Ela me abraçou, me beijou a boca, depois o rosto, apertou um pouquinho mais o abraço e o que eu senti foi o vazio de um novo adeus praticamente batendo à porta. É assim que ela me beija quando quer fazer minha cabeça virar uma bagunça, um ambiente pequeno onde todos os pensamentos acabam encurralando ela em algum canto, sem porquês. Quase uma obsessão idiota e adolescente. Às vezes ela não precisa dizer nada, só pensar e pronto... Fecha o tempo, clima, coração, zera o diálogo, cria entre nós uma barreira gigantesca, um buraco... Ela não me molda, não me controla.
Meu peito entrou em embaraço.
Rapidamente ela virou um laço solto, que não prende. Mas me mantém ali. Atônita.
É sempre uma coisa incômoda saber que a gente não vai se ver de novo por um bom tempo, que ela fica puta por coisas que eu nem entendo e me dá tratamento de silêncio, saber que as conversas serão sabotadas por coisas que ela cria na cabeça dela, sem razão, motivo... Complicado saber que os minutos vão correr lento porque eu vou ser engolida pela saudade muitíssimo em breve, mesmo que eu seja foda em ignorar alguns sentimentos. Eu sumo por diversão, então. Pra não me permitir ser tão acessível pra essas loucuras da cabeça dela. Não me obrigo à manter proximidade, até porque o que eu sinto é meu e eu não preciso da ajuda dela pra lidar com isso.
E ela não pode fazer nada pra mudar.
Confesso, ela é saudade mais fodida que eu sinto, o gosto do beijo vem à boca e eu sinto falta de tudo. É isso. É a agonia do adeus, eu não gosto de concretizar o tchau. Preferia desaparecer da vida dela e pronto.
Eu cortei os laços do nosso presente como se fosse um pacote, um presente. E eu uni os mesmos laços depois, pagando emocionalmente um preço alto, muito caro. Desnecessário. Penso: até onde isso vale? Até onde é saudável pra mim, pra nós? Até onde eu ainda caibo na vida insossa que ela leva? Até onde ela se encaixa na minha rotina?
Ontem ela me disse que às vezes não me entende muito bem, disse que os meus olhares ficam vazios, desfocam do nada, que eu sou plenamente capaz de viver minha vida longe dela e que eu crio alguns bloqueios, barreiras.
Eu acho que ela faz o mesmo.
Mas a gente não consegue chegar num consenso, nem se entender... Então acho que só penso que ela recebe tudo de forma desigual, desonesta, bastante tendenciosa. Faz a balança pesar a favor dela. Faz o copo de água ser maré de afogamento, tempestade.
Ela me explana, quando fala de mim pras amigas nunca conta sobre a noite comigo ter sido dahora, omite os sentimentos dela e da ênfase somente ao peso das manhãs, me deixa na posição de vilã. Faz com que eu receba hate de gente que eu nem tenho contato. O afeto que eu sinto por ela me afeta demais, todos os dias há anos eu não sei o que é não pensar nela. Não sentir. Alguns dias insuportavelmente apaixonada, outros dias insuportavelmente distante, sem meio termo e isso cansa. Queria acordar amanhã sem memória nenhuma de nós, sem lembrar de como ela é exatamente do jeito que eu gosto, sempre foi, do quanto toda vez que ela me repele eu luto para transformar aquela mulher em alguém comum.
O silêncio imperava no quarto dela, tão pesado que quase se fez físico e real, como se fosse uma terceira pessoa no ambiente, reinava sozinho ali, sem ser interrompido e isso foi desesperador. Eu acho que mais um pouco eu conseguiria ouvir meu coração batendo calmo.
Ela derrubou a primeira lágrima e só eu sei como isso pesou em mim. As lágrimas estavam ali pra me transformar em culpada instantaneamente e sempre conseguem. Eu assumo a culpa por preguiça de rebater e para protegê-la dela mesma.
Toquei cautelosamente e carinhosamente seu rosto como uma forma de ofertar algum consolo, e foi um impulso totalmente involuntário e natural pra mim. Eu não gosto de vê-la chorando então, às vezes, eu não consigo ser eu. 100% honesta e original. Manter as posturas. Cumprir promessas de afastamento. Por incontáveis vezes eu me diminuí mesmo pra caber dentro do espaço que ela denominou, que ela determinou pra mim, enfim.
É sobre ela mais uma vez. Pela última vez. Até à próxima vez.
Não sei, mas hoje é, este texto só não carrega o nome dela por puro descuido, por ego e orgulho, porque eu não quero todo o palco pra essa otária e porque eu nunca - em hipótese alguma - cito o nome dela pra alguém.
Cada nova manhã que compartilhamos uma com a outra, cada nova crise dela por insegurança ou motivos otários eu tenho uma forte sensação de que - na concepção dela - ela seria mais feliz se pudesse, de alguma forma, me controlar, controlar meus atos, minha vida, meus sentimentos, tudo, resumindo: Eu acho que ela seria infinitamente mais feliz se fosse capaz de me manter dentro das cercas emocionais que ela me impôs.
El amor que siente es claro como un día soleado.
Eu ainda desmorono ela.
Eu ainda mexo com ela, tá ligado?
Eu ainda balanço.
Eu ainda fervo a verve, a cabeça.
Não é possível.
A nossa história ainda atravessa ela, igualzinho faz comigo... Penso isso... e só assim entendo a raiva de mim que ela sente quando amanhece.
Sin prolongarlo todo de nuevo, aún más... ser filha da puta deveria ser um prêmio, saca? Ela é campeã do mundo em guardar - e viver em - ressentimentos.
sexta-feira, 31 de março de 2023
afeto afeta
sexta-feira, 24 de março de 2023
Minha consciência diz que estamos errando rs
Ela é a mais exata definição de delícia no meu dicionário. A presença que me deixa alerta, ela gruda em mim e não solta e só eu sei o quanto eu gosto de mulheres claras, sinceras, diretas e posicionadas, nada mornas - assim como ela. Ela me tira a chance de dizer não e pra ser bastante honesta nem que eu tivesse perdido totalmente a sanidade eu deixaria passar essa oportunidade. E a falta de vergonha na cara misturada com a vontade que eu sinto dela sempre consegue me deixar meio louca uma hora ou outra porque eu seria capaz de quase tudo para tê-la ao meu lado, esquecendo de forma permanente os erros e ressignificando nosso passado, ainda que pensar ou planejar um futuro com ela me deixe desconfortável, em cima do muro. A gente teve uma história, mas há uma grande tendência para que a gente construa uma nova agora. Ela me desmorona, quebra o gelo, explode os muros. Me ganha na sinceridade. Me ganha mesmo.
Ela me chama, me convida, abre o vinho, fica perto, gruda em mim, me olha demais, me beija, a gente fuma, me solta, me olha do outro lado da sala, sem me perder de vista, a gente ri, se beija com gosto do vinho doce, os lábios rosados por causa do vinho, frequentando sociais com os amigos chatos dela, onde a vontade que a gente sente uma da outra nos força a ir embora sem dar tchau, na base da fuga, me beija mais, me oferece outra taça de vinho pra celebrar que agora somos só nos duas... e calma! "Desde quando você bebe vinho comigo em taça?". Ela ri. Só nossa companhia importa, de repente eu me vejo rendida por ela na cama, imersa em excitação, desejante, e honestamente? O beijo lento me permitindo curtir o momento atrelado ao fato de que somos mulheres adultas, que se atraem, que se curtem, que se querem e que estávamos em um local propício sempre leva pra isso, sexo e prazer não é tudo mas existem duas coisas que não se podem jamais recusar na vida: fumar maconha e comer periquita!
Uadauel.
A gente fode e eu penso que a história não muda, ela é ela, é aquela... Dona da minha atração maluca. E ela me inflama sentimentos de açúcar que derretem na minha língua, meu corpo entra em chamas e eu espalho propositalmente pelo corpo dela, eu fico sempre no extremo do encantamento com tudo que ela me faz sentir e perco o ar enquanto ela está se despindo, receptiva ao meu toque, no alcance das minhas mãos. Ali, pra mim... Coberta pelos meus fluidos corporais, ela sem roupa é um espetáculo, particular e como disse Drummond: "Mulher andando nua pela casa envolve a gente de tamanha paz." Verdade demais, muita paz... A vida é muito múltipla. Muito. Enquanto eu desvendava sua privacidade e era convidada a permanecer em sua mais pura intimidade. Conhecendo seu interior de uma forma não literal. Será que ela sente a mesma coisa que eu? Porque eu poderia jurar que quando ela está ali... Comigo sem cansar, sem cessar, ela já tão próxima do orgasmo e eu mantenho o ritmo e ela geme assim... De um jeitinho tão gostoso pr'eu saber e ouvir, eu sinto que a voz dela é capaz de ecoar no quarto, no bairro, na cidade... capaz de criar forma e encostar no meu corpo, me devorar também. Minha língua segue mapeando a felicidade. O sorrisinho de filha da puta quando ela goza é o maior charme. Ela é pura vontade... Dá saudade porque ela dá com vontade, me transborda afeto. Ela fica com meu cheiro, com meu gosto, com meu beck e meu coração toda vez que eu vou embora.
Aí fica quase impossível eu não querer voltar.
quarta-feira, 8 de março de 2023
assumo: nunca é minha intenção ser clara
Eu nunca vou conseguir explicar isso que a gente sente uma pela outra, a intensidade dos polos positivos e negativos desse relacionamento, ex relacionamento, quase relacionamento, do quanto isso dá choque, do quanto me relacionar com ela nessa frequência ainda impacta às vezes na minha vida. Mas ela é a única mulher que já esteve na ponta dos meus dedos que foi capaz de arrepiar meus pelos somente em um toque ligeiro no braço, simples, sem esforço, totalmente despretensioso, ela rapidamente me rouba atenção e o ar, me envolve, se mistura em mim, aparece do nada e o nervosismo persistente ano após ano, é sempre como se fosse inédito pra mim, ela sequestra meus pensamentos, dilata a pupila, me faz esquecer o mundo à minha volta, aflora sentimentos bons e me faz derreter entre os braços e abraços dela, me faz expressar sentimentos claramente como ninguém antes, me beija subitamente e faz com que eu seja totalmente capaz de reconhecer as expressões de amor no rosto dela. Veja. Ela é doce comigo e deixa minha vida leve, quando quer. Eu sou o mel na boca, no corpo, doce mas tão doce que eu não ligaria mesmo de comer pro resto da vida. Ela é a sorte que eu não tenho, mas é o pecado que eu me dou ao luxo de cometer sempre que possível. Sem erro.
Eu não sei explicar nós duas. Não dá.
Eu não sei explicar de verdade e também não sei se quero. Se perderia o encanto, o mistério. Eu não consigo definir o sentimento em palavras porque estas podem ser interpretadas de diversas formas diferentes e eu prefiro que ela só seja livre pra sentir assim como eu, sem interpretações. Só amor. Sem fazer dela meu troféu depois de tudo que passamos e sou bastante orgulhosa disso. Sem mais retaliações pueris. A idade me deixou mais paciente em relação a tanta coisa que nem eu mesma me reconheço. Então eu volto e a gente se conhece tudo de novo, aos poucos, sem pressa. Já chegamos aqui, não é mesmo?
É isso.
Entrei no elevador com ela pela enésima vez, divertindo a equipe de segurança pelas câmeras e é a segunda só esse mês... que dupla hein? Eu sempre senti que nós nos reencontraríamos em algum lugar da nossa maturidade. Hoje eu sei muito bem pelo que eu busco. Mais uma noite, outra manhã, mais uma trepada maluca com ela de novo, e mais outra, e na terceira eu já voltei a ser a maior fã que ela já teve, na quarta vez algumas horas depois, eu explano que acho deliciosa e maneira essa reboladinha, quando ela goza e sorri pra mim em seguida eu já tô tão apaixonada que eu sinto que me casaria com ela, me sinto feliz o dobro, pra comemorar: algumas taças de vinho e dois tragos na sacada e a gente fode gostoso tudo de novo, pra manter o frescor das memórias celulares e afetivas. Manutenção, sei lá. Esses momentos explicam meu vício, todo vício é foda de largar e eu sou muito tendenciosa com o que me faz mal, ignorando que eu vivo com ela uma parada de amor sinistra e gosto de esquecer o quanto isso me prejudica. Pela manhã tem café com paixão, doce pra caralho, sem crises e aí vem mais outra noite, tudo de novo, ela pede pra eu ficar mais um pouco e pra me fazer durar mais vinte e quatro horas ao lado dela ela me suja e lava minhas roupas, um dia inteiro nua desfilando pelo apartamento dela, ela ciumenta, me pede pra sair de perto das janelas, a mesma coisa, mais um ciclo, hoje eu me permito morrer de saudade, matar vontades. Do jeito que for, não me interessa. Se eu quero, ela quer... qual o problema nisso? Os beijos matinais dela ainda tem gosto de solidão, mas ainda assim eu escolhi não deixar mais espaço pros momentos de palavras não ditas, eu não quero perder mais tempo imersa no silêncio que é a minha vida longe dela. Eu, ainda, acho que o caminho está errado... Mas à essa altura só devo agradecimentos à má sinalização da estrada por me fazer chegar até aqui - de novo.
segunda-feira, 6 de março de 2023
senta, acende o verde, tudo tem seu tempo agora é nós e fé!
No primeiro texto que escrevi pra ela, lembro-me de ter nos rotulado como um casal que é sujo demais para o horário nobre.
Casal?
Os anos se passaram aos montes, voaram mesmo, eu ganhei e perdi algumas coisas ao longo do caminho, conheci e desconheci muitas pessoas, ela também. Inúmeras mulheres ganharam meu coração depois dela. Eu sou intensa, mergulhei profundamente entre as pernas de mulheres rasas. Eu me apaixono constantemente por hobby, eu acho. Mas ela foi diferente. Ela é aquela que eu sinto que não me esqueço mais, que eu não supero porque eventualmente alimento minha saudade com fugas até ela, onde ela me recebe sempre de braços e pernas abertas. A gente se conecta, se completa.
Posso dizer com toda certeza que muita coisa mudou... Mas nós continuamos aqui... em toda quebra de rotina ainda fugindo do horário nobre, porque ele é entediante e previsível, falso como a felicidade dos domingos, e nós juntas somos explosão, ela bota a classificação etária lá em cima, viramos uma ótima dupla +18, a gente melhorou em tudo quanto é sentido. Tem coisas que ela não muda, tem coisas que eu não quero que mude, tipo quando a gente bota os problemas no mute e beija lento sem intenção só pra ver como é que o corpo reage, e em meia hora as roupas estão no chão. Em meia hora a gente tá transando forte no box do banheiro, se olhando no espelho, em pouco sempre eu tô rendida. Depois disso é sucesso e transar com ela é sempre satisfatório e nunca gera decepção, é nos prazeres que o corpo dela ostenta que mora minha paixão. Ela segue transando comigo depois dos meus corres pra aproveitar a adrenalina do corpo, fervendo a líbido, tentando desacelerar botando acelerado nela, que nem louca que sou - por ela. Diz que quando eu tô bolada eu transo mais gostoso e isso que fode. Cada ano que passa ou eu tô mais apaixonada ou de fato ela fica mais gostosa. A idade só me fez ganhar experiência. E bolada eu sempre fui. Louca por ela também.
Ela simplifica tanto os nossos encontros e faz o amor ser algo tão descomplicado que eu me pergunto porque é que eu não tenho o sobrenome dela e ela o meu, não que isso seja importante mas por que é que nós não viramos a chave e mudamos o status? Por que é que eu não tenho ela alegrando minha casa? Por que ela não está nua frequentemente decorando minha vida, meu quarto?
Às vezes eu acho que tudo é sobre ela e sempre foi. Sempre será. Ela se embola em mim, em todo lugar quando me encontra propositalmente, quando me vê, sempre foi assim, e acho que assim sempre vai ser.
Tesão com amor.
De: sempre/Pra: sempre.
Ela não veio pra mim com nenhuma placa de advertência, eu assumo os riscos, eu lido com as consequências da melhor forma possível porque quando eu chego ela sabe me desacelerar com um abraço, sabe subir a febre no amasso, sabe ferver meu coração, sabe aquecer a alma, com calma, sabe me pacificar. Sabe lidar comigo, com a minha ausência, com minha presença, com tudo. Ela é perfeita nisso... Ela me dá a liberdade de ser como sou.
Ela me enxerga com olhares de turista, de quem está somente à passeio, curtindo tudo sem pressa alguma, apreciando a vista, mas se eu bobear ela vem e fica. Permanece. Faz pouso. Me vira do avesso e me faz de lar... e depois de todo esse tempo, eu fico me questionando por que não? Ela já mora na minha cabeça mesmo, o que é que é tirar ela do nono andar? Só mais um texto bobo pra ela.



