O meu próprio interior
Sempre me aventurando
Em mim
Às vezes eu acho que não há mais nada que eu possa fazer pra reverter a realidade em que viramos apenas duas estranhas, mas com o benefício de se encontrar com uma frequência frenética e transar com uma intimidade que é capaz de nos engolir, de nos fazer largar tudo que tem pra ser feito no dia e matar o tempo trepando lento. Eu já disse que eu acho que talvez a cada vez que ela transa comigo ela transa com alguém diferente, hoje eu transo com uma mulher que me procura, me convida, mas eu sinto ausente, distante de mim, fora da minha realidade.
Mesmo que ela não faça parte do meu presente de forma constante, não há um dia sequer que eu não me lembre das horas vividas, das drogas divididas, dos orgasmos compartilhados, dos segredos contados, da convivência. De tudo, tudo mesmo. E quando eu ameaço esquecer, eu vejo a mancha de vinho naquela minha polo branca. E lembro de tudo de novo.
E volto a sentir saudades.
Por que será que ser humano não é capaz de esquecer o que machuca, o que magoa, o que faz falta?
Por que será que não somos capazes de simplesmente deixar pra lá, seguir a vida?
Pra que tanta saudade?
De onde vem a saudade?
Ela diz que eu não presto, eu digo que ela não vale nada. E a gente vai seguindo assim... Como se um dia desses, magicamente, a gente vá esquecer de tudo, inclusive de nós, se esquecer como se tudo isso não tivesse passado de um surto. Ou sei lá, será que vamos empurrando isso até dar certo? Eu sei que a segunda opção é a mais improvável. O que nasceu com o errado escrito na testa não tem a menor chance de virar coisa certa, por mais que a gente queira ou tente muito.
Entende?
Mais uma vez eu no nono andar.
Já antecipo aqui - na segunda linha - que nesse texto não há nada de diferente dos centenas de outros que eu já escrevi pra ela, pra mim, uma carta pra ninguém. Não importa. Nada de novo acontece aqui, chega a ser chato até.
Eu já nem sei porque ainda escrevo, porque sinto, porque continuo insistindo nisso, nela, em nós - apesar de todos esses nós que nos prendem coisa e tal. Eu acho que escrevo pra apagar ou suprir uma necessidade subconsciente de me sentir parte de alguma coisa, de um amor, de uma saudade, de um momento congelado no tempo, que eu mesma congelei aliás. Escrevo pra me sentir viva, pra sentir o impulso do que ainda me faz pulsar. E vou me eternizando em letrinhas que transcendem minhas vontades e decepções, e essas linhas mesmo que se tornem inúteis, serão sempre minhas. Ela também se eterniza, em mim, nas minhas palavras, deita e rola nas minhas linhas, mas segue com o devido e merecido anonimato.
É sobre isso, eu acho.
E é incrível o poder que ela tem de me fazer querer depositar todas minhas palavras de amor ao pé de seu ouvido, e me deixar em frente à uma tela branca somente com esse mimimi todo de saudade. Sina de poeta é morrer de amor, eu sei, mas recuso... Nem poeta eu sou!
Sri lá.
Queria não pensar tanto nisso, mas eu penso muito ainda, muito, muito.
Enfim.
Dormi com ela numa noite quente e acordamos numa manhã gélida. Acordei mais cedo e passei o café, bolei um baseado, esperei quieta até que ela acordasse e ditasse o clima.
Estranhei que ela acordou em tranquila, fazia uns três meses que eu não a via, ou mais, eu macetei ela a noite toda e talvez isso nos tenha trazido alguma paz. O olhar dela me desarma, me sinto até mais calma e olha que meu apelido é Taz. A paz que eu busco, talvez, seja mesmo ela nua.
Vai saber.
Pensei em correr pra tirar uma foto da gente ali, uma moldura inanimada, que nos conserve sorridentes, em plena paz, sem guerras matinais conosco ainda de pijama, sem a gente negar que se ama, nada.
Quis guardar esse momento de paz pra eternidade porque nós sabemos o quanto isso é impossível, nesta realidade. É isto.