domingo, 29 de junho de 2025

blue bird

ainda procuro teu cintilar,
em corpos que não brilham igual.

e tudo que encontro
é satisfação momentânea:
purpurina grudando no suor da pele,
corpos mornos, copos cheios.

uma dose de saudade gelada
que desce,
deixando na boca um retrogosto
de trauma com glitter.


domingo, 8 de junho de 2025

spice girl

ela gosta de olhar meu rosto
depois de trepar comigo
e jogar na minha cara
que eu não sou nada pra ela
não me importa
ela sempre volta
e me pede pra descarregar minha raiva 
em seu corpo despido
e eu continuo ali
devorando
saboreando
sem saber se é sorte ou desastre
eu sempre acendo um baseado
e assisto ela se vestir
e ela traga
esquecendo que ela por muitas vezes me esqueceu
mas não se esquece do meu cheiro
que não desgruda da sua pele, carne, ossos...
ela diz também que eu não presto
porque eu gozo rindo
no fundo, de mim mesma
e fumo meu baseado devagar
porque assim como um sexo bom
o drama também vicia.


quinta-feira, 5 de junho de 2025

que horas são?

não me olhe assim
você sabe
eu não vou te dar esse gostinho
de transformar teus olhos afogados em poema,
Julia.

não dá.
o jeito que você olha… não cabe em verso nenhum,
nem se eu quisesse muito.
você me escorre, transborda, me arrasta
e eu não vou ficar em teus braços até o amanhecer, saca?
aliás, que horas são?

Eu vou
e veja bem Julia, eu nunca escrevi pra ser boa nisso.
e eu não sou.
essas palavras aqui são só restos de você em mim.
repetidas, gastas, bobas talvez —
mas quem é você pra desprezar meu clichê?

e agora, com licença,
vou ali mergulhar num copo de bebida barata,
num bar esquecido,
e deixar que a saudade me derrame em outros braços, me afogue em outras coxas
Enquanto você me rejeita
como se isso fosse castigo.

Vou te esquecer
e você sabe.
não porque você me feriu —
nem chegou perto disso, mas é que pra mim
só sentir por si só já é desesperador, Julia
e eu não sei lidar com o que me atravessa
sem me despir inteira.

E escuta, sério,
essa é a última vez que te digo:

Você me desmonta, Julia.
de um jeito tão ridículo
que eu quase agradeço
por me fazer sentir (algo).

quase.