou talvez de fato já não haja amor incumbido ao meu ser. Eu achei que o amor fosse algo real, me digas tu meu velho: Tu já conseguiste tocar o amor? É algo palpável? O amor tem um gosto? O amor tem uma vista bonita como olhar dentro dos olhos tempestuosos daquela mulher? Que som o amor faz? O amor tem um cheiro doce? Platão tinha razão quando concluiu que o amor era uma grave doença mental? Não te esqueças de me responder.
Eu continuo presa às correntes que ela me impôs, a chave ela deve ter mastigado e engolido junto com um pedaço do meu coração. Eu acho cafona sofrer de amor e eu já nem tenho mais idade pra isso, convenhamos. Mas ela chegou ao fim e eu ainda estava na metade, na metade que ainda me pertencia. Pelo menos algo em mim ainda me pertence, mesmo que tudo que me pertença sejam todas as coisas que eu mais quero me desfazer. Por que diabos eu não lhe dei ouvidos e acabei por colocar aquela garota num pedestal? Ela é fria, Jair, tal como Agosto. Ela não levou sequer vinte segundos pra sair desta casa, dessa casa que era nossa casa, que tantas e tantas vezes a ouvi chamar de refúgio. Bateu a porta, me olhou com dó e disse que eu encontraria um novo amor. Sigo desacreditada de tais atitudes. Ninguém foge do refúgio, porra.
Vou encontrar qualquer outro alguém, eu sei Jair. Mais dia menos dia meu coração ainda vai esbarrar em algum outro novo sorriso por aí, mas por enquanto o máximo que tenho feito é sessões de reapaixonamento enquanto releio todas as cartas que ela já me escreveu na vida, e revejo os vídeos, as fotos, tudo. Malditas sejam estas cartas que ela escreveu e as memórias que ela criou com tamanha perfeição que agora não saem mais da minha cabeça, mil planos planejados por nós. Ela saiu pela porta e esqueceu de levar com ela tudo que me lembra ela, todo esse acumulo gigantesco de memórias e mais memórias. Malditas sejam as memórias daquela mulher que me persegue, me acua.
Diga-me: já conseguiste pensar na resposta para minhas perguntas sobre o amor? Na minha concepção o amor nada mais é que essas palavras que eu vomito por aí, mas que se baseiam todas nela. 

Eu nunca tive nada na minha vida, nem foco, nem rumo... Nada. Vinha na estrada da vida há 200km/h quando bati no muro que é aquela mulher e parei por ali. Grande coisa, tu vais vai dizer aposto. O amor, ou aquilo que eu chamo de amor, se deu mesmo quando ela sorriu pra mim e eu me esqueci de perguntar qual era teu nome ou telefone, e depois me tocado disso, temendo que eu nunca mais voltasse a vê-la em uma nova oportunidade. Eu quase não acredito que a encontrei. O abraço dela era um lugar só meu. Porto seguro, amor infinito, ou quase infinito. O amor era isso. O amor foi isso. O amor era cada post-it colorido colado na parede do quarto porque ela sabia que minha memória era ruim, cada bom dia, cada novo olá, cada novo eu te amo. Hoje o amor se ausenta em cada carta que eu nunca recebo, em cada sorriso que eu não vejo. Não me venhas com essa de que o amor é lindo, que o amor é algo bom, que o amor é como música. Por que tu nunca me disseste que o amor tem prazo de validade, meu caro?
O amor acaba?
O amor realmente pode ser uma bossa, Jair. Ou uma bosta.


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segunda-feira, 30 de junho de 2014

Cravo e canela.

Você me tira do eixo, é um ciclo vicioso, eterno, um desatino.
Tu és viciante, cravo e canela. Doce como o mel da abelha venenosa. E eu tenho alergia ao mel, às abelhas, às flores e aos meus outros milhões de amores. Passados, amargos, antigos.
Eu deveria ter tido alguma relação alérgica a ti quando permiti sua entrada na minha vida, não tive, nada, nadica de drama, não houveram mentiras, não houve um lado negativo, não houveram mais outras pessoas.
E você se instalou aqui, dando lugar à expressão de novos sorrisos e novos sentimentos.
Acostumei-me com tua presença e teu cheiro doce e você se acostumou com o meu jeito de viver em outro mundo. Já não há mais um “tu” sem meu “você”. Já não há mais sua praia sem meu asfalto.  Já não há mais você sem mim. Tinha que ser assim. Você pra mim, por mim. Eu pra você, por nós.
Que assim seja, cravo e canela, assim será.
Que a saudade de você não me mate antes possa lhe repetir "sim" todos os dias da minha vida. Que a minha ida até você não demore tanto pra acontecer. Que novembro adentre rapidamente nossa casa rosa, aquecendo nossos corações, chovendo companheirismo e inundando apenas a felicidade, o amor e a vontade de te dizer te amo, obrigada.


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domingo, 29 de junho de 2014

Moleton.

Hoje fez frio. Tirei do guarda roupa aquele meu moletom em listras tons de cinza que tu tanto gostavas de me ver usando, por um momento pensei não existir mais nenhuma memória sua dentro deste apartamento. Ledo engano, minha cara. Nada mudou e por mais que eu tenha mudado absolutamente tudo que me lembrava de você, eu ainda te encontro aqui dentro de mim. Suas memórias são como aquela visita indesejada e inesperada que chega sem avisar, às vezes eu até gosto, convido teu sorriso para um chá e coloco uma música que agrade tal visita, às vezes isso acaba com meu dia, minha noite, minha semana, minha vida. Percebi que ainda me sinto como se eu pertencesse a ti. Talvez eu pertença. Ainda tenho uma foto sua colada na porta do meu guarda roupa, que até hoje não sei por que ainda não tirei. Faz-me sentir bem te olhar e saber que as raízes de quem em outra primavera foste minha flor crescem agora no jardim de outro alguém. Na verdade, flor, foi lá que tu sempre estiveste plantada, não é mesmo? Nunca foste de fato minha. Nunca fizeste parte do que eu sou, do que eu fui. É uma sensação violenta pensar assim, maldito choque de realidade, maldito seja o teu sorriso que é o maior causador de tudo isso, malditos sejam os domingos de saudade. Na verdade, malditos sejam todos os dias de saudade.
É. Vesti o moletom e até que me senti bem usando depois de tanto tempo. Acredita que ainda consigo sentir nele o cheiro do seu perfume misturado com o cheiro do seu cigarro? Claro que eu continuo odiando o cheiro do seu cigarro, mas deixa... Só hoje, só agora eu gostaria que tu estivesses presente aqui, fumando sentada nesta sala, soprando a fumaça na janela. É, flor... Bateu saudade. Será que se eu colocar uma placa de "Não alimente a saudade" na minha cara você para de me deixar assim, mesmo que tu não faças a menor ideia de que, mesmo depois de todo esse tempo, a saudade de você ainda me visita?
Passei o dia todo pensando em como seria se tu ainda estivesses aqui, isso até me surpreendeu, você sabe, eu tenho aquela velha mania de “não lamentar o leite derramado, não discutir com o destino”. Maktub. Maldito maktub que não se aplica a nada no momento além da tatuagem e filosofia não correspondente com a minha realidade. Nada disso estava escrito, flor, nós sabemos. E se eu tivesse te escrito mais canções de amor pra te fazer rir e sorrir? Mais poemas só pra te dizer que eu te amava pra caralho? E se eu tivesse te dado melhores (bons) dias antes de levantar da cama? Se eu tivesse reclamado menos do cheiro do seu cigarro e fumado mais baseados contigo? E se eu tivesse te enchido de elogios banais só pra dizer que eu amo a cor dos seus olhos, o tom da sua pele, o jeito tão apaixonante como você sorri? Você ao menos sabia que quando você não estava por perto eu sentia uma vontade imensa de te abraçar forte como da primeira vez que te vi? Não sei e desisto de tentar saber.
Você costumava dizer que nós éramos iguais a um conto de fadas, e eu já nem sei quantas coisas eu fiz pra te esquecer, pra te tirar daqui de dentro, te desalojar do meu coração, não sei quantas outras princesas eu conheci, e você não tem ideia de quantos novos contos de fada eu já tentei escrever, em vão. Você sabe que foi em vão. Você foi perfeita e insuperável, talvez essa seja minha maldição: conviver com a sua saudade, flor. Tu foste realmente perfeita, só esqueceu-se de me avisar que nem todo conto de fada termina em sorrisos e finais felizes. 


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quarta-feira, 25 de junho de 2014

Vive la vie.

Respirou fundo como se tivesse todo o tempo do mundo em suas mãos, não tinha nada...
Quer dizer, mais nada, mais ninguém ao seu redor onde pudesse encontrar palavras clichês que serviriam de consolo ou até um abraço apertado que dissesse “Estou aqui”.
Não tinha nada. Na mesa a vodca ruim da garrafa de plástico era o veneno que usava assiduamente pra se matar aos poucos. Tão lindadiziam as pessoasmas parece viver num mundo paralelo a esse. Ela vivia aqui, no tal mundo cruel, talvez ela fosse deste mundo mais do que qualquer outra pessoa, ela tinha noção do quão perigoso uma pessoa podia ser a si mesma, ela tinha sido, nos últimos vinte e quatro anos, seu pior inimigo, tinha brigas terríveis com sua consciência e vivia constantemente numa guerra consigo mesma. Não que fosse má, mas seria se pudesse, não que também não seja egoísta em toda ocasião que pode.
Vivia numa guerra tão desnecessária quanto estar viva. Seu sonho era escrever mais, ter mais tempo pra conhecer as ruas do seu bairro, se conhecer, ter mais tempo. Tempo pra ser viva. Viver.
Cada dia em que ela acordava era uma luta vencida, mas... Pra quem?
Nem ela sabia.



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quarta-feira, 18 de junho de 2014

dégât

Ando escrevendo pouco. Decidi viver pra vida, sair deste quarto e respirar qualquer ar diferente, não resolveu. Troquei minhas noites por drogas alternativas cujas promessas eram me manter acordada, não resolveu. Troquei meu coração por uma garrafa de vodca da mais vagabunda e alguns cigarros ruins e parei de sentir, mas não resolveu: voltei a pensar e descobri que pensar também machuca, pensar também é algo absolutamente devastador, guria. Andei fazendo tanta coisa diferente nos últimos dias que estou quase fazendo uma lista com todas as coisas idiotas que eu fiz pra te esquecer. Você provavelmente daria risada da minha cara agora, veja só, você me disse uma vez que eu tinha que parar de iniciar projetos e não concluir. Esquecer-te é só mais um desses meus projetos que eu nunca vou conseguir terminar. Você é um ciclo sem fim. Gritei teu nome e ninguém me respondeu. Gritei de novo e a saudade quase me mandou tomar no cu, porque nem ela quer mais te sentir. Eu não aguento mais essa sensação de vazio que eu carrego, o vazio pesa, eu não aguento mais respirar seu cheiro doce sem você estar aqui, sem você estar sequer na mesma cidade que eu, eu não suporto mais essa intoxicação amorosa que não cura nunca. É como uma espera inconstante pelo que eu sei muito bem que não vai vir. É cansativo, é uma busca que não dá sequer uma trégua pra que eu possa respirar. Batalha sem motivo. Guerra sem fim. Malditos sejam os domingos de saudade, flor. Malditos sejam todos aqueles que te afastam de mim. A verdade é que eu desaprendi como ser eu mesma, perdi o jeito, passei do ponto. Devo ter esquecido meu amor próprio em alguma mesa de bar por aí. E tudo bem, guria! Eu continuo vivendo, enquanto morro de amores por você.



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quinta-feira, 12 de junho de 2014

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Ainda é sobre você.

E mais uma vez me pego aqui, parada em frente a esta tela branca, pálida, tentando escrever algo digno da sua atenção, algo que faça com que tu reflitas sobre o que fizeste comigo. Tu não sabes o mal que andas fazendo ao meu mundo, guria. Pois bem... Desde que você se foi flor, é como se eu tivesse parado completamente de viver, esperando assim por uma volta sua que convenhamos: todos sabem que não vai acontecer. Não de novo... Digo, eu não teria essa sorte de novo. E talvez isso não seja mais sobre sorte.  
Desde que você decidiu que não me amava mais eu meio que deixei de existir, tenho crises existenciais constantes e tão desprezíveis que fico imaginando porque é que eu fui depositar todo meu mundo em ti, guria. Desde que você decidiu que não me amava mais eu não escutei aquela musica, sabia? É uma música que eu tive que tirar de todas as playlists. Alterei o caminho que faço até o trabalho porque se tornou algo doloroso passar pelas ruas que nós passávamos todos os dias, "nossas" ruas. Parei de viver. Voltei a fumar, voltei a beber meu uísque vagabundo às vezes também, troquei nossos discos de blues por livros de auto ajuda tão ruins que eu só leio quando estou bêbada. Parei de frequentar aquela cafeteria hipster famosinha que você adorava e que a cada vez que íamos dávamos um nome diferente aos atendentes. Você guardava os copos e eu achava isso tão engraçado, mas essas atitudes eram tão, sei lá... Tão você. Desde que você decidiu que não me amava mais eu não uso aquela camisa com a estampa da sua banda favorita, que tu me deste só porque sabia que eu não gostava, mas eu usava pra ver aquele teu sorriso bobo, como se dissesse "venci". A verdade, guria, é que desde que você decidiu que não me amava mais é como se eu tivesse feito minhas malas e me mudado de mim, saído pra fora do meu corpo, desta casa cheia de coisas, cores e memórias suas e vazia da sua presença, do seu cheiro, do seu ar, é como se eu tivesse saído desta rua sem saída, desta cidade, deste mundo. É como se em algum momento eu tivesse apenas desistido de mim e me mudado do que eu costumava ser, de quem eu era por você. Eu era a prova viva da tal teoria de ter se tornado alguém melhor.
Só que agora, flor, me sinto tão vazia que é como se o tal alguém melhor tivesse saído pela porta, correndo atrás de você. Só restou eu aqui, parada em frente a esta tela com meia dúzia de palavras...



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terça-feira, 27 de maio de 2014

Abeille - Parte Três (Se o que eu quis se tornasse real...)

Eu amo tua voz de sono e teu cabelo bagunçado invadindo meu travesseiro, sabia? Ah, menina, eu amo quando você acorda de madrugada e conversa comigo enquanto seus olhos vão se fechando lentamente e você dorme no meio do assunto. Amo seu sorriso quando eu digo que te amo antes mesmo de lhe desejar um bom dia e dizer que você é linda até com pijama furado e cabelo bagunçado. Amo a malicia com a qual você me beija antes de dormir e por causa disso, às vezes, a gente não dorme... Amo sua desorganização, a bagunça que você faz em todo lugar. Amo o jeito como você tenta me fazer sentir amada. Amo cada uma dessas tuas manias tão bobas, que com essa nossa convivência acabou se tornando um charme a mais pra ti. E você é linda, meu amor, você é linda e eu amo seu jeito de pacificar meu dia, de me encher de sorrisos com cada mensagem pra dizer que me ama, perguntar se tá tudo bem ou só dizer que está com saudade. Amo o jeito como você me beija quando me encontra, amo o jeito que você me abraça quando a gente precisa se despedir... E eu sinto que é você em cada segundo perto, em cada segundo longe, em cada dia que a gente passa juntas ou morrendo de saudade uma da outra. É... E se pensar, eu acho que sempre foi você. Eu sabia que seria você. Posso jurar que alguma vez, em algum tempo passado, eu tenha sonhado com uma espécie de anjo ou força equivalente me dizendo que eu te encontraria. Desacreditei, é claro... E demorei vinte e quatro anos pra perceber que desde o começo era você. Desde a primeira palavra, desde a primeira vez que você me fez sorrir, desde a primeira vez que eu te vi minha linda, era você. Quando penso em você é quando eu percebo que todas as outras meninas perderam a graça. E se você ainda precisa saber, meu amor, eu te amo sim.


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Repetições insignificantes de um passado que ainda não passou.

Hoje é dia vinte e sete, de maio de dois mil a quatorze. Mais uma vez estou olhando pra ela, enquanto ela chora baixinho, sentada num canto da cama, recolhida, quase que em posição fetal, como se ela se guardasse, se protegesse de alguma coisa. De mim, eu acho. Eu não digo nada. Ela continua chorando, sem me olhar... Ao fundo sua playlist repete Placebo - Se ela soubesse o quanto eu odeio Placebo - Deve ser a quarta ou quinta vez que essa porcaria de música toca. “Protège-moi”. Há quanto tempo estou nesse quarto? Meu Deus. Sinto-me perdida, num frio cortante, num espaço vazio, um buraco que se fez entre nós, um vazio tão agonizante. E ela então me olha, o mundo parece recobrar a cor, um olhar quase que implorando por piedade, como se esperasse por alguma desculpa, alguma explicação, até mesmo um abraço ou qualquer coisa que a faça sair daquele estado caótico em que ela visivelmente se encontra... Nada. Não digo absolutamente nada. Minha mente fica à deriva, vagueando por entre os móveis, a cama, a aliança delicadamente colocada sobre a mesinha, a taça de vinho tinto sobre o criado mudo, um silêncio doentio dançando entre meus dedos que buscam por meu baseado já apagado no cinzeiro, nossas roupas no chão, o lustre, os quadros, minha respiração e cada uma das lágrimas que ela já derrubou nesse espaço de tempo... Meus pensamentos estão soltos no ar como as desculpas e outras tantas coisas que eu deveria dizer a ela e nunca disse.
- Você estraga as pessoas. – Ela diz, pausadamente, quebrando o silêncio e a barreira entre nós com uma voz tão pacifica que chega a acalmar qualquer vestígio de inicio de caos ou rebelião dentro daquele quarto. Eu paro e a encaro, firme. Enquanto ela tem seus olhos fixados na parede branca. – Você é uma idiota. Você deve sentir algum tipo de prazer babaca e sádico em foder com a vida de qualquer pessoa que se aproxima de você, que cruza seu caminho e quer seu bem... Eu odeio você. – Ela diz, enquanto diminui o tom. Inexpressiva. – Eu odeio você...
Eu já nem sei por que permaneço aqui, me sinto anestesiada, entorpecida, distante de mim, sinto meu corpo desobedecendo qualquer ordem dada pelo meu cérebro pra fugir desse apartamento o mais depressa possível, fugir pra bem longe desse ar que me sufoca e dela... Dela que me mata com um olhar, dela que me faz querer sair nem que seja pela janela, despencando nove andares abaixo. Sinto-me mal, minha cabeça dói como se eu estivesse na pior ressaca da história da humanidade. Eu já não entendo porque cedo às suas vontades, não sei por que fico pra ver o que acontece quando tudo isso acaba, quando o sorriso dela se transforma em ódio, quando o gosto do beijo dela amarga e quando meu baseado apaga. Ou quando ela joga nossas fotografias guardadas em molduras bonitas pela janela. Uma porra de mentira embalada. E lá fora chove... A vidraça quebrada por ela com o retrato de moldura bonita alguns minutos atrás agora deixa vazar todo o ar frio desse vento que nunca para, e obviamente que se faz em Santos hoje.. É madrugada. “Meu Deus, meu Deus... Que horas são? Eu preciso ir pra casa.” – Repito mentalmente.
Que porra de sensação é essa que me abraça? Porque eu sinto isso toda vez? Talvez eu sentir já seja meio caminho pra concordar que o clima estranho que se faz presente é minha culpa, como se fizesse parte de nós. Ela continua imóvel, intocada, nua. Eu me visto enquanto ela canta "Protect me from what I want... Protect me from what I want...". E me olha, como se fizesse pra me provocar, como se cantasse pra mim, como se a garota quebrada e sensível de três minutos não fosse mais ela, como se me desafiasse pra uma batalha, como se pudesse me matar. E pode. Dói. Dói de um jeito que eu jamais pensei que fosse doer. Sinto vontade de correr, descer as escadas dos nove andares do prédio dela, fugir. Sinto como se meu coração parasse a cada frase que ela ousa me dizer, sinto como se cada palavra que ela dirige a mim me atropelasse, me acertasse bem em cheio, passando por cima de qualquer reação que eu possa ousar ter. É como se o ódio dela arrancasse meu coração daqui de dentro e rasgasse toda a carne. Faz-me parecer pequena, me enfraquece, me inutiliza... A cada tentativa de revidar sinto como se as palavras ficassem presas na minha garganta, é sufocante, desesperador, como nas noites em que eu tenho sonhos que ela cai dessa janela e eu acabo parando de respirar por quase um minuto inteiro.
Eu já nem sei por que AINDA estou aqui, sequer me lembro de como vim parar nesse quarto e muito menos por que eu acordo na cama dela quase todos os finais de semana. Devo sentir prazer em parecer um verme perto dela. Nada nunca vai mudar. Eu nunca vou mudar. Estamos amadurecendo e as discussões já não nos levam pra lugar nenhum. “A gente fazia um casalzinho tão lindo que até hoje as pessoas perguntam por que é que a gente não volta.” – ela diz. “Bipolar.” – penso e sorrio, acho que estou chapada demais pra querer avisar pra ela que a vida não é e nunca vai ser nenhum comercial de margarina... Esboço movimentos leves enquanto calço meu tênis e ela me pede pra ficar, dou os dois últimos dois tragos no baseado e jogo a ponta pelo vidro da janela– Ou pelo que restou dela.
 Fica... Por favor... Fica.” “Não, eu vou embora, me solta!” “Não... Não me deixa.” “Eu não sei nem porque vim.” - Não sei mesmo, nunca sei.
Às vezes fico ensaiando diálogos que eu e ela bem provavelmente nunca vamos ter. Meus amigos dizem que eu mudei muito desde que ela se instalou em mim. Dizem que eu faço um puta drama mexicano com tudo isso. Acho que eles querem dizer que toda minha parte boa continua sendo ela. Talvez seja. Talvez fosse. Talvez a presença dela me torne um pouco mais doce, aquela porcaria toda sobre se tornar um ser humano melhor, sou uma peça com defeito, feia e sem encaixe, mas ela faz com que eu veja o mundo com um olhar mais positiva ou coisa que o valha. Eu não sei explicar. E tudo bem, isso já não importa. Ela sorriu... Eu olho diretamente pr’aquele sorriso e...
Caralho... Agora sei por que fico e amanheço ao lado dela... Eu não devo mesmo ter o mínimo de amor próprio, foda-se.



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domingo, 25 de maio de 2014

Eu não sei a origem da palavra saudade.

Tudo é composto de silêncio, de vazio. Tudo é só um vazio preenchido.
Deitada no chão eu assisto a vela queimando no canto da sala, e se não fosse aquela chama, de frágil iluminação, tudo seria escuro...
E embora pareça, o escuro não é vazio.
Vazio a gente pode preencher com qualquer coisa e escuro não.
Escuro traz com ele todas nossas mágoas e incertezas, traz a saudade.
Talvez o escuro seja feito pra pensar e não pra dormir.
Talvez essa sua ausência seja a explicação desse vazio.
Talvez a falta daquele teu sorriso seja a explicação pra tudo isso.
Saudade não é vazia também, saudade traz memória, que traz mais saudade...
É... basicamente tudo acaba em saudade.
E vazio.



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sábado, 24 de maio de 2014

Nunca reaprendi a existir.

Acho que quando nascemos pra este mundo, nós viemos carregados e sufocados de coisas de vidas passadas.
A nossa mente já vem com uma porção de coisas de outras vidas, sabe? Talvez alguns sonhos, medos e até lembranças de coisas que nessas vida a gente nunca viveu, sorrisos de outras almas e grandes amores que muitas pessoas não vão poder reviver nesta vida. Se minha teoria estiver certa eu acho que você é um desses amores, dos grandes. Acho que o grande barato da vida é isso. Ou foi isso. Oi ainda será isso.
Só não consigo entender... Tantos e tantos anos te buscando... Pra quê? Pra te desencontrar em cada novo encontro. Eu sinto falta do seu beijo, do seu sorriso e do seu ar. Sinto falta de você deitada do meu lado, da sua respiração acelerada e expressão calma que você costumava ter enquanto dormia, do jeito como tu ronca bonitinho quando está cansada, do seu cabelo dourado bagunçado e incrivelmente lindo pela manhã, leoa da minha vida.. Sinto falta da sua vida confundindo e se fundindo à minha, me trazendo desassossego de uma forma tão calma e pacífica que eu chego a confundir essa sensação com paz, quando você entrou na minha vida o caos pediu arrego.
A linha da sua vida é ligada à minha, somos o errado que deu certo. E errado de novo, logo após.
Minha alma ainda é ligada à sua, somos um e sempre seremos.
Eu ainda vou chorar as mesmas lágrimas que você e também sorrir ao lembrar das nossas memórias tão lindas, compartilharemos ainda dos mesmos sorrisos. Teu cheiro ainda está impregnado em cada célula que compõe meu corpo, em cada fio de cabelo. Está aqui, está em mim.
Penso de verdade que somos apenas uma, sem nenhum exagero...daqui até a eternidade, nossos destinos foram traçados por nós mesmas.
Talvez os romances mais bonitos tenham sido inspirados em nós, como Romeu & Julieta ou qualquer outro romance onde o mocinho se fode muito esperando pela mocinha. Talvez nessa vida eu tenha nascido vilã, e você, mocinha. E teu jeito tenha mudado tudo em mim. Penso assim e sorrio... Engraçado como a presença de alguém pode mudar tanto uma vida inteira.
Ainda não me desfiz das nossas fotos e não desarrumei nada do que você deixou. Não sei nem quando farei isso, então por enquanto tudo continua exatamente igual. Acredita que teu casaco vermelho ainda está pendurado atrás da porta? Lembra como você era louca por esse casaco? Lembra do jeito como ele te deixava linda? Eu era muito boa em fingir que odiava, e sempre dizer que ficava brega. E você sorria e me beijava. Devo admitir que você ficava linda no casaco ou em qualquer outra coisa que usasse, até naquele pijama furado ridículo que você costumava dizer que usava quando eu não merecia dormir do teu lado, eu sempre dava risada...
Você nunca me disse adeus, por que? Penso que talvez um dia você volte e vá odiar meu cabelo raspado e minhas tatuagens novas, dizer que odeia minha cara de rebelde quando to careca.
Eu mudei.
Você também deve estar muito mudada. Deve continuar chata do jeito que sempre foi. Você nunca deveria ter me deixado.
Fico pensando que qualquer dia você vá me encontrar de novo num café qualquer, sentar ao meu lado e comentar sobre o livro que estou lendo, como na primeira vez. E se você fizer isso, logo aviso, vou te achar chata e efusiva da mesma forma, mas vou lhe passar meu telefone e sorrir quando você ligar pra falar mal do meu livro, talvez dessa vez eu realmente leia o livro que você me indicar. No dia em que você fez isso, eu te odiei tanto que salvei seu número como "menina louca do café", com a ideia fixa de nunca mais te atender. Inevitável. Te atendi em todas as vezes que você ligou. Nunca lhe disse, mas na manhã seguinte àquele show que você me levou daquela sua bandinha chata e favorita, eu acordei explodindo felicidade. Nunca em toda minha vida tinha sido daquela forma. Lembro-me exatamente da forma como você me olhou aproximadamente três segundos antes de eu te beijar, de como seu beijo encaixou perfeitamente com o meu. E do quanto eu quis te ver todos os dias daquela semana. Lembro-me exatamente do quanto você riu de mim quando descobriu que eu sou alérgica a flores, quando me mandou aquele buquê de tulipas no meu aniversário, e eu passei a noite toda espirrando e a gente teve que procurar um antialérgico qualquer pela sua casa. Lembro-me do quanto você estava bem e feliz quando eu te levei até o terraço do shopping do centro pra ver o pôr do Sol e te pedi pra ser minha, de forma oficial, você pensou por uns quatro segundos e me disse sim. Me fez completa e sua naquele momento. Eu sinto falta das horas que a gente gastou no telefone falando sobre como tinha sido o dia, o tempo, a vida alheia e sobre nós, sobre nossos planos. Tínhamos muitos planos, né? Onde foi que deu errado? Me diz: Quando foi que você optou por desistir e me deixar sozinha?
Penso que talvez essa tenha sido o destino, rindo de nós, a vontade (ou crueldade) divina manifestada num dia de chuva e numa batida de carro, fatal. Eu sei você não teve escolha, nem chances. Às vezes acho que a culpa é minha por me recusar a te buscar e discutir com você alegando que você trabalhava demais. Lembro que quando você disse que me amava, eu não tive tempo pra responder, foi tudo muito rápido e eu só escutei um barulho antes da ligação ser cortada. Isso me persegue desde então. Quantos “eu te amo” caberia naquele espaço de tempo? Quantos “eu te amo pra caralho!!!” eu deveria ter te dito antes de você partir? É doloroso, você não faz ideia do quanto isso dói. Só eu sei o quanto eu rezo todos as noites pra que você se levante daí e volte pra casa, mesmo que seja só pra reclamar que eu fumo demais, que eu to sempre chapada e rindo da sua cara, que eu nunca deixo nada organizado, que eu comi aquela sua torta saudável que tinha um gosto péssimo, qualquer coisa. Volta. Encontre-me pelas ruas, no início de uma manhã qualquer, me diga que a saudade não deixou você ficar longe de mim, ou me encontre em uma livraria e critique meu gosto, por favor, pequena... Só me encontre. Não precisa nem se desculpar pela ausência. Volta e diz que foi tudo uma brincadeira de mau gosto e que não houve acidente nenhum, que o carro esmagado que foi noticiado no jornal não era o teu, e que o sangue espalhado nos destroços não custou tua nossa vida. Vem e me acorda pra dizer que tudo isso é só um pesadelo e que amanhã de manhã nós vamos tomar café juntas.
Por favor. A vida já nem faz sentido sem você. Veja bem. Tua falta é algo desesperador, eu enlouqueço um pouco mais a cada minuto sem você dentro dessa casa. É insuportável o peso da tua ausência do lado esquerdo da cama ou até nas coisas mais mínimas que existem.
Eu te espero, por favor, me reencontre em breve, se por acaso não nos encontrarmos mais, até nossa próxima vida então, minha pequena! Eu te amo, eu te amo muito.



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