ontem à noite
bebi do teu veneno
direto do cálice,
escorrendo quente
entre tuas pernas.
e eu sorria,
com o a boca,
com o corpo inteiro,
entregue.
minhas mãos te leram devagar,
como quem aprende o afeto
na sede,
na fome,
sendo afetada.
gozamos como quem morre
ou
um pouco,
muito,
várias vezes.
mas hoje,
acordei vazia.
o coração ainda teu,
mas, a mente inundada de culpa.
um gosto amargo na boca,
uma saudade queimando no peito,
como se o amor tivesse virado fumaça
e se enfiado nos meus olhos
só pra arder.
é ressaca de gozo,
rebordosa de querer demais,
de me perder inteira em você
e só lembrar de mim
depois.
terça-feira, 29 de abril de 2025
cê gosta de me ver sair com o coração partido, ontem eu tava bem, hoje eu tô f#dida
sexta-feira, 25 de abril de 2025
antes mesmo
quinta-feira, 24 de abril de 2025
manual de sobrevivência para quem sente errado, capítulo 2
Analisar.
Perscrutar.
Investigar.
Dissecar sentimentos como quem tenta costurar o vento. Como quem enxerga o invisível.
E sinceramente? Eu tô cansada.
Cansa existir.
Cansa socializar.
Cansa entender, também.
Cansa mais ainda esse vazio que me habita com cara de pressa e gosto de ausência.
Como que eu vou falar do que sinto se até o que eu sinto parece.. errado, desalinhado? Se eu não me encaixo nesse sistema onde o sentir tem manual e fórmula? Se eu sequer consigo entender o que as outras pessoas falam sobre sentimentos? Eu acho que sequer sei interagir com outros seres existentes, não mais. Perdi o toque.
Penso demais, sinto de menos. Ou será o contrário? Sei lá. Tem horas que acho que desaprendi a ser gente. Será que eu nunca soube sentir ou foi exatamente isso que perdi? Sinto medo de que eu tenha desaprendido a sentir. Mas Alice me disse que o medo também é um "sentir". E só isso já me dá uma ponta de esperança.
E eu sigo aqui, buscando...
Uma infinita busca de mim mesma, buscando onde é que foi parar o meu toque, minha pele viva, meu “eu” de verdade. Onde será? Acho que fui deixando partes de mim pelo caminho, tipo aquelas roupas que a gente tira no meio da pressa e nem lembra onde deixou, sabe?
Mas não quero aceitar isso assim, de boa, como quem diz “é, fazer o quê...".
Quero me caçar. Eu gosto de um desafio, de encontrar e recuperar coisas perdidas... Sei lá.
Quero ir atrás da parte de mim que ainda sabe sonhar com gosto, com cor, com lágrimas, saliva, suor. Quero berrar até quebrar o eco que se esconde onde meu peito ainda sonha sem pedir desculpas.
No fundo acho que eu só queria encaixar.
Ser normal — seja lá o que isso for.
Sentir.
Expressar.
Acho que às vezes eu só quero me lembrar que tem um coração aqui, batendo baixinho, vermelho dormindo, teimoso, quieto...
Mas tá vivo.
Ainda tá vivo.
Ainda pulsa.
quarta-feira, 23 de abril de 2025
manual de sobrevivência para quem sente errado
Introdução
(ou o mais próximo disso que eu consegui escrever)
Se você chegou aqui, talvez seja porque também tem um coração que tropeça nas próprias batidas.
Talvez também tenha sentido demais num mundo que parece pedir menos. Ou sentiu de menos, quando todo mundo jurava que devia doer mais.
Isso não importa, você está aqui agora e eu preciso lhe dizer que esse não é um manual com soluções.
É mais um inventário de falhas, sustos, ausências, tentativas. Um diário com cadeado. Uma ideia. Um mapa torto desenhado com mãos trêmulas — mas ainda assim, um mapa. Ainda assim um manual de vivência própria. Ou sobrevivência própria.
Pra lembrar que existir assim, meio errada, também é um jeito de seguir viva. De pulsar. E que tem beleza em se perder quando o que se busca é verdade e o mínimo de conhecimento sobre si.
Não prometo salvação.
Mas te prometo companhia.
Se não for o suficiente... Bom, você já está aqui agora.
E eu não posso fazer nada por você.
Tô tentando aprender a respirar mesmo quando o peito não deixa.
Talvez eu tenha me esquecido de como o ar realmente entra, sem pressa, sem dor.
O truque é parar de esperar que ele venha como um alívio e deixá-lo ser, simplesmente.
Comecei a entender que respirar não precisa ter sentido, nem propósito. Só respiro e vivo a essência caótica da experiência e existência humana.
Inspiro o caos e expiro o vazio. Sem nunca me esquecer: até o silêncio pode ser preenchido com ar.
Estou no meio de uma crise de pânico agora. Eu queria dormir ou não existir. Eu tenho certeza absoluta que meu coração vai parar de bater em pouco tempo.
Mas...
...Eu ainda estou aqui, respirando.
E sigo.
Tempo, tempo, tempo.
Eu só respiro, é só isso que eu faço ou tento.
Mesmo quando o peito dói, mesmo quando o ar parece escasso. Eu ainda estou aqui, tentando encontrar beleza nos fragmentos, nos pedaços que sobram de mim.
E se você chegou até aqui, talvez tenha encontrado um pouco de si mesmo nessas palavras. E eu sinto muito - pra caralho - por você, irmão! Que merda.
Eu não acho que a cada vez que eu decidir falar ou escrever sobre isso vai ficar mais fácil, mas acho que existe saída, fuga, distração... há uma beleza estranha, uma beleza que lateja, que respira, que existe, que me salva. Mesmo que seja apenas por um momento, mesmo que seja apenas em um suspiro.
É só pra me lembrar...
Eu estou aqui, respirando.
E você também está.
E eu não posso fazer nada por você.
segunda-feira, 14 de abril de 2025
lótus
Eu não pude evitar.
Eu não pude fazer nada.
Eu soube que eu me apaixonaria assim que a vi, assim que minhas mãos tocaram seu quadril e meus lábios a beijaram despretensiosamente. No mesmo momento eu senti um calor intenso no corpo, uma sensação de ter encontrado algo valoroso. Eu a beijei com saudades. Não sei explicar, mas foi como se eu esperasse por isso minha vida toda. Era saudade daquilo que eu sequer tinha vivido antes.
Ela é isso, né? Ela é um furacão em formato de mulher, que tira tudo do eixo, chega bagunçando a mesa, tirando tudo do lugar. Ela é um carro numa rodovia à 180km/h. E eu sou um passageiro que fecha os olhos e torce pelo melhor, pelo final feliz ou qualquer equivalente. Ela segura minha mão e eu nem sinto o impacto.
Ela me tira do chão, de um jeito adolescentemente bom. Ela sacode minhas palavras, me arranca sentimentos. Me enche de felicidade. E eu sinto que ela é como uma necessidade inerente ao meu sorriso, ela representa - e me apresenta - amor e paz. Eu me apaixonei pela sua visão de amor, de vida, de tudo. Pela sua capacidade de resposta rápida, seu senso de humor, seu senso crítico, seu senso de bondade e justiça. Sua cara de danada que me faz questionar a realidade e a reforça a minha incapacidade de resistir a ela. Se sentimentos são paisagens internas ela tem tudo de mais belo e colorido aqui dentro de mim. Vivemos emolduradas por belas tardes alaranjadas de amor juvenil e noites de luas adultas e cheias.
Ela me conhece, me mapeia, me enlaça na teia e quando eu me percebo ela já tem meu seio esquerdo na sua mão, meu corpo não é um terreno desconhecido pra ela, mas ainda assim ela me explora como se me descobrisse agora, e é delicioso porque a minha putaria não vive isolada na linguagem, minha putaria mora aqui, e a língua dela quando se encontra com a minha... Faz com que meu amor e minha putaria morem harmoniosamente na mesma casa. Nós nos pertencemos de um jeito interessante e curioso, de um jeito nosso. E é tão bom que tudo seja com ela, porque é ela... E ela me faz sentir, pulsar, vibrar...
Como falar do que eu sinto? Não sei colocar em palavras o quanto ela me desperta os instintos. Eu não sei explicar como ela me faz sentir tanto amor assim.
Sei lá.
Quando ela fala comigo parece que ela me lança feitiços de encantamento puro, os beijos dela são como explosão de felicidade que eu sinto em todo o meu corpo, me conectando com o momento, ali. Sinto como se a felicidade do mundo inteiro fosse só minha, guardada dentro do meu peito. Toda a delícia do universo na palma da minha mão.
Eu não pude evitar .
E acho que se eu pudesse, também não faria.
segunda-feira, 7 de abril de 2025
ela adormece as paixões, eu desperto
Essa cidade fica muito esquisita quando não tem sol, calor, bicicletas que vêm e que vão, pessoas por todos os lados, comércios lotados... E sem ela, de biquíni, apertando um fino sob a imensidão de um céu azul e uma infinidade de sentimentos sendo vividos a cada encontro, a cada troca de olhares, a cada toque ou sem ela desfilando sua beleza pelo apartamento branco vestindo somente sua belíssima e intimidadora nudez. Sei lá. Hoje eu tô achando tudo meio estranho. E deve ser porque eu fiz a viagem toda carregando a mala pesada das mágoas mal resolvidas, das minhas projeções falidas, trouxe de toda a bagunça um pouco. Mas eu estou aqui e digo: eu até gosto. Gosto mesmo. De verdade os navios em direção ao porto, dos prédios tortos, da estética antiga de alguns imóveis, do cheiro de umidade que os cantos do centro tem. Dela, principalmente dela. Que tem cheiro desse lugar, dessas calçadas, dessa areia, dessa praia, desse céu... Sei lá, ela é tudo isso aqui. Pra mim ela tem gosto de água salgada.
Eu só queria que hoje estivesse calor porque eu acho que o verão torna as coisas menos dolorosas, sabe? A minha teoria se baseia somente em ter lido uma ou duas matérias que afirmavam que as pessoas são mais tristes em lugares muito frios, enfim, foda-se.
É só um sábado frio, atípico, que eu tô aqui. Tentando abstrair a sensação que antecede qualquer encontro com ela. O medo de não saber o que virá e a minha extrema e idiota passividade de aceitar o que vier. É foda.
E pouco tempo depois lá estava ela também, nós duas aqui mais uma vez. Sentadas observando enquanto os coqueiros do calçadão dançavam conforme o vento, que batia lento em meu corpo me trazendo um pouco de frio e areia. Acho que hoje não tem bom tempo pra nós, eu segui escutando todas as palavras que ela tinha pra me dizer, olhando pro mar eu não conseguia parar de desejar que aquilo acabasse logo, o silêncio absurdo em mim e o barulho do mar, onda após onda quebrando... É cíclico, como nós. E eu sei que é mais uma despedida e ela sabe que eu sei. Eu não acho que precisava disso, mas ela acha que precisa então aqui estou. Mais uma vez. Eu sou boa pra caralho em satisfazer as vontades dela, em ser peça principal desse jogo, em ser coadjuvante enquanto ela protagoniza esse teatro todo.
Ela disse que sabe que eu vou me casar em breve. Mas que porra. É esse o motivo do estresse. Foda que ela beijou minha boca assim que chegou e eu não acho que isso seja condizente com as falas dela. Cada palavra dita por ela me causa confusão, cria uma teia, por que ela beijou minha boca há cinco minutos e agora disse que me odeia?
E continua frio. Cada vez mais.
Eu acho que eu vou ser maluca por essa mulher pra sempre porque eu nunca vou poder ter ela pra mim, eu nunca quis isso efetivamente, acho. Enfim.
Foda-se.
Ela quer fechar o tempo. Eu permito que ela o faça. Me bloqueia, me ameaça. Faz o que quiser. Eu sabia que seria exatamente assim, eu só não sabia que à beira do fim faz mais frio.






