Tudo à minha volta rodava um pouco Era sei lá, duas horas da madrugada de um sábado frio. Mais uma vez essa história de contar a memória do que acontece com duas mulheres dispostas e no cio. Nós duas, sempre, a cara de sem vergonha que ela tem, e a minha zero consciência e noção quebrando promessas que só existiram por alguns meses. A gente é farinha do mesmo a vácuo, no fundo, somos iguais. A gente se merece... a gente só não se reserva.
E é importante destacar que quando se trata dela, tudo me atinge de um jeito impulsivo mesmo, meio na pressa, na vontade, na loucura, na sorte... Sempre assim. Na oportunidade mais oportuna. Fazendo umas loucuras cada vez mais loucas e absurdas que quase beiram o arrependimento depois. Ainda bem que je ne regrette rien.
É que no fundo acho que gostamos de descobrir o que cada encontro nos reserva, cada vez que nos encontramos é como entender e aceitar que a sorte atravessou nosso caminho.
E posso falar?
Queria explicar a sensação deliciosa que é essa mulher desfilando quase nua sob o meu olhar por aquele apartamento branco do nono andar. Ela colore meus pensamentos e diverte o meu paladar.
Nada muda e possivelmente nunca vai mudar.
Nada NUNCA muda por aqui, entende? Quando se trata dela, o amor é infinito, intenso, único, real.
Eu vivo a minha vida e experimento outros lábios noites afora, mas tudo aqui dentro continua igual. Revirado e intacto. Bagunçado e ainda assim, bonito. E eu já nem posso ficar loucona, fumar maconha, tomar doses e mais doses daquele vinho barato, dropar um quadrado. Porque quando eu fico loucona eu acabo espalhando meu amor por toda sua cama, assistindo de camarote ela me comendo com ciúmes à flor da pele, estampado no olhar, mas ainda assim jurando que me ama. Fala que eu tô com o cheiro "daquela filha da puta", mas a filha da puta dessa história sou eu, assumo essa culpa. Sempre foi, eu sei.
Enfim.
Enfim.
Enfim.
Essa mulher fica cada vez mais linda, ano após ano. É foda. E perigoso pro meu ego.
Mas... lá estávamos nós, conversas animadas sobre tudo um pouco, playlists escolhidas pra nos deixar com vontade de fazer tudo que foi gostoso de novo. Um baseado, um vinho barato e o vento forte invadindo a sala, levando embora a fumaça da maconha, os problemas, as mágoas. Ela diz que agora tudo são águas passadas, então pra hoje eu nem quero mais nada, aliás eu nem preciso de mais nada. Eu entendi que aquele sentimento ruim que eu deixo ir não me visita mais.
Então assim eu tenho paz, ela no alcance do meu tato, a cabeça cheia de vinho com maconha, um corpo cheio de digitais e saliva dela, fazendo eu me esquecer das nossas despedidas cheias de amor, de tudo o que passou porque nós sempre teremos a sorte de um reencontro cheio de saudades.
