terça-feira, 27 de maio de 2014

Abeille - Parte Três (Se o que eu quis se tornasse real...)

Eu amo tua voz de sono e teu cabelo bagunçado invadindo meu travesseiro, sabia? Ah, menina, eu amo quando você acorda de madrugada e conversa comigo enquanto seus olhos vão se fechando lentamente e você dorme no meio do assunto. Amo seu sorriso quando eu digo que te amo antes mesmo de lhe desejar um bom dia e dizer que você é linda até com pijama furado e cabelo bagunçado. Amo a malicia com a qual você me beija antes de dormir e por causa disso, às vezes, a gente não dorme... Amo sua desorganização, a bagunça que você faz em todo lugar. Amo o jeito como você tenta me fazer sentir amada. Amo cada uma dessas tuas manias tão bobas, que com essa nossa convivência acabou se tornando um charme a mais pra ti. E você é linda, meu amor, você é linda e eu amo seu jeito de pacificar meu dia, de me encher de sorrisos com cada mensagem pra dizer que me ama, perguntar se tá tudo bem ou só dizer que está com saudade. Amo o jeito como você me beija quando me encontra, amo o jeito que você me abraça quando a gente precisa se despedir... E eu sinto que é você em cada segundo perto, em cada segundo longe, em cada dia que a gente passa juntas ou morrendo de saudade uma da outra. É... E se pensar, eu acho que sempre foi você. Eu sabia que seria você. Posso jurar que alguma vez, em algum tempo passado, eu tenha sonhado com uma espécie de anjo ou força equivalente me dizendo que eu te encontraria. Desacreditei, é claro... E demorei vinte e quatro anos pra perceber que desde o começo era você. Desde a primeira palavra, desde a primeira vez que você me fez sorrir, desde a primeira vez que eu te vi minha linda, era você. Quando penso em você é quando eu percebo que todas as outras meninas perderam a graça. E se você ainda precisa saber, meu amor, eu te amo sim.


Repetições insignificantes de um passado que ainda não passou.

Hoje é dia vinte e sete, de maio de dois mil a quatorze. Mais uma vez estou olhando pra ela, enquanto ela chora baixinho, sentada num canto da cama, recolhida, quase que em posição fetal, como se ela se guardasse, se protegesse de alguma coisa. De mim, eu acho. Eu não digo nada. Ela continua chorando, sem me olhar... Ao fundo sua playlist repete Placebo - Se ela soubesse o quanto eu odeio Placebo - Deve ser a quarta ou quinta vez que essa porcaria de música toca. “Protège-moi”. Há quanto tempo estou nesse quarto? Meu Deus. Sinto-me perdida, num frio cortante, num espaço vazio, um buraco que se fez entre nós, um vazio tão agonizante. E ela então me olha, o mundo parece recobrar a cor, um olhar quase que implorando por piedade, como se esperasse por alguma desculpa, alguma explicação, até mesmo um abraço ou qualquer coisa que a faça sair daquele estado caótico em que ela visivelmente se encontra... Nada. Não digo absolutamente nada. Minha mente fica à deriva, vagueando por entre os móveis, a cama, a aliança delicadamente colocada sobre a mesinha, a taça de vinho tinto sobre o criado mudo, um silêncio doentio dançando entre meus dedos que buscam por meu baseado já apagado no cinzeiro, nossas roupas no chão, o lustre, os quadros, minha respiração e cada uma das lágrimas que ela já derrubou nesse espaço de tempo... Meus pensamentos estão soltos no ar como as desculpas e outras tantas coisas que eu deveria dizer a ela e nunca disse.
- Você estraga as pessoas. – Ela diz, pausadamente, quebrando o silêncio e a barreira entre nós com uma voz tão pacifica que chega a acalmar qualquer vestígio de inicio de caos ou rebelião dentro daquele quarto. Eu paro e a encaro, firme. Enquanto ela tem seus olhos fixados na parede branca. – Você é uma idiota. Você deve sentir algum tipo de prazer babaca e sádico em foder com a vida de qualquer pessoa que se aproxima de você, que cruza seu caminho e quer seu bem... Eu odeio você. – Ela diz, enquanto diminui o tom. Inexpressiva. – Eu odeio você...
Eu já nem sei por que permaneço aqui, me sinto anestesiada, entorpecida, distante de mim, sinto meu corpo desobedecendo qualquer ordem dada pelo meu cérebro pra fugir desse apartamento o mais depressa possível, fugir pra bem longe desse ar que me sufoca e dela... Dela que me mata com um olhar, dela que me faz querer sair nem que seja pela janela, despencando nove andares abaixo. Sinto-me mal, minha cabeça dói como se eu estivesse na pior ressaca da história da humanidade. Eu já não entendo porque cedo às suas vontades, não sei por que fico pra ver o que acontece quando tudo isso acaba, quando o sorriso dela se transforma em ódio, quando o gosto do beijo dela amarga e quando meu baseado apaga. Ou quando ela joga nossas fotografias guardadas em molduras bonitas pela janela. Uma porra de mentira embalada. E lá fora chove... A vidraça quebrada por ela com o retrato de moldura bonita alguns minutos atrás agora deixa vazar todo o ar frio desse vento que nunca para, e obviamente que se faz em Santos hoje.. É madrugada. “Meu Deus, meu Deus... Que horas são? Eu preciso ir pra casa.” – Repito mentalmente.
Que porra de sensação é essa que me abraça? Porque eu sinto isso toda vez? Talvez eu sentir já seja meio caminho pra concordar que o clima estranho que se faz presente é minha culpa, como se fizesse parte de nós. Ela continua imóvel, intocada, nua. Eu me visto enquanto ela canta "Protect me from what I want... Protect me from what I want...". E me olha, como se fizesse pra me provocar, como se cantasse pra mim, como se a garota quebrada e sensível de três minutos não fosse mais ela, como se me desafiasse pra uma batalha, como se pudesse me matar. E pode. Dói. Dói de um jeito que eu jamais pensei que fosse doer. Sinto vontade de correr, descer as escadas dos nove andares do prédio dela, fugir. Sinto como se meu coração parasse a cada frase que ela ousa me dizer, sinto como se cada palavra que ela dirige a mim me atropelasse, me acertasse bem em cheio, passando por cima de qualquer reação que eu possa ousar ter. É como se o ódio dela arrancasse meu coração daqui de dentro e rasgasse toda a carne. Faz-me parecer pequena, me enfraquece, me inutiliza... A cada tentativa de revidar sinto como se as palavras ficassem presas na minha garganta, é sufocante, desesperador, como nas noites em que eu tenho sonhos que ela cai dessa janela e eu acabo parando de respirar por quase um minuto inteiro.
Eu já nem sei por que AINDA estou aqui, sequer me lembro de como vim parar nesse quarto e muito menos por que eu acordo na cama dela quase todos os finais de semana. Devo sentir prazer em parecer um verme perto dela. Nada nunca vai mudar. Eu nunca vou mudar. Estamos amadurecendo e as discussões já não nos levam pra lugar nenhum. “A gente fazia um casalzinho tão lindo que até hoje as pessoas perguntam por que é que a gente não volta.” – ela diz. “Bipolar.” – penso e sorrio, acho que estou chapada demais pra querer avisar pra ela que a vida não é e nunca vai ser nenhum comercial de margarina... Esboço movimentos leves enquanto calço meu tênis e ela me pede pra ficar, dou os dois últimos dois tragos no baseado e jogo a ponta pelo vidro da janela– Ou pelo que restou dela.
 Fica... Por favor... Fica.” “Não, eu vou embora, me solta!” “Não... Não me deixa.” “Eu não sei nem porque vim.” - Não sei mesmo, nunca sei.
Às vezes fico ensaiando diálogos que eu e ela bem provavelmente nunca vamos ter. Meus amigos dizem que eu mudei muito desde que ela se instalou em mim. Dizem que eu faço um puta drama mexicano com tudo isso. Acho que eles querem dizer que toda minha parte boa continua sendo ela. Talvez seja. Talvez fosse. Talvez a presença dela me torne um pouco mais doce, aquela porcaria toda sobre se tornar um ser humano melhor, sou uma peça com defeito, feia e sem encaixe, mas ela faz com que eu veja o mundo com um olhar mais positiva ou coisa que o valha. Eu não sei explicar. E tudo bem, isso já não importa. Ela sorriu... Eu olho diretamente pr’aquele sorriso e...
Caralho... Agora sei por que fico e amanheço ao lado dela... Eu não devo mesmo ter o mínimo de amor próprio, foda-se.



domingo, 25 de maio de 2014

Eu não sei a origem da palavra saudade.

Tudo é composto de silêncio, de vazio. Tudo é só um vazio preenchido.
Deitada no chão eu assisto a vela queimando no canto da sala, e se não fosse aquela chama, de frágil iluminação, tudo seria escuro...
E embora pareça, o escuro não é vazio.
Vazio a gente pode preencher com qualquer coisa e escuro não.
Escuro traz com ele todas nossas mágoas e incertezas, traz a saudade.
Talvez o escuro seja feito pra pensar e não pra dormir.
Talvez essa sua ausência seja a explicação desse vazio.
Talvez a falta daquele teu sorriso seja a explicação pra tudo isso.
Saudade não é vazia também, saudade traz memória, que traz mais saudade...
É... basicamente tudo acaba em saudade.
E vazio.



sábado, 24 de maio de 2014

Nunca reaprendi a existir.

Acho que quando nascemos pra este mundo, nós viemos carregados e sufocados de coisas de vidas passadas.
A nossa mente já vem com uma porção de coisas de outras vidas, sabe? Talvez alguns sonhos, medos e até lembranças de coisas que nessas vida a gente nunca viveu, sorrisos de outras almas e grandes amores que muitas pessoas não vão poder reviver nesta vida. Se minha teoria estiver certa eu acho que você é um desses amores, dos grandes. Acho que o grande barato da vida é isso. Ou foi isso. Oi ainda será isso.
Só não consigo entender... Tantos e tantos anos te buscando... Pra quê? Pra te desencontrar em cada novo encontro. Eu sinto falta do seu beijo, do seu sorriso e do seu ar. Sinto falta de você deitada do meu lado, da sua respiração acelerada e expressão calma que você costumava ter enquanto dormia, do jeito como tu ronca bonitinho quando está cansada, do seu cabelo dourado bagunçado e incrivelmente lindo pela manhã, leoa da minha vida.. Sinto falta da sua vida confundindo e se fundindo à minha, me trazendo desassossego de uma forma tão calma e pacífica que eu chego a confundir essa sensação com paz, quando você entrou na minha vida o caos pediu arrego.
A linha da sua vida é ligada à minha, somos o errado que deu certo. E errado de novo, logo após.
Minha alma ainda é ligada à sua, somos um e sempre seremos.
Eu ainda vou chorar as mesmas lágrimas que você e também sorrir ao lembrar das nossas memórias tão lindas, compartilharemos ainda dos mesmos sorrisos. Teu cheiro ainda está impregnado em cada célula que compõe meu corpo, em cada fio de cabelo. Está aqui, está em mim.
Penso de verdade que somos apenas uma, sem nenhum exagero...daqui até a eternidade, nossos destinos foram traçados por nós mesmas.
Talvez os romances mais bonitos tenham sido inspirados em nós, como Romeu & Julieta ou qualquer outro romance onde o mocinho se fode muito esperando pela mocinha. Talvez nessa vida eu tenha nascido vilã, e você, mocinha. E teu jeito tenha mudado tudo em mim. Penso assim e sorrio... Engraçado como a presença de alguém pode mudar tanto uma vida inteira.
Ainda não me desfiz das nossas fotos e não desarrumei nada do que você deixou. Não sei nem quando farei isso, então por enquanto tudo continua exatamente igual. Acredita que teu casaco vermelho ainda está pendurado atrás da porta? Lembra como você era louca por esse casaco? Lembra do jeito como ele te deixava linda? Eu era muito boa em fingir que odiava, e sempre dizer que ficava brega. E você sorria e me beijava. Devo admitir que você ficava linda no casaco ou em qualquer outra coisa que usasse, até naquele pijama furado ridículo que você costumava dizer que usava quando eu não merecia dormir do teu lado, eu sempre dava risada...
Você nunca me disse adeus, por que? Penso que talvez um dia você volte e vá odiar meu cabelo raspado e minhas tatuagens novas, dizer que odeia minha cara de rebelde quando to careca.
Eu mudei.
Você também deve estar muito mudada. Deve continuar chata do jeito que sempre foi. Você nunca deveria ter me deixado.
Fico pensando que qualquer dia você vá me encontrar de novo num café qualquer, sentar ao meu lado e comentar sobre o livro que estou lendo, como na primeira vez. E se você fizer isso, logo aviso, vou te achar chata e efusiva da mesma forma, mas vou lhe passar meu telefone e sorrir quando você ligar pra falar mal do meu livro, talvez dessa vez eu realmente leia o livro que você me indicar. No dia em que você fez isso, eu te odiei tanto que salvei seu número como "menina louca do café", com a ideia fixa de nunca mais te atender. Inevitável. Te atendi em todas as vezes que você ligou. Nunca lhe disse, mas na manhã seguinte àquele show que você me levou daquela sua bandinha chata e favorita, eu acordei explodindo felicidade. Nunca em toda minha vida tinha sido daquela forma. Lembro-me exatamente da forma como você me olhou aproximadamente três segundos antes de eu te beijar, de como seu beijo encaixou perfeitamente com o meu. E do quanto eu quis te ver todos os dias daquela semana. Lembro-me exatamente do quanto você riu de mim quando descobriu que eu sou alérgica a flores, quando me mandou aquele buquê de tulipas no meu aniversário, e eu passei a noite toda espirrando e a gente teve que procurar um antialérgico qualquer pela sua casa. Lembro-me do quanto você estava bem e feliz quando eu te levei até o terraço do shopping do centro pra ver o pôr do Sol e te pedi pra ser minha, de forma oficial, você pensou por uns quatro segundos e me disse sim. Me fez completa e sua naquele momento. Eu sinto falta das horas que a gente gastou no telefone falando sobre como tinha sido o dia, o tempo, a vida alheia e sobre nós, sobre nossos planos. Tínhamos muitos planos, né? Onde foi que deu errado? Me diz: Quando foi que você optou por desistir e me deixar sozinha?
Penso que talvez essa tenha sido o destino, rindo de nós, a vontade (ou crueldade) divina manifestada num dia de chuva e numa batida de carro, fatal. Eu sei você não teve escolha, nem chances. Às vezes acho que a culpa é minha por me recusar a te buscar e discutir com você alegando que você trabalhava demais. Lembro que quando você disse que me amava, eu não tive tempo pra responder, foi tudo muito rápido e eu só escutei um barulho antes da ligação ser cortada. Isso me persegue desde então. Quantos “eu te amo” caberia naquele espaço de tempo? Quantos “eu te amo pra caralho!!!” eu deveria ter te dito antes de você partir? É doloroso, você não faz ideia do quanto isso dói. Só eu sei o quanto eu rezo todos as noites pra que você se levante daí e volte pra casa, mesmo que seja só pra reclamar que eu fumo demais, que eu to sempre chapada e rindo da sua cara, que eu nunca deixo nada organizado, que eu comi aquela sua torta saudável que tinha um gosto péssimo, qualquer coisa. Volta. Encontre-me pelas ruas, no início de uma manhã qualquer, me diga que a saudade não deixou você ficar longe de mim, ou me encontre em uma livraria e critique meu gosto, por favor, pequena... Só me encontre. Não precisa nem se desculpar pela ausência. Volta e diz que foi tudo uma brincadeira de mau gosto e que não houve acidente nenhum, que o carro esmagado que foi noticiado no jornal não era o teu, e que o sangue espalhado nos destroços não custou tua nossa vida. Vem e me acorda pra dizer que tudo isso é só um pesadelo e que amanhã de manhã nós vamos tomar café juntas.
Por favor. A vida já nem faz sentido sem você. Veja bem. Tua falta é algo desesperador, eu enlouqueço um pouco mais a cada minuto sem você dentro dessa casa. É insuportável o peso da tua ausência do lado esquerdo da cama ou até nas coisas mais mínimas que existem.
Eu te espero, por favor, me reencontre em breve, se por acaso não nos encontrarmos mais, até nossa próxima vida então, minha pequena! Eu te amo, eu te amo muito.



sexta-feira, 23 de maio de 2014

Pensées.

Ela se senta, mesa 07.
Senta na segunda cadeira, de costas pra porta e exatamente de frente pra mim. Eu observo cada movimento dela desde que ela adentrou esse bar. Ela folheia um livro qualquer... Não, espera, não é um livro qualquer, é um Fernando Pessoa. Poemas... Deve ser uma dessas garotas românticas que sonham com alguém que as faça sorrir. Poema costuma ser coisa de gente romântica, eu acho...
Ela é linda! Acho Que talvez até mais linda que esses tais poemas que ela gosta, tem os olhos castanhos, profundos... Do tipo que parece que vai atravessar a alma da gente sem tirar a gente do lugar, daqui mesmo deu pra ver, estão inchados, vermelhos, eu posso apostar que essa garota chorou a noite toda por alguma idiota. Tem os cabelos bagunçados, despenteados de uma forma bonita, até sedutora, num tom castanho extremamente apaixonante. O garçom se aproxima, ela pede algo forte, ele traz um uísque, da pior qualidade. Fico daqui imaginando, o que vai ser mais forte essa noite: o tal uísque ruim ou a dor que grita dentro do peito dessa garota?
Eu deveria me sentar ao seu lado, juntar meu café fraco com seu uísque ruim, juntar meu choro ao seu, juntar minha vida à tua. Talvez até a próxima semana. Talvez pra sempre. Eu não me importaria se fosse pra sempre, aliás. Penso que talvez eu possa mudar tudo o que se passa dentro dessa menina. Talvez eu peça o açúcar da mesa dela emprestado e sorria, e assim ela permita minha aproximação. Talvez eu conte alguma coisa engraçada e ela ache alguma graça, e então a gente engate um papo desconcertado, desconcentrado, livre, solto... Talvez ela levasse meu sorriso e um pouco de mim contigo na bolsa ao sair desse bar, talvez meu telefone estivesse anotado num guardanapo meio amassado, guardado no seu bolso. Penso que alguns dias depois ela encontraria o tal papel, amassado, dentro do bolso direito da sua calça jeans, talvez ela até se lembre de mim, e me ligue. Só me ligue, me faça um convite pra sair contigo quinta ou outra tarde qualquer, faz frio, talvez outro café quente cairia muito bem. Um café bem quente e seu sorriso. O café pra aquecer meu corpo e seu sorriso é pra aquecer minha alma. Sentaríamos na mesma mesa que ela sentou da primeira vez, só por causa da vidraça que vaza a luz e a deixa ainda mais linda quando bem iluminada, e então nós conversaríamos sobre uma dezena de assuntos aleatórios, minha opinião seria sempre contraria à dela de propósito, é claro. Ela me acharia chata. E charmosa. E eu a acharia mais linda sem aqueles olhos vermelhos e sorrindo. Talvez eu comentasse sobre aquele livro de poemas, diria até que escrevo alguns para lhe impressionar e ela iria acreditar. Talvez ela me inspirasse mesmo a escrever um poema, uma música, um texto ou uma simples frase. Talvez ela me fizesse suspirar que nem uma adolescente apaixonada por um ou dois meses antes de eu lhe pedir algo mais sério. Talvez pra mim já fosse sério desde o inicio, e a gente só precisasse de um pedido oficial. E ela teria comigo a tal vida planejada que sempre quis, ela sentiria comigo a sensação de viver dentro de um poema bonito e nós escreveríamos a mais bela história de romance do mundo todo. Teríamos uma casa amarela, com janelas grandes, iríamos ao parque aos domingos de manhã, passearíamos com o cachorro pela praia todas as tardes, eu a buscaria na faculdade, eu lavaria a louça, ela faria o jantar, jantaríamos juntas todos os dias, ela me contaria como seu dia tinha sido cheio e eu iria dizer que ela é linda falando de um jeito sério, ela me beijaria, me daria um tapinha no braço e iria rir, nós planejaríamos dois filhos, brigaríamos pela nome, eu a deixaria vencer, sempre, mas claro que depois de muita insistência e depois de ganhar dela aquela cara de brava linda que só ela saberia fazer. A casa teria um monte de quadro nosso e em todos eles ela estamparia sua felicidade e eu a minha em estar do lado da mulher mais linda que eu já vi. E nós ficaríamos lindas velhinhas, juntas. Pra sempre...
E veja bem, eu já escrevi tudo isso e ainda não sei como lhe sorrir e pedir o açúcar.


Cidade Cinza.

6h13. É uma manhã fria em São Paulo, nada muito fora do normal, chutaria uns onze graus no máximo. O céu é cinza, meia luz. O Sol ainda não nasceu e tudo bem, não há motivo algum para pânico - eu repito a mim mesma, numa tentativa inútil de me acalmar. Minha respiração é pesada, densa, quase como um sinal de que meu corpo parece congelar. O café forte e muito doce aguarda no parapeito da janela, já quase tão frio como São Paulo, eu ou a cama. Minha avó costumava dizer que quando a gente adoça demais o café, significa que estamos apaixonados, vejo que talvez ela não estivesse certa, mas também não estava de todo errada, hoje em dia o café é a única coisa doce dentro da minha vida. Hora ou outra, dou um trago no cigarro, que assim como o café, aguarda no parapeito, queimando sozinho no cinzeiro, aquele que eu roubei do motel. Eu não sei mais o que fazer, essa é a verdade, ando de um lado para o outro e não vejo saída pra tudo isso. No rádio, baixinho, uma canção qualquer embala minha manhã e minha solidão, servindo de trilha sonora pra esse horror. A música é animada, o cara da rádio também parece animado ao dar bom dia e anunciar a música. Rio e penso que ninguém acorda tão feliz assim... Quer dizer, talvez o cara da rádio tenha um motivo pra acordar feliz. Talvez todo mundo nessa porcaria de cidade tenha um motivo pra acordar feliz, afinal o caos e bagunça está apenas em mim, não nos outros. A verdade é que eu estou com quase 25 agora guria, veja bem, estou ficando um pouco velha pra sofrer de amor. Alguns passarinhos já cantam nas árvores e fios elétricos lá embaixo, alheios a mim e qualquer vestígio de solidão estampada na minha cara. Eu estou envelhecendo rapidamente sem você. Eu estou ausente de mim e me pergunto a cada segundo se isto é possível. Tornei-me o tipo de pessoa que nunca quis ser: Passo o dia ignorando a vida, lendo horóscopo de jornais de meses passados e aprendendo como fazer artesanato ou qualquer tipo de comida granfina e esquisita em programas de TV ruins com papagaios que falam. O café gelado na caneca agora acumula formigas e a cerveja da madrugada ali na mesa já parece um chá quente.
Choveu ontem o dia todo. Têm chovido muito em São Paulo. Eu tenho a mania idiota de acreditar que quando chove é culpa sua, ou minha por não conseguir chorar, sabe? Uma teoria maluca de que a chuva chora por mim. Acho isso. O vento que acompanha a chuva deixa a sala mais gelada que o comum. As paredes brancas parecem congelar o ambiente de tal forma. Um misto de frio, solidão e saudade. Um baque:  tudo de uma vez. Talvez nem seja mais saudade, talvez seja algum tipo de abstinência fodida inundando a casa, o corredor, a escadaria, a vizinhança, minha mente e eu. Mais eu que tudo. Pensando pelo lado sóbrio e realista de tudo isso, acho que me acostumei com tudo isso, entende? Com toda essa história de doer.
6h25. O tempo é rápido. O Sol ainda não nasceu. Eu acendo outro cigarro pra passar o tempo. Nada muda, nunca, nem vai mudar, eu sei. Meu sono é conturbado. Eu sempre acordo como se estivesse caindo. Você já teve essa sensação? De estar dormindo e sentir como se estivesse caindo... É isso que não me deixa dormir, a sensação de queda sem fim.
A canção que toca no rádio agora ecoa a sala, as escadarias, o elevador, a rua, o bairro, talvez a cidade inteira. Nossa canção. Malditas rádios populares, maldita música, maldita São Paulo, maldita você. A música acaba com meu resto de expectativa de viver bem sem você, a verdade é essa. Queria poder apagar você, passar por cima de você e dessa porcaria de história, de sentimento, diluir você, assim como a fumaça do cigarro se dilui ao vento gelado que passa e some. Queria te apagar...
Seu plano, de inicio, era sumir pra que eu te esquecesse? Sinto dizer que seu planinho babaca e medíocre falhou. Eu sinceramente gostaria de viver como se você nunca tivesse passado por aqui, como se eu nunca tivesse te conhecido, simplesmente ignorar sua existência ou nem ter noção dela, mas a cada hora que se passa nesse apartamento sem você é como se um punhal atravessasse minha alma, como se meu coração fosse dilacerado em todas as vezes que alguém cita você, pergunta como você está ou pergunta por que é que você foi embora. Sem você aqui não há luz, nem pra mim, nem pra minha cabeça. E pelo visto pra São Paulo também não... 6h40, o Sol ainda insiste em não nascer. Eu fiz o meu melhor, me desculpa se não foi o melhor pra você.


O amargo mais doce. O doce mais amargo.

És linda. Linda como a primavera em seus dias mais sublimes, cheira como tal, sorri como tal, anda como tal. É você, mulher dos olhos fascinantes, o motivo pelo qual escrevo agora e pelo qual sorrio esta noite.
Sabes que ainda sou capaz de me lembrar com perfeição de cada segundo da primeira vez que eu lhe vi? Sabes que poderia fazer com que eu te odiasse mais um milhão de vezes se tu quisesses? Mas que ainda assim, guria eu teria em mim plena certeza de que você poderia fazer parte da minha vida daqui até a eternidade. Pra toda uma vida, guria. E mais que essa vida. Pra além do que se possa imaginar, porque veja bem, o que seria de mim se tu nunca tivesses cruzado meu caminho naquele dois de junho, chuvoso e perfeito? Olhe só, guria, tu serias, facilmente, inspiração pra mais uma canção de amor, aquelas clichê, melosa, que dá vontade da gente sorrir quando se escuta nas rádios. Mas música é pra qualquer ouvido, qualquer coração. Essas palavras não! Essas são pra você. Cada letra aqui escrita é pra você. Cada sorriso e cada saudade hoje são dedicados à ti, que é o motivo de eu ir buscar chocolate enquanto chove, é o motivo de eu desejar que o dia tenha mais umas trinta horas só pra eu poder ter mais tempo pra falar contigo, pra me inspirar na sua presença leve, nesse teu sorriso bonito. Eu poderia te recitar mais um milhão de frases que se encaixariam em você, que me deixariam com mais saudade. E eu poderia escrever mais milhares de linhas, só pra te lembrar do quanto você é bonita. Por dentro, por fora. Quando sorri ou quando me olha. E tu me olhas tão pouco, guria, tão pouco, mas de tão filha da puta que tu és, logo consegue fazer de mim o que quiseres, consegue tirar de mim qualquer sorriso idiota, afastar qualquer lágrima que queira cair. Até quando eu não te vejo, quando a gente não se fala, tu continuas linda... Tens noção da quão linda és? Já disse inúmeras vezes, eu sei, mas tu tens noção de que seus olhos, maquiados ou não, atravessam a alma de qualquer um que ousa te fixar por mais de dois segundos? Você tem um dom natural de ser incrível, guria, de ser motivo pra palavras bonitas, pra olhares apaixonados e corações que desejam ter a sorte de estar ao seu lado. E é isso que me prende a você, que me faz querer sua companhia, mesmo que seja pra gente fumar um baseado e rir da vida. Tu tens o dom de me tirar do sério, verdade seja dita, mas mesmo assim eu ainda consigo te amar depois de tudo isso... Zebra, filha da puta!


Pluie.

Mais uma vez, de forma obsessiva e ridícula eu falo sobre isso. Vamos lá.
Chove lá fora. Chove muito. O frio é agressivo. Tudo é frio. O chão, a cama, o coração... Se nesse momento eu pudesse arrancar meu coração, lhe digo que provavelmente ele seria um bloco de gelo. A chuva é incessante, guria, chega a me dar uma agonia olhar. Talvez eu tenha chorado mais água do que toda essa chuva já choveu pra te falar a verdade.
O espelho do canto da sala agora me revela em uma imagem distorcida do que eu costumava ser, um rosto um pouco mais envelhecido, uma expressão cansada de quem não dorme já há algum tempo. Um cansaço físico e mental. Sou eu ali? – Me pergunto. – Quem mais poderia ser? Eu já nem me reconheço mais. No criado mudo ao lado da cama ficou o livro que você esqueceu – ou talvez tenha deixado de lembrança, não sei. – sua aliança, com meu nome gravado e não tem data... Você e essas suas manias de “data é coisa de gente que vive de passado.” e eu com o meu péssimo hábito de nunca lembrar. De qualquer forma, já fazia tanto tempo né. Tudo continua intacto. Exatamente da forma como você deixou. Nada realmente mudou, acho que em lugar nenhum. Continuo andando pelas mesmas calçadas e indo aos mesmos botecos que você odiava e algumas vezes até tomo sua cerveja preferida – que continua sendo horrível, diga-se de passagem – pra lembrar mais de você... Como se eu precisasse lembrar mais de você, eu já faço isso o tempo todo. Às vezes fico ensaiando diálogos que a gente bem provavelmente nunca vai ter. Meus amigos dizem que eu mudei muito desde que você se foi. Dizem que eu faço um puta drama digno de novela mexicana com tudo isso. Acho que eles querem dizer que toda minha parte boa era você. Talvez fosse. Talvez sua presença me tornasse um pouco mais doce, alguém que conseguisse enxergar o mundo com uma forma mais positiva ou coisa que o valha. Eu não se explicar.
E continua chovendo. Dentro e fora do apartamento. Talvez mais dentro do que fora. Talvez mais em mim do que qualquer outra nuvem. Eu sinto sua falta. Eu sinto falta até das tuas manias irritantes. E eu aposto que a cidade toda entraria em festa ao te ver cruzar todos os bairros até chegar à minha rua. Acho que até pararia de chover.
Acho.



Vazio.

Abro a porta. Entro em silêncio, jogo a chave em cima da mesa e me sento no sofá. Todos os dias têm sido assim: quietos.
As flores que ficavam na sacada morreram. Tuas flores... Aquelas que eu lhe dei ainda em botão no dia do seu aniversário. Eu nunca mais cuidei delas como você cuidava. E, aliás, eu nunca mais cuidei de mim também. O apartamento parece maior, mais cinza, mais frio e duas vezes mais vazio, tendo em vista que já nem eu mesma passo tanto tempo aqui dentro. É insuportável estar aqui, conviver com este vazio, há um vácuo, um espaço a ser preenchido, um ar sufocante que habita aqui dentro e convive comigo desde que você juntou suas coisas e saiu por aquela porta. Ando mais sem foco agora, sabe? Um pouco mais sem sal. Durmo menos, passo (quase) todas as madrugadas acordada me divertindo com amores de uma noite ou duas. Desde que você saiu eu já perdi a conta de quantas fotos suas ou nossas eu já rasguei, de quantas músicas eu tive que parar de ouvir só por me lembrar do seu sorriso. Eu já perdi as contas de quantas vezes eu tentei te apagar. É desesperador, guria. E de qualquer forma, eu nunca tenho sucesso nessas tentativas mesmo... 
As estrelas que brilham no escuro ainda estão lá coladas no teto, eu odiava, lembra? Mas resolvi manter da forma como você deixou, talvez numa esperança babaca de você voltar qualquer dia desses, e brigar comigo por tê-las tirado de lá. Eu ainda espero, mesmo sabendo que você não vai voltar. Meu casaco ainda carrega teu cheiro, meu coração ainda carrega você, minha mente carrega cada uma das lembranças. Ainda lembro exatamente da cantada barata que te dei no nosso primeiro encontro e do quão bonitinho você achou aquilo e do seu sorriso, segundos antes de me beijar.  Eu  lembro de tudo isso, todos os dias, ainda te procuro pelo apartamento ou pela (nossa) cama durante a madrugada. Há dias não vejo rostos conhecidos. Sinto-me sozinha. E toda noite é igual, minha menina. A solidão é um turbilhão de sentimentos ruins me puxando bem pro olho do furacão, pro centro do caos. Não há mais nenhum porto seguro aonde eu posso me esconder e não há mais como me agarrar. E nós? Já nem somos mais “nós”.
Te liguei algumas vezes durante a semana, achei que você pudesse me atender, talvez conversar comigo ao menos por alguns segundos; Não por nada, é que você costumava ser minha melhor amiga e de vez em quando eu sinto saudade das suas broncas, dos teus conselhos. E acho que me adaptei a falar com secretária eletrônica. Já não há mais o que possa ser feito. E então, desisto, acendo um cigarro, coloco mais uma dose de uísque no copo e ligo pra um número qualquer, só pra ouvir alguma voz e enganar minha solidão. O vazio continua aqui dentro.



Pandas não fodem com ursos polares.

E depois de tudo, pequena, ainda te enxergo como minha, meu panda, minha princesa.
Mesmo que nosso final feliz ainda não tenha acontecido, mesmo que em algum momento dessa história eu tenha simplesmente deixado de acreditar em finais felizes, você ainda é minha princesinha e eu te amo, te amo com todo um coração, toda uma alma. Te amo por milhares de coisas, te amo por milhões de motivos. Eu só deixaria de te amar se meu coração, por um acaso, deixasse de bater, e ainda assim acho que te amaria por outras vidas inteiras.
E essa história ainda é sobre eu e você.
Nessa história, flor, seu sorriso ainda é o meu favorito e seus olhares ainda me guiam por entre lugares escuros. Nessa história, na nossa história, flor, meu coração ainda busca o encontro concreto e carnal com o teu, e eu ainda luto contra dragões, bruxas e feiticeiros pelo teu amor, pela tua presença. Eu nunca deixaria de lutar, não por você. De alguma forma, flor, eu faria qualquer coisa pra te ter aqui. Se fosse necessário, eu te daria meu coração, caso o seu parasse de bater. Por você eu enfrentaria qualquer perigo, eu subiria em qualquer torre, correria qualquer risco, mataria qualquer dragão. E eu sei que valeria à pena, por você qualquer coisa vale a pena. Eu nunca deixei de lutar, flor, mas hoje travo uma luta silenciosa. Mas ainda te busco, ainda que não pareça, pequena, eu luto por você.
Te amo. Te quero. Te espero.
E se ainda existem contos de fadas e finais felizes, flor, eu gostaria que o meu fosse com você.



Abeille - Parte Dois.

Eu me casaria com você. Assim mesmo, sem nem precisar pensar um dia ou dois, não tem o que pensar. Eu me casaria com você amanhã de manhã se tu quisesses. Sinto-me como se eu pudesse passar o resto da minha vida te olhando e decorando cada um dos teus sorrisos, experimentando cada um dos seus beijos, vestindo cada um dos teus abraços, te abraçando todas as noites, sorrindo pra ti em cada uma das suas manhas e manhãs, te fazendo sorrir todas as vezes que você sentisse vontade de chorar ou ficasse triste. Eu seria feliz por estar com você, por ser sua. E eu lutaria cada único dia pra te fazer sorrir por mim, pensar em mim e ser feliz por estar comigo. Conquistaria-te um milhão de vezes ao dia se fosse necessário e você me permitisse e, claro, me apaixonaria duas vezes mais por ti a cada dia também, tu nem precisaria de muito esforço, pra ser sincera basta eu me lembrar de como tu fica exageradamente linda quando sorri e eu já seria um pouco mais sua. Totalmente sua. Insuportavelmente sua. Eu mudaria qualquer coisa no Universo só pra te ver sorrir. Tu me complica, faz com que eu me perca nas próprias palavras, me desconcentra, me faz tremer. Sendo clara: Você me fode.
Mas é, voltando ao contexto, verdade seja dita. Eu passaria uma vida toda ao teu lado. Nós teríamos uma casa amarela (só porque eu sempre quis uma casa amarela), e tudo bem garota, por ti eu moraria na praia ou em qualquer outro lugar do planeta onde teu coração me desse abrigo e teu abraço fosse minha morada. Eu levaria minha cachorra, e tu levarias tua gata. Elas se dariam bem, eu acho. Tão bem quanto a gente (?) (Mesmo que metade do nosso tempo a gente esteja praticamente em plena terceira guerra mundial...), nós iríamos à praia aos fins de semana, iríamos ao cinema às segundas, às quintas eu te levaria pra jantar no teu restaurante favorito, às sextas a gente juntaria todos nossos melhores amigos pra tomar cerveja ou qualquer outra coisa, aos sábados a noite comeríamos pizza com a minha mãe e aos domingos eu iria almoçar com a sua, juntaríamos todo mundo nos aniversários ou finais de ano, viajaríamos nos feriados e iríamos pra um lugar onde não tivesse nenhum tipo de contato com o mundo externo ou senão a gente só desligaria o telefone por uns três dias e juro garota, eu não te deixaria sair do quarto. Faríamos planos. Depois de alguns anos e muitos planos, nós teríamos uma filha correndo o tempo todo no quintal (preciso dizer que com certeza tu vai ser a mulher mais linda e chata de todo o mundo quando ficar grávida) ela se chamaria Valentina, até porque esse é o único nome que ambas as partes estaríamos de acordo, e ela seria a sua  cara, linda assim que nem você, com o teu olhar e meu jeito leve e despreocupado de levar a vida, tu iria se estressar com as artes dela e colocaria a culpa em mim. Eu iria rir, é claro. Eu levaria vocês duas pra ver o pôr do Sol no mínimo duas vezes por semana, e encheria uma casa inteira com imagens estampando minha felicidade por ser você, por estar com você, por ser sua. Insuportavelmente sua. Por ter total direito de dizer que tu és a eleita do meu coração. Pra sempre.
Tá. Agora voltando pra realidade, eu continuo aqui fazendo planos. Pouca idade e eu já consigo imaginar nós duas velhinhas juntas. Eu atravessaria qualquer eternidade do seu lado, sabia? Eu sou apaixonada por cada único detalhe de você, pelo jeito como você anda, sorri, me olha, respira e existe, e veja só, eu me apaixonaria por você, mesmo que você nunca se apaixonasse por mim de volta. Mas eu vou sorrir muito se tu terminar de ler isso agora e me procurar só pra dizer que me ama, nessa noite fria de sexta ou em qualquer outro dia da sua vida.


Julia.

A Julia foi uma mulher bonita que eu tive o imenso prazer em conhecer, extremamente bonita eu diria. Ela tinha aqueles lábios gostosos e também unhas em um tom charmoso de vermelho, meu vermelho favorito em unha de mulher. Vermelho me atrai. Não sei explicar. Tão vermelho quanto o sangue que corre nas minhas veias, pulsando em tom gritante no efeito da adrenalina que essa mulher me causa no seu simples "oi”. Tá... É exagero meu dizer que meu sangue pulsa assim só pelo oi, verdade, mas ela também não precisa de muito mais que um oi pra me ganhar. E acho que vou me resumir a isto, até porque se eu a elogiasse muito daria a entender que eu tenho por ela qualquer um desses sentimentos bonitinhos que estampam os canais de TV em horário nobre. Nós poderíamos. Mas eu acredito que somos muito mais que todo esse glamour do horário nobre, nós somos sujas demais para o horário nobre, um casinho secreto apelidado carinhosamente de “foda-me, se for capaz”. E por mais incrível que possa parecer, ela sempre consegue. Essa mulher tem atrelado a ela um charme só no jeito que ela te olha, ela faz com que você perca completamente a noção de espaço, porque bom mesmo é só quando se está perto dela, e ela faz isso só direcionando pra ti um sorriso educado. Ela é o pior tipo de mulher, meu caro. O pior tipo... Ela é a encarnação de todo e qualquer tipo de excitação que você já teve, pacote de tesão e os caralho a4 tudo junto. Filha da puta, maldita, gostosa pra caralho e linda. O melhor tipo de mulher já colocada na terra, daquelas que te fazem perder o rumo de casa em quinze minutos de conversa boba, um tom de voz hipnótico Joga um charme, e faz com que você praticamente implore pelo corpo dela na sua cama, na manhã seguinte. E o corpo dela... O corpo dessa mulher é pura poesia, pura MPB, Bossa Nova, pura delícia... Nem Chico, nem Vinicius e muito menos Caetano imaginariam tamanha beleza e delícia pra musicar cada curva do corpo dessa mulher. Melhor que qualquer Garota de Ipanema. Ela é única. Do pior tipo. Do tipo que você sabe que não vai ter segunda chance, não vai te dar nenhum cupom de replay, se você não for boa o suficiente pra essa mulher ela não vai dar nem um tchau. Sua cama não é o lar dessa mulher, então, esqueça qualquer projeto de juntar sua escova de dente com a dela. Ela é um espírito livre, indomável... Filha da puta.
Ela conhece melhor do que ninguém seu potencial pra me fazer querer arrancar sua vestimenta em qualquer lugar, em qualquer ocasião. Se eu fosse qualquer outro tipo de pessoa me jogaria aos pés dela, rezaria um terço, até dois, só pra ter ela comigo. Iria me deprimir por saber que não é só meu corpo que ela visita... Mas ela sabe que eu a conheço muito bem, muito melhor que qualquer outra iludida por ela, ela sabe o quanto eu conheço aquele corpo dos pés a cabeça, passando até pela pinta em formato de coração que ela tem na virilha, coisa bem linda de ver.
É isso que me atrai nela, não só a forma como ela delineia os olhos, o vermelho das unhas, ou usa aquele vestidinho filho da puta - que eu amo - quando sai comigo e faz isso somente pra me atrair, eu a conheço como ninguém, é a forma como a gente se olha, é o jeitinho sacana que ela tem de morder os lábios ou falar "vamo foder?" nas entrelinhas sem que ninguém perceba, é o jeito que eu tenho de borrar aquele batom vermelho propositalmente e logo em seguida assistir ela saindo do quarto enquanto arruma o vestido e retoca a maquiagem. "Vagabunda do caralho, como eu te amo." - me beija e volta pra festa.
Não importa com quantos corpos ela se deite porque ela carrega pra cada cama um pouco do meu perfume, em cada boca que beija ela saliva um pouco do meu gosto, a cada novo toque, novo sorriso, novo quase namoradinho ou namoradinha, ela mastiga um pouco de mim, só não engole porque a gente se atrai como dois animais no cio. E ela é submissa a mim, mas devo admitir que essa submissão só se dá na cama, no chão, no carro, na casinha do guardinha da rua dela, enquanto o cara sai pra fazer uma ronda... O que me atrai é a forma como ela é suja, como me suja, como me toca, como se toca, a forma como eu puxo os cabelos dela com ela de quatro na minha cama, como rebola pós tapa no rabo, como pede um tapa na cara, como me beija e me molha e me seca usando o mesmo beijo que desliza da minha boca até minha buceta sem desgrudar a boca de mim, como olha dentro dos meus olhos mesmo que não me enxergue, como eu lhe devoro e ela gosta.
Eu amo...Deixei claro?


caseum

E as verdades ficam ali, reservadas... Em algum lugar entre a garganta e o estômago, apodrecendo ao lado de todas as coisas que talvez deveriam ser ditas e nunca foram.
Talvez por nunca encontrar o momento propício pra dizer, talvez por simplesmente não se sentir a vontade o suficiente.
E tudo bem. Não causa mal nenhum à ninguém, só é de certo incômodo... Você não deixa aquilo descer, mas também não cospe. Fica com aquela coisa ali, na boca, nos lábios, em cada término de cada beijo...
No fim, o beijo dela é doce, mas só eu sei o sabor amargo que isso tem.



quinta-feira, 22 de maio de 2014

doux problème

Te escrevi a mensagem mais bonita que eu já poderia ter escrito a alguém.
Te imaginei sorrindo ao ler, talvez até feliz por eu ter me lembrado do nosso quase amor, do nosso quase relacionamento eterno que não durou sequer um dos anos da eternidade que planejamos. Se você realmente quer saber, guria, na mensagem lhe agradeci pela pessoa dedicada que você foi. Agradeci aos teus beijos, agradeci a cada segundo de sua companhia, aos seus olhares sempre tão apaixonados e carinhosos, aos teus abraços sempre calorosos e aconchegantes, à toda paciência pra minha birra infantil em pleno vinte e oito anos, por você ser você. Eu ia dizer também que senti saudade, e lhe digo guria, que nem eu sabia onde queria chegar com essa mensagem. Cada palavra teve um propósito que nem eu mesma conheço. Talvez queria lhe ver terminando esse novo relacionamento e adentrando meu condomínio, correndo, com o coração tão ansioso quanto o meu. Com o olhos me buscando e o seu abraço me caçando. Talvez eu quisesse receber uma ligação que me fizesse notar que ainda mexo com você. Acho que escrevi esta mensagem pela saudade que senti da conveniência que você me trouxe, guria. Foi um misto de sentimentos mesquinhos com saudade. Mais sentimento mesquinho do que saudade pra ser sincera.

Repenso.

Seu olhar, aquele que tu me dava antes da gente dormir, foi o mais lindo que já vi nos últimos vinte e oito anos. E provavelmente ainda vai ser meu preferido daqui a cem.
Você foi especial, meu quase amor.
Mas passou.
Passou e passou por cima de qualquer outra coisa que estava no caminho.
Passou porque você não quis ficar e passou.
Passou por aqui deixando apenas sentimentos bons.
Nada de ressentimentos, mas o problema é justamente esse, guria, você passou. E se foi. Hoje tu brilha sem mim. Distante, única e soberana no céu de alguém. Juro que teria sido estrela única do meu céu, se eu tivesse me dado tempo o suficiente pra entender que esse sentimento era o suficiente. Se eu tivesse me dado tempo pr'eu perder meu tempo me emaranhando nos teus cabelos, nos teus lençóis, nos teus milhares de sorrisos, gestos e expressões, ganhando tempo pra eternidade.
Mas não deu. Tu passou.

Penso. Repenso. Penso.

E acabo lhe deixando apenas esse pensamento e nenhuma outra palavra. Nenhuma mensagem. Nenhum sinal. Mas juro, meu quase amor, eu estou bem. Só acabei caindo no meu velho pensamento quadrado e desencorajado de "não... melhor não mandar, melhor nem tentar". Apago a mensagem, teu número e quero lhe fazer pensar que você foi apagada junto. Deixa que é melhor. Coloco elas em algum lugar deste caminho, rezando pra você não acabar encontrando algum dia.